![Zenaldo Coutinho, deputado federal (PSDB-PA) e presidente da Frente Contra Carajás: “A receita de todo o estado será dividida por três e as despesas aumentarão com assembleias, quartéis, tribunais etc. Teríamos três estados empobrecidos” Zenaldo Coutinho, deputado federal (PSDB-PA) e presidente da Frente Contra Carajás: “A receita de todo o estado será dividida por três e as despesas aumentarão com assembleias, quartéis, tribunais etc. Teríamos três estados empobrecidos”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-02-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Para João Salame Neto, deputado estadual (PPS) e presidente da Frente Pró-Carajás, o Fundo de Participação dos Estados (FPE) traria benefícios maiores para territórios menos municípios. “O FPE renderia a Carajás e Tapajós 1,1 bilhão e 2,2 bilhões, respectivamente” Para João Salame Neto, deputado estadual (PPS) e presidente da Frente Pró-Carajás, o Fundo de Participação dos Estados (FPE) traria benefícios maiores para territórios menos municípios. “O FPE renderia a Carajás e Tapajós 1,1 bilhão e 2,2 bilhões, respectivamente”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-11-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Leonor da Silva Pereira, 51 anos, e sua mulher Maria Lúcia Gabriel da Silva, 46, moram em Pacajá, município de 40.000 habitantes a 600 quilômetros de Belém ─ que, com a divisão do estado, passaria a integrar Carajás . “Votamos ‘sim’ para a divisão”, diz Leonor. Maria Lúcia sofre com um mioma no útero. O agricultor gasta mais de 1 000 reais com exames e deslocamentos para Altamira e Novo Repartimento, cidades mais populosas. “Aqui nessa região não tem hospitais nem médicos. Os que existem só atendem quem está com a vela na mão, quase morrendo. Acho que com a criação dos novos estados, tudo vai melhorar” Leonor da Silva Pereira, 51 anos, e sua mulher Maria Lúcia Gabriel da Silva, 46, moram em Pacajá, município de 40.000 habitantes a 600 quilômetros de Belém ─ que, com a divisão do estado, passaria a integrar Carajás . “Votamos ‘sim’ para a divisão”, diz Leonor. Maria Lúcia sofre com um mioma no útero. O agricultor gasta mais de 1 000 reais com exames e deslocamentos para Altamira e Novo Repartimento, cidades mais populosas. “Aqui nessa região não tem hospitais nem médicos. Os que existem só atendem quem está com a vela na mão, quase morrendo. Acho que com a criação dos novos estados, tudo vai melhorar”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-12-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![O radialista José Nilton da Silva, 41, mora há um ano em Anapu, município de 20.000 habitantes à beira da rodovia Transamazônica. “Desde que estou aqui, não vi ninguém dizer que é contra a criação de Carajás”. Segundo ele, os anapuenses costumam telefonar para a rádio para reclamar dos sistemas de saúde e educação do município, muito precários. “Aqui falta água e luz quase todos os dias. O povo acredita que os serviços e a distribuição de renda vão melhorar com a divisão do novo estado” O radialista José Nilton da Silva, 41, mora há um ano em Anapu, município de 20.000 habitantes à beira da rodovia Transamazônica. “Desde que estou aqui, não vi ninguém dizer que é contra a criação de Carajás”. Segundo ele, os anapuenses costumam telefonar para a rádio para reclamar dos sistemas de saúde e educação do município, muito precários. “Aqui falta água e luz quase todos os dias. O povo acredita que os serviços e a distribuição de renda vão melhorar com a divisão do novo estado”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-16-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Na região que abriga a tríplice fronteira entre Tapajós, Carajás e o chamado Pará remanescente, a exploração da madeira é uma das principais fontes de renda. Na fotografia, uma serraria funciona a todo vapor em Anapu, a cerca de 600 quilômetros de Belém. As toras de madeira foram cortadas com a autorização do Ibama, mas muitas pessoas continuam destruindo a floresta clandestinamente Na região que abriga a tríplice fronteira entre Tapajós, Carajás e o chamado Pará remanescente, a exploração da madeira é uma das principais fontes de renda. Na fotografia, uma serraria funciona a todo vapor em Anapu, a cerca de 600 quilômetros de Belém. As toras de madeira foram cortadas com a autorização do Ibama, mas muitas pessoas continuam destruindo a floresta clandestinamente](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-22-original1.