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Auxílio emergencial esquenta a disputa pela presidência da Câmara

Baleia Rossi diz que lutará pela prorrogação do benefício, enquanto Arthur Lira considera a promessa do rival "demagogia fiscal"

Por Nonato Viegas Atualizado em 5 mar 2021, 09h53 - Publicado em 7 jan 2021, 16h12

Considerado fundamental para manter o nível de popularidade de Jair Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19, o auxílio emergencial, que foi encerrado em dezembro passado, tornou-se tema de debate entre os dois principais candidatos à Presidência da Câmara. Na quarta-feira 6, o deputado Baleia Rossi (MDB), nome de uma aliança formada por onze de partidos de centro e de esquerda, defendeu a prorrogação do benefício, que garantiu renda a boa parte da população brasileira durante a crise econômica provocada pelo novo coronavírus. Ao empunhar tal bandeira, Rossi agiu de forma a consolidar o apoio sobretudo dos petistas, que querem a aprovação de uma nova rodada de auxílio, no valor de 600 reais.

Nesta quinta-feira, 7, o candidato de Bolsonaro ao comando da Câmara, o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), resolveu rebater o seu adversário e classificou como “demagogia fiscal” o retorno do benefício. A manifestação soou como música aos ouvidos do ministro da Economia, Paulo Guedes, a voz mais incisiva contra o auxílio. Desde o início do mandato, Guedes, como se sabe, tem como mantra a defesa das reformas e das privatizações como forma de reativar a economia, a produção e o emprego.

O lado escolhido por Lira até pode agradar ao Planalto, mas não se mostrou o preferido dos deputados quando o assunto foi analisado no plenário da Câmara. No ano passado, o governo propôs pagar o auxílio no valor de 200 reais. Comandado por Rodrigo Maia (DEM), padrinho da indicação de Rossi, o plenário da Casa mudou o valor para 600 reais. A votação foi simbólica, e todos os partidos, inclusive o Progressistas de Lira, se manifestaram a favor do aumento.

Dois projetos sobre o tema foram apresentados na semana passada. Um deles, proposto por senadores ditos independentes, propõe a extensão do decreto de Estado de Calamidade e do auxílio de R$ 300 até março. Outro, de autoria de parlamentares petistas, estabelece a volta dos R$ 600 durante o primeiro semestre de 2021. A prioridade do governo é impedir a aprovação de ambos. A dificuldade é convencer a base aliada no Congresso, que nesse tipo de assunto já mostrou reiteradas vezes ser perdulária.

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Segundo o economista Fabio Astrauskas, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), 13,7 milhões de pessoas saíram da força de trabalho nos últimos doze meses e se mantiveram à custa do auxílio, que “é pequeno, mas é uma ajuda muito grande para uma camada desesperada e muito pobre da população”. Astrauskas acrescenta que o desemprego no país, que já atinge 14,1 milhões de trabalhadores, pode bater a marca de 20 milhões se medidas de estímulo à economia não forem adotadas. Tais medidas, de acordo com o professor, têm de partir também do Estado. “Paulo Guedes diz que a melhor função do governo para estimular o crescimento econômico é não atrapalhar. De fato, pode ser verdade, mas quando você tem uma economia em condições de equilíbrio”, declara o economista.

Pesquisa divulgada pelo Datafolha em dezembro mostrou que o auxílio emergencial ainda era a única fonte de renda para 36% dos brasileiros que recebiam o benefício e que, em razão da redução do valor de 600 reais para 300 reais, 65% dos entrevistados disseram ter cortado a compra de remédios. “O auxílio emergencial tirou pessoas de um contexto de pobreza e pobreza extrema que nem o Bolsa Família era capaz de atender”, afirma Daniel Duque, da Economia Aplicada do Ibre/FGV.

Com base em números e análises desse tipo, Baleia Rossi e seus aliados na esquerda querem lutar pelo benefício, cujo pagamento resultou no aumento da popularidade de Bolsonaro entre os mais pobres. Já Lira defende a tese de que não há recursos para bancar tal despesa e que o equilíbrio das contas públicas é mais importante para manter os juros baixos, a inflação controlada e a economia nos trilhos. Ser governo também tem seu ônus.  Resta a Lira nesse embate o discurso mais difícil de ser entoado — e também o menos sedutor aos ouvidos de seus colegas de plenário.

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