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Bolsonaro e Trump: feitos um para o outro

Baixa popularidade, alergia a fatos, bravatas e nepotismo unem os líderes em bromance; outros que já tiveram a experiência amargaram dor de cabeça

Por Lucia Guimarães, de Nova York
Atualizado em 19 mar 2019, 17h59 - Publicado em 19 mar 2019, 17h59

O clima de bromance – relação platônica entre dois homens – estava no ar. O presidente Jair Bolsonaro encerrou a agenda de trabalho com Donald Trump, em Washington, em franca concorrência com os eleitores trumpistas pela liderança na adulação do chefe de estado historicamente impopular.

Num discurso recheado de bordões ideológicos da campanha, Bolsonaro deleitou o presidente americano repetindo seu clichê favorito – fake news – e foi além, arrastando seu velho ataque ao que chama de “ideologia de gênero” para o menu da política externa brasileira. Mal acabou a entrevista coletiva, as redes a cabo americanas destacaram trechos do discurso de Trump sobre a Venezuela e  ataques dos dois à imprensa. Ignoraram o Brasil.

Presidente da República Jair Bolsonaro concede entrevista para Fox News: pressionado pela emissora de ultradireita  – 18/03/2019 (Alan Santos/PR)

Na noite de segunda-feira, em entrevista à rede de cabo Fox News, o presidente Jair Bolsonaro acusou imigrantes brasileiros de agir contra interesses dos Estados Unidos. Ele criticou os que emigram sem documentos e disse que a maioria dos imigrantes não tem boas intenções.

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As declarações de Bolsonaro refletem uma mudança drástica no discurso da diplomacia brasileira sobre o drama de centenas de milhares de cidadãos brasileiros que fazem parte da diáspora econômica nos Estados Unidos. Nesta terça-feira, porém, ele admitiu ter errado.

A Fox News, propriedade do empresário Rupert Murdoch, é o principal megafone de ultradireita na grande mídia americana e beneficiou a candidatura de Donald Trump. A entrevista do presidente brasileiro ocupou 11 minutos do programa Fox News Night with Shannon Bream, exibido às 23 horas, fora do horário nobre.

Apesar da repetição do apelido “Trump dos Trópicos” pela mídia americana e de ter escolhido o que considerava ser mídia favorável, para escapar de perguntas incômodas, Bolsonaro foi impiedosamente apresentado pela repórter Kristin Fisher naquele momento sem precedentes para a reputação da presidência do Brasil.

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Marielle

Um trecho do segmento introdutório da entrevista:

“O ultradireitista ex-capitão do Exército tem um longo passado de fazer comentários que são o oposto dos valores americanos, especialmente sobre a comunidade LGBTQ. Ele defendeu a violência contra brasileiros dessa comunidade e disse que preferia ver o filho morto num acidente a aparecer com um cara. ‘Para mim já teria morrido.’ Mas é a relação sua e de sua família com policiais corruptos membros de gangues paramilitares que está nas manchetes do momento.”

A repórter relatou a prisão dos ex-policiais suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco e especulou que seria difícil imaginar Bolsonaro escapando de uma pergunta sobre o assunto na coletiva da Casa Branca. A resposta é negativa, porque na coletiva desta terça-feira nenhuma pergunta desta natureza foi feita a Bolsonaro. Mas, na entrevista da Fox, a âncora Shannon Bream, não deixou passar. Perguntou sobre a alegação de vínculos com a milícia, que o presidente negou.

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A âncora tocou no fato de os jovens americanos hoje expressarem menos resistência ao socialismo. Bolsonaro respondeu que os jovens brasileiros estão mais resistentes ao socialismo e ao comunismo. Em seguida, disse os americanos que namoram o socialismo devem olhar para a França, país ao qual acusou de abrir suas fronteiras aos imigrantes. Foi um insulto gratuito ao histórico aliado do Brasil, além de comentário ignorante do fato de o governo de Emmanuel Macron ter aumentado as restrições à entrada de refugiados.

A aposta de Bolsonaro no alinhamento ideológico e pessoal com Trump já deu dor de cabeça a outros países que tentaram o mesmo após a eleição presidencial de 2016, diz a VEJA o cientista político David Rothkopf. Ele trabalhou no Departamento de Comércio do governo Bill Clinton e hoje dirige uma companhia de consultoria e mídia.

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“Veja o que aconteceu com países como Israel, Rússia e Arábia Saudita,” alerta Rothkopf. “Em cada um destes casos, estamos vendo as consequências das mudanças que trouxeram os democratas de volta ao controle da Câmara”, afirma, em referência ao resultado da eleição para o Legislativo americano no ano passado.

Rothkopf cita a Arábia Saudita, hoje definida pela bajulação de Trump e pela suspeita proximidade do genro do presidente, Jared Kushner, ao príncipe Mohammed Bin Salman, sem contar, é claro, sua alegada ordem de assassinar o jornalista saudita Jamal Kashoggi em Istambul.

O outro caso é Israel, lembra Rothkopf. “Benjamin Netanyahu odiava Barack Obama e acabou cometendo um erro histórico para a segurança de Israel. Ele abriu a porta para os progressistas americanos se distanciarem de Israel,” conclui.

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Mas o cientista político argumenta que Arábia Saudita e Israel têm um peso histórico especial para os Estados Unidos por causa da instabilidade no Oriente Médio.

“O caso de Bolsonaro é pior,” acredita ele. “Bolsonaro é um clone de Trump, com sua retórica extremista e autoritarismo. Se for confirmada a chance real de Trump não se reeleger, ele vai se tornar indigesto.”

Rothkop lembra um ex-colega do governo Clinton que dizia, em Washington, o urgente sempre supera o importante. Se os democratas dominarem o Congresso e a Casa Branca, a partir de 2020, e se houver um afastamento do Brasil, ele alerta: “Temos menos a perder, apesar da importância do Brasil. Bolsonaro vai ter dois anos de prazer e pelo menos mais dois anos de dor. “

 

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