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Na periferia de Altamira, onde só existem casas de palafitas, uma moradora aproveita o “verão” (como é chamada a época em que não chove) para estender as roupas ao sol. No chamado “inverno”, época das chuvas, que começa a partir de janeiro, a área de terra e mato que aparece na fotografia fica coberta por água e lama. Quando isso acontece, os poços artesianos que abastecem a vizinhança e os dejetos acumulados em fossas rasas se transformam num só lago, onde as crianças nadam livremente Na periferia de Altamira, onde só existem casas de palafitas, uma moradora aproveita o “verão” (como é chamada a época em que não chove) para estender as roupas ao sol. No chamado “inverno”, época das chuvas, que começa a partir de janeiro, a área de terra e mato que aparece na fotografia fica coberta por água e lama. Quando isso acontece, os poços artesianos que abastecem a vizinhança e os dejetos acumulados em fossas rasas se transformam num só lago, onde as crianças nadam livremente](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-23-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Francisca de Souza Silva, 48 anos, vive em uma casa de palafitas na periferia de Altamira, município a 830 quilômetros de Belém. Tem dois filhos e um marido que trabalha num garimpo ilegal às margens do Rio Xingu. A notícia do plebiscito chegou até Francisca graças à televisão, que, segundo ela, limita-se a anunciar a votação iminente. “Voto para não dividir o meu Pará”, diz a dona-de-casa. “Não sei quando vai ser o plebiscito nem o número que tenho que apertar na urna” Francisca de Souza Silva, 48 anos, vive em uma casa de palafitas na periferia de Altamira, município a 830 quilômetros de Belém. Tem dois filhos e um marido que trabalha num garimpo ilegal às margens do Rio Xingu. A notícia do plebiscito chegou até Francisca graças à televisão, que, segundo ela, limita-se a anunciar a votação iminente. “Voto para não dividir o meu Pará”, diz a dona-de-casa. “Não sei quando vai ser o plebiscito nem o número que tenho que apertar na urna”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-25-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![O pedreiro Francimar da Silva Ramos, de 31 anos, vai optar pelo “não” em 11 de dezembro. Todos os dias, ele pedala até o trabalho, em uma das numerosas obras no centro de Altamira, cidade que cresce aceleradamente com a chegada da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a 40 quilômetros dali. “Não sei o que é melhor”, diz. “Na dúvida, vou votar ‘não’” O pedreiro Francimar da Silva Ramos, de 31 anos, vai optar pelo “não” em 11 de dezembro. Todos os dias, ele pedala até o trabalho, em uma das numerosas obras no centro de Altamira, cidade que cresce aceleradamente com a chegada da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a 40 quilômetros dali. “Não sei o que é melhor”, diz. “Na dúvida, vou votar ‘não’”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-27-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=390&w=636)
![As periferias dos municípios da região central do Pará, como Altamira (foto), sofrem com o esquecimento. Por ali, a presença do poder público é quase nula. Não há água encanada, coleta de lixo nem de esgoto. A luz elétrica chegou há menos de um ano. Para os moradores, o plebiscito é mais uma invenção de políticos demagogos. “O povo aqui está saturado de políticos”, conta Elys Araújo, 35, predreiro. “Eles nunca cumprem as promessas” As periferias dos municípios da região central do Pará, como Altamira (foto), sofrem com o esquecimento. Por ali, a presença do poder público é quase nula. Não há água encanada, coleta de lixo nem de esgoto. A luz elétrica chegou há menos de um ano. Para os moradores, o plebiscito é mais uma invenção de políticos demagogos. “O povo aqui está saturado de políticos”, conta Elys Araújo, 35, predreiro. “Eles nunca cumprem as promessas”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-28-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![A pecuária domina os arredores de Anapu ─ que depois da divisão passaria a integrar o estado de Carajás. Na região, é fácil perceber as consequências do desmatamento. Com as margens desmatadas, o Rio Xingu passou a ter o fundo forrado por bancos de areia trazida pelas chuvas. As montanhas de terra dificultam o tráfego de barcos e alteram o ecossistema. Caso a divisão do estado seja aprovada, a previsão é de que os desmatamentos aumentem na região A pecuária domina os arredores de Anapu ─ que depois da divisão passaria a integrar o estado de Carajás. Na região, é fácil perceber as consequências do desmatamento. Com as margens desmatadas, o Rio Xingu passou a ter o fundo forrado por bancos de areia trazida pelas chuvas. As montanhas de terra dificultam o tráfego de barcos e alteram o ecossistema. Caso a divisão do estado seja aprovada, a previsão é de que os desmatamentos aumentem na região](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-30-original3.