Investida de Cunha tumultua Comissão do Orçamento
Cunha trabalha para eleger no posto o deputado Arthur Lira (PP-AL), que comandou, por indicação dele, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no ano passado
Afastado da presidência e do mandato parlamentar, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ainda tem poder para tumultuar o Congresso Nacional. Nesta terça-feira, a principal comissão do Parlamento – a de Orçamento, que reúne deputados e senadores – ficou novamente sem definir seu presidente por causa de uma investida de Cunha, que tenta emplacar um aliado no colegiado responsável por tratar das principais questões financeiras que opõem o Congresso ao governo federal, como a liberação de emendas e a discussão de contas presidenciais.
Cunha trabalha para eleger no posto o deputado Arthur Lira (PP-AL), que comandou, por indicação dele, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no ano passado. Lira é investigado na Operação Lava Jato. Ele foi citado por três delatores: o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o empreiteiro Ricardo Pessoa. De acordo com Youssef, Arthur Lira teve uma dívida de 200.000 reais paga através do esquema. Em fevereiro deste ano, o deputado do PP teve seus bens sequestrados até a quantia de 2,6 milhões de reais.
Lira disputa a vaga com o deputado Sérgio Souza (PMDB-PR), indicado pelo líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ). O entendimento inicial era de que não caberia eleições e que o PMDB, por ser o maior partido do maior bloco durante a eleição à presidência, em 2015, teria direito de sugerir um nome para o posto. Essa posição foi reiterada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no mês passado, e ratificada pela Câmara. O PP, por outro lado, argumenta que integrava o maior bloco em fevereiro deste ano, quando foi discutido o espaço de cada partido no colegiado. O deputado Milton Monti (PR-SP) também pleiteia o posto, mas deu indicações de que pode desistir da disputa para apoiar Lira.
Em busca de um acordo, a sessão desta tarde foi suspensa para uma reunião entre os candidatos. Sem ninguém disposto a ceder, a sessão acabou encerrada e remarcada para a próxima terça-feira. “O PP está aceitando acordo do grupo do Eduardo Cunha, que é o mesmo grupo do centrão que trabalha com a nomeação de ministros para o governo de Michel Temer”, diz um deputado, sob anonimato.
Entre as principais atribuições deste ano, a Comissão Mista de Orçamento deve deliberar as contas da presidente Dilma Rousseff de 2014 e de 2015. Irregularidades nas contas da petista já foram apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e embasam o seu pedido de impeachment.
Ao site de VEJA, o deputado Arthur Lira negou qualquer ação de Cunha na sua disputa à CMO. “Sou amigo do Cunha. Não sou submisso nem empregado dele”, disse. Ele reforçou que o peemedebista está “afastado do jogo” e atualmente não tem influência na Câmara.