Após a expulsão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pelo Partido Novo, o fundador e ex-presidente do partido, João Amoêdo, afirmou a VEJA que a gestão do ex-filiado à frente da pasta não estava alinhada à legenda e que ele “talvez tenha errado na escolha” da sigla. A filiação dele estava suspensa desde outubro de 2019 pela Comissão Nacional de Ética Partidária do partido.
Candidato à Presidência da República pela legenda em 2018, quando foi o quinto mais votado, Amoêdo diz ver o ministro como integrante do núcleo “ideológico” do governo Bolsonaro, em uma pasta na qual, em sua avaliação, devem predominar “mais dúvidas do que certezas”. “Quando você fica muito certo de tudo, a chance de estar errando é grande. Ele sempre teve essa postura”, afirma.
Como resultado do que vê como ideologia na gestão do ministério, abrindo mão de “aspectos técnicos”, João Amoêdo vê “resultados piores”.
“Ele sempre partiu muito pro confronto, o governo Bolsonaro tem quadros técnicos e quadros mais ideológicos, ele faz parte do grupo mais ideológico. Isso torna a gestão mais difícil porque você deixa alguns aspectos técnicos de lado e acaba tendo resultados piores. O que incomodou alguns filiados do Novo provavelmente foi isso, a forma como estavam sendo feitas algumas colocações, embates muito fortes, contra instituições às vezes”, diz João Amoêdo.
A expulsão de Salles, confirmada por ele na manhã desta quinta-feira, 7, se deu após um pedido de filiados ao comitê de ética da legenda. Na publicação no Twitter em que informou ter sido expulso, o ministro alegou que a decisão foi tomada pelo partido porque ele teria assumido “sem qualquer informação prévia ou pedido de autorização” o Ministério do Meio Ambiente do governo do presidente. “Entre Amoêdo e Bolsonaro, fico com Bolsonaro!”, escreveu.
Amoêdo, que diz não saber ao certo o motivo da expulsão, pois deixou a direção do Novo, respondeu à provocação também no Twitter, afirmando esperar que o ex-correligionário passe a fazer escolhas “baseadas em ideias, princípios e valores”. Ainda por meio da rede social, o Novo publicou que a decisão está em sigilo e cabe recurso.
“No Novo a gente prega que não existe um salvador da pátria. E também sempre fomos contra a polarização extremada na política, o nós contra eles, que tinha na época do petismo e está sendo repetida com afinco pelo bolsonarismo. Especialmente num momento de pandemia e crise, devemos estar fieis a princípios, à medida em que você acha que tem um salvador, um mito que vai resolver sua vida, a coisa não evolui”, afirmou a VEJA.
Salles estava filiado ao Novo desde fevereiro de 2018, ano em que se candidatou a deputado federal, mas recebeu apenas 36.603 votos e não foi eleito. Antes de entrar no partido, o ministro do Meio Ambiente havia se filiado ao PFL em 2006 e permanecido na legenda quando rebatizada como DEM, em 2007.
A atuação de Ricardo Salles à frente da pasta vinha gerando atritos com o Novo desde o início do governo Bolsonaro. Protagonista da crise das queimadas na Amazônia, Salles já questionou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que apontavam aumento no desmatamento na região amazônica, relativizou a contribuição humana ao aquecimento global e insinuou que um navio da ONG Greenpeace poderia ser responsável pelo derramamento de óleo na costa do Nordeste, em agosto do ano passado.
“Entendemos que Salles tem atuado com grande convicção na adoção de condutas divergentes com os programas do Partido Novo no tema ambiental, demitindo profissionais qualificados, desdenhando de dados científicos e revogando políticas públicas sem debate prévio”, tuitou em agosto de 2019 o deputado estadual Chicão Bulhões (Novo-RJ), um dos autores do pedido que levou à expulsão do ministro.