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ÁUDIO: PM preso ironizou ‘terror’ do 8/1 e foi contra aumentar efetivo

Reunião que balizou protocolo de segurança minimizou movimento. Comandante chegou a dizer que manifestantes estavam apenas botando ‘pilha’ com ação violenta

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jan 2024, 19h14 - Publicado em 5 jan 2024, 17h48

Passado um ano dos ataques do 8 de Janeiro, as investigações apontam para um “apagão” na segurança pública do Distrito Federal naquele domingo, o que permitiu que um grupo de vândalos invadisse e depredasse, com uma surpreendente facilidade, as sedes do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.

Em entrevista a VEJA, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que houve omissão, “até agora dolosa”, por parte dos policiais militares da capital do país. O STF determinou, em agosto, a prisão preventiva de sete oficiais, que seguem custodiados.

Um áudio obtido por VEJA ilustra o clima que antecedeu o atentado. A reunião convocada às pressas para discutir e elaborar um plano de contenção dos manifestantes foi recheada de declarações que minimizavam os atos e apontavam para uma baixa adesão – conforme essa avaliação, não valeria a pena “desgastar” os policiais naquele dia, de modo a justificar um efetivo mais baixo (confira os áudios na abertura da reportagem).

As falas, vale destacar, não constam em memória feita pela Polícia Militar sobre o encontro.

A reunião, comandada por autoridades da PM, aconteceu na manhã do dia 6 de janeiro – dois dias antes, portanto, dos atos. Também participaram representantes do Supremo Tribunal Federal, do Itamaraty e do Senado. Naquele momento, apesar de já haver convocações em redes sociais e de circular mensagens com teor golpista e que falavam em “tomada de poder”, os participantes ponderavam que não havia alertas de órgãos de inteligência nem de autoridades que monitoravam o deslocamento de ônibus a Brasília.

Assim, foi elaborado o Protocolo de Ações Integradas (PAI), que balizou todo o esquema de segurança da Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro. O documento final foi assinado por diversas autoridades, entre elas o então secretário de Segurança Pública, Anderson Torres.

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Mudança de cenário

Um dia depois, e já em meio à mudança do cenário de uma suposta calmaria narrada no encontro, a Polícia Federal convocou uma reunião com oficiais da PM para ressaltar o aumento na quantidade de ônibus indo a Brasília e a preocupante ameaça constatada para o ato do dia 8. Os policiais, então, disseram que o planejamento daria conta da manifestação.

Apesar dos alertas, nenhuma alteração foi feita no plano de segurança – confeccionado em meio à incerteza se o movimento, de fato, aconteceria em grandes proporções – e nenhum outro planejamento foi elaborado. Para piorar, as definições estipuladas no documento foram desrespeitadas, entre elas a previsão de que os policiais impediriam o acesso dos manifestantes à Praça dos Três Poderes.

De acordo com o ministro Alexandre de Moraes, a baixa proteção do STF naquele dia devia-se, principalmente, à garantia dada pela PM de que os vândalos não chegariam às proximidades da Corte.

PM: manifestantes queriam só ‘botar medo’ e ‘vender o terror’

VEJA teve acesso à integra da reunião do dia 6 de janeiro. Nos diálogos, os participantes oscilam entre a preocupação das convocações e a crença de que o movimento não ganharia corpo.

Apesar da incerteza, foi decidido que não haveria o deslocamento de um grande efetivo para a Esplanada dos Ministérios. Além disso, os demais policiais estariam apenas de “stand by” fora dos batalhões para eventuais convocações, caso algo saísse do controle.

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A ordem partiu do coronel Marcelo Casimiro, então chefe do 1º Comando de Policiamento Regional, responsável por seis batalhões, entre os quais o que abrange a segurança da Esplanada.

A gente não vai ter um efetivo grande. A gente vai ter efetivo, mas não vai ter um efetivo grande na Esplanada porque não tem nada concreto. (…) Então com 200 pessoas só com efetivo que a gente tem do 6º Batalhão já dá conta, entendeu?”, afirmou Casimiro.

O militar acrescentou que todos deveriam estar atentos, mas, na sequência, disse não acreditar nas ameaças feitas pelos manifestantes.

“Tem alguns deles aí que não sei se prospera, até acho que não, que pela inteligência tem falado que vai driblar a segurança, vai dar um jeito. Eu acho que é mais algo assim para botar medo, para vender o terror, botar pilha no processo, algo nesse sentido”, disse.

O coronel acrescentou que não valeria a pena “desgastar” seu efetivo “para ficar numa Esplanada que provavelmente não vai acontecer nada”. “Gasta-se lá uma grana enorme sem necessidade, entendeu?”, justificou.

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Mensagens anexadas à investigação apontam ainda que Casimiro foi alertado por seus subordinados de que haveria uma “desordem” na esplanada. Ele, porém, se limitou a dizer que era “muito barulho e pouca ação”. Horas antes da manifestação, ele também reforçou que o efetivo era suficiente. O coronel é um dos militares que foram presos por ordem do STF.

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