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Ciro Gomes, sobre Haddad: ‘O Brasil não aguenta outra Dilma’

Em sabatina do jornal 'O Globo', candidato do PDT disse também que sairá da política se Bolsonaro for eleito e criticou a postura do juiz Sergio Moro

Por Da Redação Atualizado em 12 set 2018, 17h50 - Publicado em 12 set 2018, 15h47

O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, disse nesta quarta-feira que o presidenciável do PT, Fernando Haddad, se eleito, será “presidente por procuração de Lula”. O político também comparou a “inexperiência” do ex-prefeito de São Paulo com a da ex-presidente Dilma Rousseff e afirmou: “O Brasil não aguenta outra Dilma”. As declarações foram dadas em uma sabatina do jornal O Globo.

Ciro criticou o PT por só ter anunciado Haddad no lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira, o que ele classificou como “desatino”. O pedetista afirmou ainda que o partido “só pensa em si, não no Brasil”.

Ao comentar o convite que recebeu do PT para ser vice de Lula quando a candidatura do petista foi posta em xeque pela Lei de Ficha Limpa, Ciro disse: “Veio Dilma, Roberto Requião, intermediando essa conversa. O Brasil não precisa de presidente por procuração. Sou amigo de trinta anos do Lula, estive na luta contra o impeachment, dois terços dos votos do Ceará foram contra, fui ministro dele. Mas o Brasil não aguenta outra Dilma”, afirmou.

Ciro Gomes declarou ainda que Haddad não tem estofo para ocupar o Planalto por não conhecer o Brasil. “Haddad, não por demérito dele, não conhece o Brasil, não tem experiência. Até ele saber onde fica a cabeça do cachorro, o Vale do Jequitinhonha, o Alto Solimões… Fica difícil. Minha crítica é a essa dinâmica, que se aproveita dessa generosa gratidão pela obra do Lula que o povo tem, para de repente você agora nomear uma pessoa. A gente já viu esse filme”, disse.

Para Ciro, o PT põe seus interesses acima das questões nacionais e “manipulou a inteligência do povo” ao manter a candidatura do ex-presidente até o último momento.

“O brasileiro tem que separar o justo interesse do PT e o interesse nacional, visto pelo ângulo mais progressista, solidário ao pobre, (que pensa nas) questões do petróleo, Eletrobras, que estarão em jogo no voto agora. O PT muitas vezes dá demonstração de que só pensa em si. Neste caso, é flagrante isso. Todos eles sabiam que Lula não poderia ser presidente. Em vez de respeitar a inteligência do povo, manipularam”, acusou.

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Ao comentar as pesquisas eleitorais, que o colocam em segundo lugar nas intenções de voto, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), Ciro  Gomes disse que “ninguém acreditava” que seu desempenho seria bom. Sobre um possível acordo com o PT em um segundo turno contra Bolsonaro, ele afirmou que seu “inimigo” não é o partido de Fernando Haddad.

“Meu inimigo é o projeto (Michel) Temer, que é replicado pelo PSDB e pelo Bolsonaro, um projeto antipobre. Meu problema com o PT é o risco com que tem exposto o país de dançar à beira do abismo”, disse, referindo-se à demora no anúncio de Haddad no lugar do ex-presidente Lula, preso pela Lava Jato.

Bolsonaro

O pedetista disse ainda que, em caso de eleição de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto, ele sairá da política e não integrará oposição a ele. “[Se Bolsonaro ganhar] Eu vou desejar boa sorte a ele, cumprimentá-lo pelo privilégio e depois eu vou chorar com a minha mãe. Eu saio da política. A minha razão de estar na política é amor, paixão, confiança. Se nosso povo por maioria não corresponder, vou chorar”, brincou.

Banco Central, STF e reeleição

Durante a sabatina, Ciro foi questionado pelos jornalistas sobre a autonomia do Banco Central em um possível governo seu e disse que, se for eleito, terá o BC “subordinado” a ele.

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Sobre a indicação de ministros ao Supremo Tribunal Federal (STF), Ciro criticou a escolha de Alexandre de Mores, Gilmar Mendes e Dias Toffoli, e afirmou que, se for eleito, só escolherá nomes que nunca tiveram envolvimento político-partidário. O próximo presidente indicará, pelo menos dois novos ministros do STF, já que Celso de Mello e Marco Aurélio Mello se aposentarão em 2020 e 2021, respectivamente, ao completarem 75 anos.

Indagado sobre se tentaria a reeleição caso chegue à Presidência, Ciro Gomes classificou a busca por um novo mandato como uma “impertinência”, mas disse que ainda vai avaliar se pode pedir a revogação da lei, que envolve também governos estaduais e municipais.

“Vou pensar se serei candidato à reeleição. Acho que (a reeleição) é uma impertinência que se produziu. Não sei se tenho o direito de propor o fim, mas eu preferiria eleger um sucessor”, explicou, ironizando o fato de a adversária Marina Silva ter prometido acabar com a reeleição. “Marina o fez porque não conhece bem como funciona a verdade da política no Brasil”, disparou.

General Villas Bôas

Ciro disse também que em seu governo o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, teria sido demitido por sua fala pública sobre a instabilidade política no Brasil, e “provavelmente pegaria uma cana”.

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Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada no domingo 9, Villas Bôas afirmou que “a legitimidade do novo governo pode até ser questionada” e que o ataque ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, na quinta-feira 6, “materializa” seu temor de que a intolerância e a polarização na sociedade afetem a governabilidade.

“No meu governo, militar não fala em política. Se fosse no meu governo, ele estaria demitido e provavelmente pagaria uma cana. Eu conheço bem o general Villas Bôas. Ele está fazendo isso para tentar calar as vozes das cadelas no cio que estão se animando, o lado fascista da sociedade brasileira”, afirmou.

O presidenciável ainda classificou o general Hamilton Mourão, candidato a vice de Bolsonaro, como um “jumento de carga”. “O general Mourão é um jumento de carga, que tem entrada no Exército. Quem manda nesse país é nosso povo. Tutela, sargentão dizendo que vai fazer isso e aquilo, comigo não acontecerá. Sob a ordem da Constituição, eu mando e eles obedecem. Quero as Força Armadas poderosas, modernas, altivas. Não quero envolvidas no enfrentamento do narcotráfico, isso é papo de americano”, disse o pedetista.

Sergio Moro

Na sabatina no jornal O Globo, o candidato do PDT criticou a postura de juízes, como Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba. “Não tem um debate no estrangeiro em que eu não encontre um desses aí. Não sei a que horas julgam. Tem cochicho no ouvido do Aécio (Neves)… Não sei se é porque estou velho, mas no meu tempo, juiz não ia nem para o bar. Ele não pode se dar a esse desfrute. Um juiz singular vai ter chibata moral da República? Essas coisas têm que ser sóbrias”, declarou.

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Ele classificou como “constrangedoras” as ações da Lava Jato e outras investigações sobre candidatos perto das eleições. “O objetivo da Lava Jato é passar para a sociedade brasileira que a impunidade não é mais um prêmio do bandido de alto coturno. Agora, causa constrangimento fazer isso agora. O Beto Richa [ex-governador do Paraná e candidato ao Senado, preso ontem]… Isso tudo é muito estranho”, disse.

Apesar das críticas, Ciro Gomes reafirmou seu posicionamento contra a corrupção. “No meu governo, se eu não roubo, não rouba ninguém para baixo”, disse.

(com Estadão Conteúdo)

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