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Depoimento de Cid fez, por ora, Bolsonaro tirar Flávio de disputa no Rio

Ex-presidente avaliou que, diante de silêncio de ex-ajudante de ordens, ficaria ainda mais exposto tendo o filho como candidato

Por Maiá Menezes, Sofia Cerqueira Atualizado em 19 Maio 2023, 18h11 - Publicado em 19 Maio 2023, 17h10

Na noite de quinta-feira 18, um movimento repentino e inesperado de Jair Bolsonaro (PL) chacoalhou o mundo político do Rio de Janeiro. O ex-presidente, que vinha se movimentando ativamente em prol da pré-candidatura do filho e senador Flávio Bolsonaro (PL) à prefeitura da capital – decisão que demonstrou estar tomada em reuniões que manteve com correligionários e em conversas com lideranças locais –, resolveu dar um passo atrás e frear, ao menos por ora, as intenções de lançá-lo na disputa eleitoral. Em entrevista a uma rádio, ele justificou a manobra: “Flávio quer muito a candidatura, mas preciso dele fazendo articulação política e ajudando o estado”, disse.

O motivo da mudança de curso neste momento está relacionado ao comportamento de um personagem ligado umbilicalmente ao clã: o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que ontem prestou depoimento à Polícia Federal, no caso da falsificação dos cartões de vacinas do ex-presidente, da ex-primeira dama Michelle e da filha Laura. O tenente-coronel, que deixou inúmeras evidências da tentativa de inserir dados falsos no sistema do Ministério da Saúde, não saiu em defesa do casal, como esperado. Em vez disso, manteve sepulcral silêncio em todas as perguntas feitas pelos investigadores. Por volta das 17h, quando a informação chegou a Bolsonaro, ele recebeu mal a notícia.

A postura de Cid foi encarada com desconfiança pelo ex-presidente, que, no dia anterior, também havia comparecido diante do delegado que apura o caso e, embora tenha tecido elogios ao antigo subordinado, afirmou que não teve nenhuma ingerência sobre seus atos. O temor de que Cid, mais cedo ou mais tarde, dê com a língua nos dentes e prejudique seu destino político – e, por tabela, o de toda a prole – foi reforçado pelo fato de o ex-auxiliar ter trocado o comando de sua defesa. Rodrigo Rocca, ligado à família, foi substituído por Bernardo Fenelon, um advogado especialista em acordos mediados por delações premiadas.

Nos últimos dias, interlocutores de Bolsonaro procuraram Fenelon, que, nas vezes em que atendeu, se limitou a dizer que estava agindo para defender os interesses do cliente. O silêncio adotado no interrogatório deixou tudo mais nublado. Até que se tenha um cenário claro da situação, a ordem, segundo VEJA apurou, é se recolher e tirar Flávio do front, para não deixar o pai sob ainda mais holofotes.

A mudança de uma hora para outra surpreendeu e frustrou até os aliados mais próximos, que vinham costurando alianças com Flávio de olho no pleito de 2024. “Já estava tudo pronto para ganharmos as ruas e, agora, ficou tudo em suspenso”, diz um aliado que trabalhava diretamente pela campanha.

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Pouco antes de postar a decisão nas redes sociais, Flávio a comunicou ao governador do estado do Rio, Cláudio Castro, com quem já tinha acertado detalhes da pré-candidatura – o ocupante do Palácio Guanabara disse que o apoiaria –, e ao presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. Até a véspera, o PL fluminense já organizava eventos para sedimentar a pré-campanha, com a participação do próprio Bolsonaro. No último dia 12, o ex-presidente se reuniu com deputados na sede do partido, no Rio, para tratar do tema e bateu o martelo em prol do filho.

Enquanto isso, Flávio fazia as pazes com seu suplente, Paulo Marinho. Os dois mantinham sérias divergências desde que o empresário trouxe à luz a história de que um policial federal o havia procurado, na campanha de 2018, lhe confidenciando uma informação interna: o antigo chefe de gabinete de Flávio, Fabrício Queiroz, era alvo de uma investigação que apurava um esquema de rachadinha do então deputado estadual. No encontro, a dupla decidiu esquecer o passado e deixar revanchismos de lado. Marinho, que soube da desistência de Flávio pelas redes, também foi pego de surpresa.

No mundo político, há dúvidas se essa decisão é definitiva. Conhecendo Jair Bolsonaro, seu círculo mais próximo sabe que tudo pode mudar de novo, tão abruptamente quanto a decisão de quinta-feira. “Na política as coisas podem mudar de uma hora para outra. Nada impede que Flávio volte a ser candidato mais para a frente”, disse um alto comissário do PL, ao ser indagado sobre a mudança repentina por outro importante aliado. Nova reviravolta, contudo, vai depender dos desdobramentos das investigações. Como chefe da família, é Bolsonaro-pai quem vai determinar o rumo das articulações para 2024 e não quer pôr os filhos em risco se ele próprio se sentir inseguro. É aguardar o próximo capítulo.

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