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Comer e dormir: a vida das testemunhas confinadas do impeachment

Enquanto procurador celebra o fato de se manter afastado dos bate-bocas do Senado, economista compara confinamento a campo de concentração

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Felipe Frazão Atualizado em 26 ago 2016, 19h50 - Publicado em 26 ago 2016, 18h52

Enquanto o plenário do Senado se transformava em palco de bate-bocas, tumultos e cenas de quase pugilato, ou um hospício, como definiu o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), um grupo de oito pessoas com função crucial no impeachment de Dilma Rousseff se manteve alheio a qualquer desdobramento do processo.

Por determinação do Senado, as oito testemunhas convidadas a prestar depoimento contrário e favorável ao impeachment tiveram de permanecer confinadas em um hotel no centro de Brasília, sem poder utilizar telefone, computador, ver televisão ou navegar na internet. O grupo foi alocado no 16º andar do hotel cinco-estrelas Grand Bittar.

A presença dos ilustres hóspedes mudou a rotina do hotel: o último andar teve de ser isolado e ficou vetado para qualquer outro visitante. O local que costuma receber políticos e autoridades na capital federal também teve os corredores tomados por seguranças – policiais legislativos se revezavam na porta dos quartos para garantir que ninguém descumpriria as ordens.

“Foi uma espécie de Auschwitz de luxo”, disse a VEJA o economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, defensor de Dilma que passou pelo menos um dia inteiro isolado no hotel. O que mais incomodou Belluzzo foi o fato de não poder manter sua tradição de leitura eletrônica, já que usa um tablet para armazenar livros digitais, cujo uso estava proibido. “Foi dureza. Tenho mais de 1.700 livros no meu iPad e me tiraram. Não pude ler nada. Agora vão ter de me devolver”, disse.

Já o procurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira desfrutou de apenas duas horas no conforto do hotel – em seguida, seu confinamento foi transferido para uma sala do Senado. Logo na chegada ao Grand Bittar, passou por uma situação no mínimo embaraçosa. Após fazer o check-in, subiu lado a lado com a testemunha de defesa e professora Esther Dueck. Os dois, no entanto, tiveram de fingir que não se conheciam: pronunciaram apenas um tímido “bom dia”, enquanto eram vigiados por seguranças que os acompanhavam no elevador.

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A audiência de Júlio Marcelo estava programada para a manhã de quinta-feira, mas acabou tendo início apenas à tarde devido aos tumultos e manobras dos senadores. Enquanto os congressistas se digladiavam em plenário, o acusador de Dilma improvisava uma maneira de descansar dentro de uma sala no Senado, onde também permaneceu isolado.

“Eles levaram almoço para mim. Comi e até dormi um pouco. Eu tirei uma soneca sentado numa poltrona do Senado”, disse, rindo, o procurador a VEJA. “Para mim foi até bom ficar incomunicável. Há um clima muito hostil no plenário. O melhor é realmente ficar sem saber de nada e imune a isso”, continuou Júlio Marcelo.

Para cobrir os custos da hospedagem, o Senado reservou ao hotel Grand Bittar um total de 34.803 reais. Estão incluídas no pacote doze diárias em apartamentos duplos, noventa em apartamentos singles (entre seguranças e testemunhas) e mais 322 refeições para os hóspedes.

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