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Na viela de palafitas no centro de Altamira, pelo menos quatro pontos de venda de drogas funcionam incólumes. Os moradores estão completamente alheios ao plebiscito. Para eles, todas as esperanças de crescimento e desenvolvimento estão depositadas na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a 40 quilômetros dali Na viela de palafitas no centro de Altamira, pelo menos quatro pontos de venda de drogas funcionam incólumes. Os moradores estão completamente alheios ao plebiscito. Para eles, todas as esperanças de crescimento e desenvolvimento estão depositadas na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a 40 quilômetros dali](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-34-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Vigilante de uma construtora no bairro de São Domingos, em Altamira, Francisco das Chagas da Silva, 41 anos, impressiona pela sinceridade: “Aqui, todo mundo é leigo. Ninguém como votar no plebiscito. Ninguém nunca viu uma divisão de estado, nem sabe o que pode acontecer de bom ou ruim” Vigilante de uma construtora no bairro de São Domingos, em Altamira, Francisco das Chagas da Silva, 41 anos, impressiona pela sinceridade: “Aqui, todo mundo é leigo. Ninguém como votar no plebiscito. Ninguém nunca viu uma divisão de estado, nem sabe o que pode acontecer de bom ou ruim”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-36-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Todos os dias, a dona-de-casa Ângela Maria, de 34 anos, mistura cloro à água retirada dos poços artesianos que abastecem seu bairro, na periferia de Altamira. A mistura lhe dá tranquilidade para matar a sede dos filhos. Questionada sobre a criação dos estados de Carajás e Tapajós, Ângela retruca com outra pergunta: “Por que querem dividir? É porque a verba vai ser grande?” Todos os dias, a dona-de-casa Ângela Maria, de 34 anos, mistura cloro à água retirada dos poços artesianos que abastecem seu bairro, na periferia de Altamira. A mistura lhe dá tranquilidade para matar a sede dos filhos. Questionada sobre a criação dos estados de Carajás e Tapajós, Ângela retruca com outra pergunta: “Por que querem dividir? É porque a verba vai ser grande?”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-43-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Natural de Piripiri, no Piauí, Antonia Melo da Silva, 61 anos, mora em Altamira há 55 anos. Ela é a coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, criado para combater a construção de hidrelétricas no Rio Xingu. Para ela, o problema da pobreza no interior do Pará está longe de ser resolvido com a divisão do estado. “O que falta é boa gestão”, diz. Segundo Antonia, o plebiscito sobre a criação de Carajás e Tapajós deveria abranger toda a população brasileira. “A estrutura dos novos governos vai sair dos bolsos dos contribuintes brasileiros”, afirma Natural de Piripiri, no Piauí, Antonia Melo da Silva, 61 anos, mora em Altamira há 55 anos. Ela é a coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, criado para combater a construção de hidrelétricas no Rio Xingu. Para ela, o problema da pobreza no interior do Pará está longe de ser resolvido com a divisão do estado. “O que falta é boa gestão”, diz. Segundo Antonia, o plebiscito sobre a criação de Carajás e Tapajós deveria abranger toda a população brasileira. “A estrutura dos novos governos vai sair dos bolsos dos contribuintes brasileiros”, afirma](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-45-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Cléo José Alves da Silva, secretário de Administração, Planejamento e Finanças de Senador José Porfírio, município de 14.000 habitantes às margens do Rio Xingu, mostra onde ficará a cidade caso sejam criados os estados de Tapajós e Carajás. Por ter sua área descontínua, cortada em duas por Anapu, Senador José Porfírio permaneceria metade no Pará remanescente e metade em Tapajós. Em março deste ano, ficou decidido que a cidade integraria a região tapajoense. O problema foi resolvido, mas a população continua em dúvida sobre o próprio endereço Cléo José Alves da Silva, secretário de Administração, Planejamento e Finanças de Senador José