Em meio a um jogo de empurra estabelecido em busca dos responsáveis pelos atos de vandalismo do dia 8 de janeiro, lideranças governistas têm descartado, desde já, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar o protesto. A comissão, originalmente, teria o objetivo de investigar os manifestantes que invadiram e depredaram as sedes dos três poderes, mas certamente seria inevitável que o colegiado também fosse pressionado a apontar os culpados pelas falhas e omissões no esquema de segurança.
Conforme mostra reportagem de VEJA desta semana, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão vinculado à Presidência da República, emitiu uma série de ordens no sentido de liberar a tropa no dia do protesto. No momento da invasão ao Palácio do Planalto, havia sido chamado – e de última hora – apenas um pelotão de 35 militares.
O próprio presidente Lula admitiu ser contra a criação da CPI. Segundo ele, há outros instrumentos para apurar o vandalismo, e a comissão poderia acabar gerando uma “confusão tremenda”. Tradicionalmente, as comissões de inquérito são instrumentos da minoria parlamentar – ou seja, a oposição, e costumam trazer dor de cabeça ao governo.
Além disso, nos bastidores, parlamentares aliados do petista ressaltam um outro argumento para quererem evitar uma CPI: com poder investigatório, quem chamaria um militar da ativa a depor no colegiado? “Quem vai convocar um general?”, disse uma importante liderança governista, que emendou: “Você acha que os genereais vão depor?”. Entre os militares passíveis de serem chamados a dar explicações estariam desde os responsáveis por manter os acampamentos em frente a quarteis desde os que atuaram no dia dos protestos.
A fala não é por acaso. Durante a CPI da Covid, em 2021, houve uma mobilização de militares e aliados do governo para barrar a convocação do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e responsável por coordenar um comitê de crise da pandemia. À época, uma ameaça foi enviada à comissão: “Quem vai ao Planalto levar um militar à força?”, questionou um aliado de Braga Netto a um membro do colegiado.
Além disso, a convocação do general Eduardo Pazuello, que acabou aprovada, teve antes de ser submetida à Secretaria-Geral do Exército. Uma saída “pacífica” estudada prevê a criação de uma comissão externa, destinada mais a acompanhar as investigações já em andamento do que criar uma apuração parlamentar própria.