Coronavírus aumenta crise política entre Bolsonaro e Witzel
Ex-aliados, presidente e governador do Rio de Janeiro fizerem criticas um ao outro nesta sexta-feira. Os dois podem ser adversários na eleição de 2022
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta sexta-feira, 20. Em entrevista à TV Globo, Witzel reclamou das dificuldades de conseguir apoio para combater a pandemia do coronavírus. Sem citar Bolsonaro, o ex-juiz federal afirmou que ele não pode fazer política diante da crise da doença no país. Segundo Witzel, falta diálogo não apenas com o estado, mas também com outros governadores. Ex-aliados, os dois são possíveis adversários na eleição presidencial de 2022.
ASSINE VEJA
Clique e Assine“Estamos fazendo a nossa parte. Estamos regulamentando aquilo que entendemos que é fundamental para salvar vidas. O governo federal precisa fazer a sua parte. Nós não temos diálogo com o governo federal. Não só apenas eu. Os governadores, para se comunicarem com o governo federal, precisam mandar uma carta. Não há diálogo com os governadores. Estamos trabalhando a mil por hora tentando ajudar a população. As pessoas estão perdendo emprego, desesperadas, querem saber como vão comer. O governo federal precisa entender isso, precisa entender que é para ontem. Enquanto estamos tomando medidas aqui, o governo federal fica fazendo política. Não queremos ser uma Itália. Então, pelo amor de Deus! Precisamos parar com isso. Vamos trabalhar!”, atacou Witzel.
Na noite da última quinta-feira, Wilson Witzel divulgou, no Diário Oficial, um decreto determinando uma série de proibições a partir da meia-noite deste sábado por causa do coronavírus. Entre elas, o governador fechará as divisas do estado, e os aeroportos, inclusive a ponte-aérea Rio-São Paulo. No entanto, essas medidas ainda dependem do aval de agências reguladoras. À GloboNews, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, disse que o decreto de Witzel referente a essas suspensões não é válido. O governador rebateu:
“Temos que discutir como vamos proteger a nossa população. Recebemos, recentemente, um avião da Espanha sem nenhum controle, sem saber de onde vinham as pessoas e para onde iam. Agora, é hora de ter responsabilidade. O decreto, se tem validade ou se não tem validade… o que temos que fazer é ajudar as pessoas. O governo federal tem que assumir a sua responsabilidade”.
Mais cedo, no Palácio do Alvorada, Bolsonaro também criticou Witzel. De acordo com o presidente, “parece que o Rio de Janeiro é outro país”, porque o governador fluminense teria tomado medidas que não competem a ele. Para Bolsonaro, algumas determinações dos governadores “prejudicam os mais pobres e podem causar saques”.
“Estão tomando medidas, no meu entender, exageradas. Fecharam o aeroporto do Rio de Janeiro. Não compete a ele, meu Deus do céu! A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) está à disposição. É uma agência autônoma que está aberta para todo mundo, para conversas. Eu vi ontem um decreto do governador do Rio que, confesso, fiquei preocupado. Parece que o Rio de Janeiro é um outro país. Não é outro país. Você tem uma federação”, disparou Bolsonaro.
Mesmo com a pandemia do novo coronavírus no mundo, não há qualquer interlocução entre o Witzel e Bolsonaro. A falta de diálogo é decorrente de uma briga que já se arrasta desde o ano passado quando o político fluminense anunciou que iria concorrer à Presidência. Em novembro do ano passado, após trocarem acusações públicas envolvendo o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), o governador pediu uma audiência ao presidente, sendo ignorado. O desprezo presidencial acirrou mais os ânimos.