Porfírio, município de 14.000 habitantes às margens do Rio Xingu, mostra onde ficará a cidade caso sejam criados os estados de Tapajós e Carajás. Por ter sua área descontínua, cortada em duas por Anapu, Senador José Porfírio permaneceria metade no Pará remanescente e metade em Tapajós. Em março deste ano, ficou decidido que a cidade integraria a região tapajoense. O problema foi resolvido, mas a população continua em dúvida sobre o próprio endereço](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-50-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![A quinze dias do plebiscito que pode dar início à criação dos estados de Tapajós e Carajás, Crisleine Pacheco do Nascimento, 25 anos, vendedora em Senador José Porfírio, não sabia em que votar. A televisão trouxe a resposta. “Eu estava em dúvida sobre o meu voto, mas aí começaram a falar sobre o ‘não’ na televisão e eu decidi ir contra a divisão”. Ela assiste o único canal disponível para as populações que habitam as margens do Rio Xingu, a TV Liberal. O dono, Rômulo Maiorana Junior, declarou-se contrário à divisão A quinze dias do plebiscito que pode dar início à criação dos estados de Tapajós e Carajás, Crisleine Pacheco do Nascimento, 25 anos, vendedora em Senador José Porfírio, não sabia em que votar. A televisão trouxe a resposta. “Eu estava em dúvida sobre o meu voto, mas aí começaram a falar sobre o ‘não’ na televisão e eu decidi ir contra a divisão”. Ela assiste o único canal disponível para as populações que habitam as margens do Rio Xingu, a TV Liberal. O dono, Rômulo Maiorana Junior, declarou-se contrário à divisão](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-53-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![Mecânico de motocicletas em Senador José Porfírio, a cerca de 600 quilômetros de Belém, Carlos André Alves de Oliveira, 29 anos, ficou sabendo há alguns meses que haveria um plebiscito sobre a divisão do estado. “Ouvi falar sobre o projeto de divisão na escola”, conta. “Diziam como ficaria o mapa, qual seria o tamanho do estado, mas ninguém explicava os motivos da divisão” Mecânico de motocicletas em Senador José Porfírio, a cerca de 600 quilômetros de Belém, Carlos André Alves de Oliveira, 29 anos, ficou sabendo há alguns meses que haveria um plebiscito sobre a divisão do estado. “Ouvi falar sobre o projeto de divisão na escola”, conta. “Diziam como ficaria o mapa, qual seria o tamanho do estado, mas ninguém explicava os motivos da divisão”](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-54-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=390&w=636)
![O seringueiro Iolando Morais Pimentel, de 48 anos, vive com a família em uma casa de palafitas isolada às margens do Rio Xingu. Ele soube do plebiscito por meio do rádio, que frequentemente anuncia a votação. Francisco não sabe ao certo por que, mas acredita que seu voto faça sentido: “Fica do jeito que está”, afirma. “Se tiver divisão, só vai aumentar a quantidade de corruptos”. Faz sentido O seringueiro Iolando Morais Pimentel, de 48 anos, vive com a família em uma casa de palafitas isolada às margens do Rio Xingu. Ele soube do plebiscito por meio do rádio, que frequentemente anuncia a votação. Francisco não sabe ao certo por que, mas acredita que seu voto faça sentido: “Fica do jeito que está”, afirma. “Se tiver divisão, só vai aumentar a quantidade de corruptos”. Faz sentido](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-56-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
![O seringueiro Iolando Morais Pimentel, 48, e sua mulher Etelvina Batista Pimentel, 43, vivem há três anos em uma casa de palafitas isolada às margens do Rio Xingu. Souberam do plebiscito pelo rádio. As notícias, contudo, não esclarecem a importância da votação. “Se for Tapajós, a gente vai ter que trocar os documentos de identidade, né?”, pergunta Etelvina O seringueiro Iolando Morais Pimentel, 48, e sua mulher Etelvina Batista Pimentel, 43, vivem há três anos em uma casa de palafitas isolada às margens do Rio Xingu. Souberam do plebiscito pelo rádio. As notícias, contudo, não esclarecem a importância da votação. “Se for Tapajós, a gente vai ter que trocar os documentos de identidade, né?”, pergunta Etelvina](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/divisao-para-20111124-58-original.jpeg?quality=90&strip=info&w=928&w=636)
Com 13.000 habitantes, o município de Senador José Porfírio foi a primeira aberração que surgiu com a ideia da divisão do estado. No projeto inicial, metade da cidade ficou em território tapajoense e outra metade em área paraense.
