A onda de invasões de terras no sul da Bahia tem gerado momentos de terror na região, de acordo com fazendeiros ouvidos por VEJA. Os ataques, segundo esses relatos, são realizados por indígenas armados de espingardas e revólveres. Desde outubro já foram contabilizados 26 casos.
O fazendeiro Napoleão Cerqueira diz que sua família permaneceu refém durante uma noite inteira, depois que suas terras foram “retomadas” por um grupo armado no município de Itamaraju. “Eles chegam atirando. Usam carabinas, pistolas e espingardas calibre 44. Nos mantiveram em cárcere privado, incluindo minha mãe, que é hipertensa. É um terror”, diz.
Depois das ameaças, os invasores, segundo ele, fizeram uma festa regada a cachaça e cocaína, mataram um boi e 20 galinhas, enquanto mantinham a família trancada em um cômodo da casa. Napoleão conta que chamou a polícia. Duas viaturas foram ao local, mas os PMs pediram desculpas porque não podiam fazer nada. Teriam recebido “ordens superiores” de não intervir.
O casal Armando Machado Fonseca e Rosilene Santos Sena Fonseca enfrentou situação similar no mesmo município. As terras deles foram invadidas por um bando armado. “Tenho uma filha de 6 anos de idade que está com síndrome do pânico. Ela repete a toda hora: ‘Mãezinha, os bandidos vêm nos matar?’ Eu e meu marido estamos doentes, este povo está comendo o juízo da gente”, diz Rosilene.
Os invasores, de acordo com o relato de Rosilene, queimaram o curral, colheram o cacau, retiraram 2.500 peças de madeira e agora estão alugando a pastagem. Ela diz que conseguiu na Justiça a reintegração de posse, mas a polícia não cumpre a ordem. “A juíza concluiu que aqui não é terra indígena, mas o governo da Bahia não manda a polícia lá”, afirma. A proprietária conta que está acampada debaixo de uma árvore há mais de 90 dias defendendo uma outra propriedade que tem com o marido na região e que, por isso, tem sofrido ameaças. O casal teve quatro vacas furtadas nessa outra propriedade.
O produtor rural Lorindo Wruck, 56 anos, narra que sua fazenda de 140 hectares está invadida desde 4 de janeiro. “Eu fui humilhado pelos invasores. Eles entraram na fazenda portando armas de fogo e mataram três vacas em 24 horas, comeram meu tanque de peixe e agora querem alugar meu pasto pra mim mesmo”, afirma Lorindo.
Há relatos de que os invasores chegam às propriedades em carros de luxo. Segundo o produtor Carlos Eduardo do Carmo Favarato, as pessoas que invadiram sua fazenda utilizavam caminhonetes Mitsubishi e Hilux. “Eles invadiram a área onde plantei café e pimenta. Para colher o café da minha fazenda, tenho que dar a metade da produção para os invasores”, diz Favarato.
O casal Adilson Braz Bossi e Hindianara Carneiro tiveram a Fazenda Nedila invadida no final de setembro do ano passado. “Os invasores nos proibiram de retirar 800 mil reais em insumos que estão no galpão, três tratores e motocicletas”, diz Hindianara. “Agora, fomos avisados que os índios contrataram uma ONG para vender nossos 250 hectares de café e pimenta”. acrescenta.
Procurada, a Secretaria de Segurança da Bahia não se manifestou sobre o caso.