“Não sei explicar por que essas duas comunidades ficaram de fora da ocupação”, disse o general Adriano
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Desde a noite do último domingo, o Exército é a vidraça do processo de pacificação de favelas no Rio de Janeiro. Um tumulto envolvendo militares e moradores de uma parte da favela rendeu manchetes negativas para o governo do estado e deixou a impressão de que as Forças Armadas não tinham o controle da situação. Na tarde desta quarta-feira, pouco depois do fim do desfile de 7 de setembro, o general Adriano Pereira Júnior, comandante militar do Leste, apresentou a versão oficial do ocorrido. Sem querer – ou não tão por acaso como se pode supor – deu também detalhes importantes que o governo do estado não admitia até então, ou simplesmente omitia.
O oficial afirmou que a tropa foi surpreendida pelos tiros da noite de terça-feira. Mas evitou que o Exército entrasse para a história como um grupo despreparado. O fogo pesado partiu dos morros do Adeus e da Baiana. “Não sei explicar por que essas duas comunidades ficaram de fora da ocupação”, disse o general Adriano. A prova de que o lugar precisava estar ocupado foi a reação na manhã desta quarta-feira: a Polícia Militar ocupou as duas favelas por tempo indeterminado.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, sentado ao lado do general, disse acreditar que “um grupo pequeno” de traficantes tenha entrado pela Vila Cruzeiro. Devolveu, assim, a bola para o Exército, que ocupa o Complexo da Penha. Novamente, o oficial pôs o pé no chão. “Temos como impedir a entrada de armas e que elas causem danos. Mas não temos como impedir que um veículo entre com algum traficante”, explicou. Em síntese, para o Exército, há um trabalho de polícia fora do Alemão que precisa ser feito.
A prisão dos traficantes que fugiram do Complexo do Alemão é algo que ficou muito aquém do desejável. O primeiro chefão do tráfico foragido do conjunto de favelas a ser preso foi Lúcio Mauro Carneiro dos Passos, o ‘Biscoito’ da Mangueira. Ele foi capturado em 5 de agosto – a ocupação aconteceu em novembro de 2010.
O ocupante do posto mais alto das Forças Armadas no estado do Rio, do Espírito Santo e de Minas Gerais deu, de leve, um recado sobre o que pode e deve ser feito. “Tem um traficante que vai lá quase todas as noites. Quando olheiros percebem a patrulha, ele é avisado e não entra”, disse o general, citando, inclusive, o nome do bandido.
A tese do general para o aumento da tensão entre os criminosos e seus pares no Complexo do Alemão também põe sobre a Polícia Militar uma marca desagradável. Segundo o comandante militar do Leste, os criminosos já estavam preparados para a saída do Exército da favela, em outubro próximo. Mas, com o anúncio da prorrogação da ocupação pelas Forças Armadas, ficou mais difícil ensaiar uma retomada do movimento das bocas de fumo. “Eles teriam que adiar qualquer ação mais forte. É uma reação à presença do Exército”, afirmou, ao lado do comandante-geral da PM, como quem estabelece uma linha divisória para a volta do tráfico em larga escala.
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