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Em 11 de dezembro, um domingo, grande parte dos moradores de Altamira, Senador José Porfírio e Anapu, no Pará, acordarão em casas abafadas de palafitas, sem rede de esgoto nem água encanada, e percorrerão ruas de terra batida até alguma escola municipal de muros mal acabados. Diante da urna eletrônica, opinarão sobre a proposta de divisão do estado em três unidades federativas. A reportagem do site de VEJA visitou a região e constatou que, a poucos dias da votação, a população permanece completamente desinformada. Alguns sequer imaginam que terão de fazer uma escolha em poucos dias. Essa é a realidade dos municípios que ficarão na tríplice fronteira entre Carajás, Tapajós e o chamado Pará remanescente caso vença o “sim” no plebiscito marcado para a próxima semana.
Os que sabem que a votação se aproxima são movidos por um único motor, quer defendam o sim, quer defendam o não: a ausência do poder público. Quando aparecerem nas urnas as perguntas “Você é a favor da divisão do Estado do Pará para a criação do Estado do Tapajós?” e “Você é a favor da divisão do Estado do Pará para a criação do Estado do Carajás?”, parte dos 4,8 milhões de eleitores paraenses votará “sim”, porque acredita que isso os tirará da miséria. Parte dos que votam “não” argumenta que a divisão é mais uma ideia dos políticos interessados em algo mais rentável que o bem-estar da população.
O fato é que a divisão do Pará acarretará grandes impactos, que vão desde a repartição dos recursos federais até a alteração de identidades culturais, passando pela necessidade de construção de novas assembleias, tribunais, palácios, quarteis, pela criação de cargos eletivos e comissionados e pela possiblidade de se aumentar a carga tributária a nível nacional. Pelo andar da carruagem, no entanto, tudo indica que a escolha dos paraenses não será baseada em argumentos racionais, mas emocionais.
“Voto para não dividir o meu Pará”, afirma Francisca de Souza Silva, uma dona-de-casa de 48 anos, cabelos longos e encaracolados, com as unhas dos pés pintadas de roxo, encostada em um dos dois sofás que compõem o mobiliário da palafita encravada no bairro da Boa Esperança, na periferia de Altamira, a 830 quilômetros de Belém. Por quê? Francisca não sabe. Seu voto é amparado em argumentos que chegaram até ela pela televisão. “Não sei quando vai ser o plebiscito nem o número que tenho que apertar na urna”, diz. Quase todos os dias, ela ouve o apresentador Odair Oliveira, da TV Altamira, comentar a divisão do estado. “Ele não explica nada, só fala que vai ter uma votação. A campanha ainda não chegou aqui”.
Francisca é o retrato perfeito do morador de Altamira, o município mais extenso do mundo, com área equivalente a três estados do Rio de Janeiro e 105.000 habitantes que ficarão no lado de Tapajós com a divisão do estado. O marido trabalha em um garimpo ilegal de ouro às margens do Rio Xingu. O filho mais velho integra a equipe de operários da usina de Belo Monte, terceira maior hidrelétrica do mundo, e, para chegar ao trabalho, percorre 40 quilômetros de terra pela rodovia Transamazônica. Quando chove, as águas dos poços artesianos que matam a sede da vizinhança e os dejetos aglomerados em fossas se transformam em um só lago, onde as crianças insistem em nadar. Não há saneamento, segurança nem educação.
“As pessoas estão saturadas de políticos por aqui”, conta Elys Araújo, 35, pedreiro. “Nunca cumprem as promessas, nunca acontece nada”. Ele acha que, talvez por isso, as discussões sobre o plebiscito não façam parte das conversas dos moradores.
“Aqui todo mundo é leigo”, afirma Francisco das Chagas da Silva, 41, vigilante de uma obra no bairro de São Domingos. “Ninguém sabe em que votar. Ninguém sabe o que pode acontecer de bom ou ruim”. O depoimento de Francisco poderia ter saído da boca de qualquer altamirense. A poucos dias do pleito, as campanhas do “sim” e do “não” continuam concentradas na capital Belém. “Aqui não chega informação”, avisa José Lucas Uchôa, 52, piloto de voadeira no Rio Xingu. Os deputados federais, Zenaldo Coutinho (PSDB), e estadual, João Salame (PPS), presidentes das frentes pró e contra Carajás, respectivamente, informaram que a campanha estava prevista para começar naquela região no início de dezembro.
