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Espionagem escancara briga pelo comando da segurança

Enquanto Saulo de Castro luta para reassumir cadeira, delegados pedem exoneração de Antonio Ferreira Pinto; cúpula da segurança sofre mudanças

Por Carolina Freitas
16 mar 2011, 19h34

Nos últimos três dias ocorreu uma verdadeira dança das cadeiras na cúpula da segurança pública de São Paulo. A mudança que mais chamou atenção: o ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marco Antonio Desgualdo, foi afastado da direção do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A troca ocorreu uma semana após o surgimento de um vídeo, de um minuto e nove segundos, que escancarou a disputa de poder na área. Não pelo conteúdo, mas pela forma como foi vazado do circuito interno de um shopping da capital: por policias se fazendo passar por agentes em missão oficial. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual, abriram inquéritos para apurar quem ordenou a espionagem. E por que. As imagens são de um encontro entre o secretário da Segurança, Antonio Ferreira Pinto, e um jornalista da Folha de S.Paulo. Os responsáveis pelo vazamento, ao divulgarem o vídeo, associaram o encontro à uma reportagem publicada dias depois pelo jornal, uma denúncia contra o chefe de estatísticas da secretaria, Túlio Kahn – que acabou demitido pelo governador Geraldo Alckmin sob suspeita de vender informações sigilosas a empresas privadas. Em nota, a secretaria informou que Antonio Ferreira Pinto “entendeu necessário” o afastamento de Desgualdo do cargo de confiança que exercia “em razão das apurações preliminares apontarem seu envolvimento no episódio”. Após a saída de Desgualdo, caiu do comando do Departamento de Administração e Planejamento (DAP) da Polícia Civil o delegado Maurício Souza Blazek. Do Departamento de Identificação e Registros Diversos (Dird) saiu o delegado Élson Alexandre Sayão. Essas últimas duas mudanças, segundo a Polícia Civil, são meramente administrativas. Oposição – A briga na segurança paulista tem origem na atuação do secretário Ferreira Pinto contra a corrupção na polícia desde que assumiu a pasta, em março de 2009, ainda no governo de José Serra. Ferreira Pinto anexou a seu gabinete a corregedoria da polícia civil, demitiu 298 agentes e expulsou ou exonerou outros 324. Desde então, enfrenta dura oposição de setores da corporação, a ponto de o Sindicato dos Delegados do Estado (Sindpesp) ter protocolado, em 2 de março, um pedido de exoneração do secretário. Representantes do sindicato afirmam ter solicitado, por três vezes, audiência com o governador para reclamar do trabalho de Ferreira Pinto, sem antes pedir uma conversa com o secretário. Nenhum encontro foi agendado. “Ferreira Pinto é inábil”, argumenta o presidente do sindicato, George Melão. “Se há policiais envolvidos com escândalos, divulgam o nome e a imagem deles como se fosse o maior criminoso do mundo. A corregedoria exagera na dose.” Na visão dos delegados, o secretário “joga contra” a Polícia Civil, por ter carreira na Polícia Militar – em São Paulo, a animosidade entre as corporações levou a uma troca de agressões entre agentes das duas corporações, em outubro de 2008, nos arredores do Palácio dos Bandeirantes. Enquanto os militares protegiam o perímetro de segurança da sede do poder estadual, civis forçavam os bloqueios para marchar em protesto até o gabinete do governador. Ao menos 15 pessoas ficaram feridas. Candidato à sucessão – O embarque, em janeiro, de Saulo de Castro no primeiro escalão do governo estadual aprofundou o cisma na segurança pública. Saulo chefiou a pasta entre 2002 e 2006, durante o segundo governo de Alckmin. Encerrou sua atuação com o estado traumatizado após ataques da facção criminosa PCC, em maio de 2006. Na onda de violência, morreram 564 pessoas.

Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto
Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto (VEJA)

Saulo tem formação jurídica, atuou como corregedor-geral da administração estadual e como presidente da extinta Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem). De forma surpreendente, Alckmin o nomeou secretário dos Transportes em janeiro de 2010. A atitude foi vista por aliados de Ferreira Pinto como uma ameaça velada. Uma mudança na cúpula da segurança poderia vir a qualquer momento. A partir do ingresso de Saulo, passaram a emergir denúncias contra a secretaria, que culminaram com a espionagem no shopping. Antes disso, o vídeo de uma jovem escrivã sendo despida por policiais da corregedoria caiu na rede – dois anos após a filmagem. Acusada de esconder dinheiro de suborno na calcinha, a mulher foi algemada e teve a roupa tirada à força. Saulo não é unanimidade entre os opositores de Ferreira Pinto, mas goza de certo prestígio. “Doutor Saulo foi infinitamente melhor que Ferreira Pinto, o pior secretário de todos os tempos”, opina o delegado George Melão. “Ele sempre deu uma grande força para as duas polícias. Quando havia acertos, ele elogiava.” Em nota, a Secretaria de Segurança associou os últimos acontecimentos à existência de “inconformismo de uma pequena parcela de policiais prejudicados com a austeridade da política de segurança” após a recondução de Ferreira Pinto ao cargo. O silêncio de Saulo – Saulo de Castro tem mantido um conveniente silêncio a respeito dos golpes recebidos por Ferreira Pinto. Ainda assim, um silêncio ruidoso. Em evento da secretaria dos Transportes, o primeiro após o vazamento do vídeo do titular da Segurança, Saulo embrenhou-se em meio a convidados para fugir da imprensa e destratou jornalistas. Abordado, disse que não falaria. Ignorou até mesmo o pedido do chefe, Geraldo Alckmin, para esclarecer dúvidas dos repórteres a respeito da secretaria de que é titular. Antes do fim da entrevista do governador, sumiu em meio a convidados do evento. Encontrado por jornalistas, indagou: “O que você quer, cara? Eu lá vou falar em cima do que o governador falou!?” Diante da insistência, respondeu com “sim” e “não” a questionamentos sobre transportes. E, antes que se concluísse uma pergunta sobre Ferreira Pinto, deu as costas aos jornalistas.

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