Em sua primeira declaração pública após ser condenado pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a reafirmar sua inocência, atacou duramente o magistrado e anunciou que vai apresentar ao PT o pedido para ser candidato à Presidência da República em 2018. “Se alguém pensa que, com essa sentença, me tirou do jogo, podem saber que eu estou no jogo. Até agora, eu não tinha reivindicado, mas agora eu reivindico do meu partido o direito de ser candidato a presidente”, disse.
Ele falou sobre a sua situação jurídica, mas disse que vai entrar em três “brigas” a partir de agora. “Não sei se isso é por bem ou por mal, mas você tem um pré-candidato que tem problema jurídico. São três brigas: a briga jurídica, para poder ser candidato; a briga política, para ter o apoio do PT; e a briga das ruas.”
O ex-presidente encerrou o discurso afirmando que “só quem pode decretar meu fim é o povo brasileiro”. Lula teceu fortes críticas à decisão de Moro e anunciou que um grupo de juristas vai rebater as decisões. “É uma peça que precisa de estudo profundo de como não fazer uma peça condenatória”, afirmou.
Ele reiterou a tese da sua defesa de que há parcialidade por parte do Ministério Público Federal e do juiz. “Era visível que o que menos importava para as pessoas que faziam as perguntas no depoimento era o que você falava. Elas já estavam com a concepção pronta”, criticou.
Assista na íntegra ao discurso de Lula:
O petista disse ainda que tinha “esperança” de que Moro recusaria a aceitação da denúncia contra ele, baseada em notícias de jornal que nunca teriam sido comprovadas. “Eu achava que o Moro ia recusar. Que ele tivesse recusado a denúncia do Ministério Público baseada na tese do Power Point [usado pelo MPF na apresentação da denúncia à imprensa]. Eu tinha mais esperança que ele fosse recusar na hora da denúncia do que me inocentado depois que ela foi aceita.”
Para o ex-presidente, o processo contra ele é uma “mentira” e a condenação é resultado do temor de absolvê-lo neste momento, após a exposição junto à opinião pública. “O que me deixa indignado, mas sem perder a ternura, é ver que você está sendo vítima de um grupo de pessoas que contaram a primeira mentira e agora estão presos para sempre nessa mentira de que eu tenho um tríplex”. A tese do MPF, aceita por Moro, é que o apartamento no Guarujá foi reservado a ele pela OAS como parte de propina por contratos com a Petrobras.
Delação
Lula atacou o uso das delações premiadas, em especial o acordo feito com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que o acusou de ser o dono do imóvel. “Desde que esse processo começou, o Moro proferiu várias entrevistas sentenciando que era preciso uma forte cobertura da imprensa porque, se não, ele não conseguiria prender as pessoas. E prender para fazer as pessoas delatarem.”
Ele afirmou que o empresário mentiu para obter benefícios na Justiça. “O Léo Pinheiro está há mais de dois anos preso. Insistentemente disse ‘não, não, não’. Agora, o cara já está condenado a mais de 23 anos e vê na televisão as vantagens que os delatores levaram”, disse.