Em agenda em Belo Horizonte nesta quarta-feira, a presidente-candidata Dilma Rousseff (PT) acenou pela primeira vez com alterações na sua equipe de governo caso reeleita. Ao participar da 8ª Olimpíada do Conhecimento, em Belo Horizonte, ela disse ter o “compromisso” de promover uma “atualização das políticas” e “necessariamente atualização das equipes”. A uma plateia formada por empresários, a presidente reconheceu o baixo desempenho da economia e os efeitos do pífio crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na política industrial, mas pediu que os programas de seu governo não fossem minimizados por causa do período eleitoral. Durante a campanha, a petista tem evitado se pronunciar sobre o assunto, deixando de responder a perguntas sobre possíveis equívocos de gestão no primeiro mandato e sobre a permanência de ministros nos seus atuais cargos.
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“Nós devemos fazer esse balanço não para ficarmos satisfeitos com o que já fizemos, mas para continuarmos a fazer. Eu estive na CNI [Confederação Nacional da Indústria] há um tempo atrás e naquela circunstância eu declarei que eu considerava tão importante a política industrial e a política de desenvolvimento em geral que eu faria um Conselho de Desenvolvimento ligado diretamente à Presidência da República. Eu reitero hoje, novamente aqui, esse meu compromisso. Obviamente, novo governo, novas e, necessariamente, atualização das políticas e das equipes”, disse.
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Embora o evento público da presidente-candidata constasse como um ato do Poder Executivo, e não relacionado diretamente à campanha presidencial, Dilma não poupou os empresários que a ouviam de novas promessas e insinuou que o Brasil poderia estar em pior situação se não fosse o seu próprio governo. “Eu não quero, aqui, dar a impressão que eu acho que tudo foi feito. Eu não acredito nisso, acho, inclusive, que vivemos uma situação bastante complexa na indústria. Agora, eu só me pergunto e pergunto a vocês o que seria se nós não tivéssemos tomado as medidas que tomamos na área industrial? É possível que alguns de vocês na atual conjuntura, quando a incerteza do cenário internacional se mistura com o debate eleitoral, questionem a eficácia dessa nossa política. Mas apesar de eu respeitar a posição – acho que as posições num país como o nosso, democrático, têm que ser respeitadas – eu gostaria que o Brasil estivesse crescendo num ritmo muito mais acelerado. Mas imaginem o que aconteceria se nós não tivéssemos tomado essas medidas”, disse.
Ataques – Na sequência de sua agenda em Belo Horizonte, Dilma manteve a tática de ataques à adversária Marina Silva (PSB), sua principal concorrente na disputa pelo Planalto. Desta vez a presidente não se referiu à ex-senadora pelo nome, mas voltou a associar a eventual vitória de Marina ao desemprego. Disse que as propostas da concorrente podem desestruturar a economia brasileira. Negou, porém, que esteja adotando a estratégia de inserir “medo” na população. Pela manhã, Marina afirmou que Dilma usa a “estratégia do medo”, em referência à campanha eleitoral de 2002.
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Para a petista, além de fazer propostas consideradas “temerárias”, Marina Silva não teria base de sustentação no Congresso Nacional para aprovar projetos cruciais ao país. A falta de apoio parlamentar da candidata do PSB tem sido explorada à exaustão tanto por Dilma quanto por Aécio Neves (PSDB), na tentativa de desidratar a concorrente e classificá-la como uma política que não teria condições de governar o Brasil. Na propaganda partidária do PT, Marina chegou a ser comparada com os ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, que não conseguiram terminar o mandato.
Medo – “[Não é] a política do medo. É a política da verdade. O que nós dissemos é que, se não tem número suficiente de deputados, você não aprova nenhum projeto. A necessidade de negociar é inexorável”, afirmou Dilma, ao participar de ato público no bairro Venda Nova, na região Norte de Belo Horizonte. “Quando você dirige um país, você tem responsabilidade com o dia seguinte. Não basta dizer, porque papel aceita tudo. A hora da verdade, e por isso digo que não é uma questão de medo, mas de verdade, é quando mostrar o que vai fazer, como vai fazer e com que dinheiro vai fazer”, disse.
Dilma afirmou que propostas de Marina, como a redução do papel dos bancos públicos, colocaria em xeque a economia brasileira, abrindo espaço para o desemprego e para o enfraquecimento de setores como o agronegócio. Ela declarou ainda que não seriam factíveis promessas de ampliar de imediato os repasses para a educação ou para a saúde sem apontar novas fontes de receita. Sem citar diretamente a concorrente, a petista declarou que “no caso do desemprego, não estou atribuindo à pessoa, não estou dizendo que A, B ou C vai fazer isso, mas estou dizendo que, quando se escreve que vai reduzir o papel dos bancos públicos, isso tem uma consequência, assim como dizer que vou antecipar 10% do PIB para a educação, 10% da receita pública para saúde, o problema é que tem que dizer da onde vai sair”.