A derrubada de Vitor Hugo da liderança do governo, confirmada nesta quarta-feira (12), não pegou a classe política de surpresa. Desde o final de julho, caciques do chamado centrão comemoravam mais um avanço do grupo multipartidário dentro da gestão de Jair Bolsonaro. Nos bastidores, lideranças do bloco falavam que o presidente da República já havia enviado o recado de que estava decidido a tirar seu braço-direito do posto e entregar o cargo a eles – faltava apenas negociar a saída com o major do Exército.
Diante do sinal verde do Planalto para mais um gesto de aproximação, uma espécie de lista de indicados foi construída para discutir quem ocuparia a importante cadeira de líder da Câmara. O deputado Arthur Lira (PP-AL), que havia assumido informalmente o posto, cogitou oficializar sua função no cargo, mas considerou melhor manter distância da liderança e focar em sua candidatura à Presidência da Câmara em 2021.
Lira, então, levou uma lista de nomes para o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, definir quem seria o deputado que o grupo indicaria. Entre as opções constavam parlamentares de outros partidos, como o deputado Hugo Motta, do Republicanos, e Isnaldo Bulhões, do MDB. Os dois já haviam embarcado na coalizão de Bolsonaro e dado sinais de apoio ao governo. Além disso, são nordestinos, terreno em que o presidente elegeu como meta para conquistar novos apoiadores.
Nogueira, porém, acabou encaminhando ao Planalto uma sugestão caseira. Ricardo Barros (PP-PR) é um parlamentar distante dos holofotes e famoso por sua atuação de bastidor, com trânsito entre os principais caciques partidários. Ex-ministro da Saúde, o paranaense é visto como uma solução para melhorar a condução política no Congresso. “O governo mudou, não é mesmo. E, da mesma maneira, a articulação política tinha de mudar”, afirma um deputado que acompanhou a escolha. Aliados de Ricardo Barros sonham que a jornada dele na liderança sirva como um trampolim para que ele volte a comandar o Ministério da Saúde após a saída do interino Eduardo Pazuello, o que pode acontecer quando a pandemia do coronavírus der sinal de arrefecimento.
A troca na liderança do governo representa mais um passo do distanciamento de Bolsonaro de seu núcleo duro e o abraço ao centrão, que cada vez conquista mais espaço no governo e tem como próxima meta assumir a presidência da Câmara.
A entrada de Barros, na avaliação do centrão, representa o fim do amadorismo na condução política do governo. “O Vitor Hugo não existia, não entendia de nada”, afirma um parlamentar do grupo. A crítica ocorre em via de mão dupla. O major do Exército assumiu a liderança com a missão dada pelo próprio presidente de não criar uma base política, o que agradava ao deputado, refratário principalmente ao centrão.
“Hoje em dia, para ser um líder forte, você tem que ser fisiológico. E eu não quero ser. Não quero ser identificado como o líder do centrão”, costumava repetir, quando essa atribuição ainda era um mérito para o governo. Mas isso ficou no passado.