Xingu ─ Enquanto a campanha não chega, os moradores do interior (35% do eleitorado paraense) permanecem reféns das ondas do rádio e das emissoras de televisão. Na beira do Xingu, por exemplo, as populações ribeirinhas recebem notícias sobre o plebiscito por meio de rádios comunitárias ─ que se limitam a anunciar a data e o local da votação ─ e pela TV Liberal, cujo dono, Rômulo Maiorana Júnior, é contra a divisão.
O resultado: quem tem 400 reais para instalar uma antena parabólica e assiste ao canal de Maiorana vota “não”. “Estava em dúvida sobre o voto, mas aí começaram a falar sobre o ‘não’ na televisão e decidi ir contra a divisão”, afirma Crisleine Pacheco do Nascimento, 25, que trabalha em uma mercearia no município de Senador José Porfírio. Além da TV, Crisleine é influenciada pela avó, Fabiana Pacheco do Nascimento, 82, que também assiste à programação. “Ninguém está vendo que quanto mais estados, mais comedores de dinheiro?”, argumenta Fabiana. “Se os paraenses aceitarem essa armação, o Pará vai ficar sem nada”.
Tapajós ─ Com 13.000 habitantes, o município de Senador José Porfírio, mais conhecido como Souzel, foi a primeira aberração que surgiu com a ideia da divisão do estado. A cidade é uma das poucas que tem sua área descontínua, dividida em duas partes pela cidade de Anapu. Em 1991, quando um grupo de parlamentares liderados pelo deputado federal Hilário Coimbra, do PTB do Pará, desenhou o mapa do estado de Tapajós, as peculiaridades de Souzel foram ignoradas. Metade da cidade ficou em território tapajoense e outra metade em área paraense. “O impasse se estendeu até o começo deste ano”, conta Cléo José Alves da Silva, secretário de Administração, Planejamento e Finanças de Souzel. Em março, o deputado Lira Maia (DEM-PA) apresentou uma proposta para integrar a área remanescente ao território de Tapajós e a questão foi solucionada – ao menos para a prefeitura.
O povo de Souzel ainda não sabe com certeza o próprio endereço, na hipótese de o estado ser dividido. Leure Câmara, 28, que trabalha operando uma máquina de xerox em uma das três avenidas que formam o centro da cidade, afirma com todas as letras: “Aqui vai ser Carajás”. Carlos André Alves de Oliveira, 29, que conserta motocicletas em Souzel, engrossa o coro dos desinformados. “Eu tinha na minha mente que Souzel ia ficar no lado do Pará. Esses dias, descobri que ia ficar no lado do Tapajós. Se me perguntarem hoje, eu não sei onde vai ficar a minha cidade”. Na dúvida, Oliveira prefere optar pelo “não”. Os decretos legislativos 136 (que propõe Carajás) e 137 (que propõe Tapajós), ambos aprovados este ano, são bem claros: se o plano der certo, Souzel fará parte do estado de Tapajós.
Carajás ─ Em Anapu, município que divide Souzel, a realidade é diferente. Graças a um comitê da campanha do “sim” instalado na principal avenida da cidade e do trabalho de divulgação de lideranças municipais, a maior parte da população sabe que está no lado que pode se transformar em Carajás e vota pela criação do estado ─ embora também não saiba explicar por que.
Em 23 de novembro, quando o radialista José Nilton da Silva, 41, usou o microfone para convocar a população de 20.000 habitantes a ligar para a rádio e dizer qual posição tomariam no dia do plebiscito, o telefone não parou de tocar. Nas primeiras cinco ligações, os cidadãos anunciaram que votariam no “sim”. Por quê? “Do jeito que está, não dá”, resumiram. “A população reclama de tudo, principalmente da saúde e da educação”, conta Nilton. “Temos só dois médicos. O salário é de 22.000 reais e mesmo assim eles não ficam aqui. Falta água e luz quase todos os dias. Carajás tem minérios, Tapajós tem cacau e Belém, que não produz nada, é que fica rica”.
Foi em Anapu que, em fevereiro de 2005, a missionária americana Dorothy Stang foi assassinada a tiros por pistoleiros. O crime ganhou as páginas de jornais do mundo inteiro. De lá para cá, a violência diminuiu. Dos dez presos que ocupam a cadeia da cidade, cinco foram condenados por abuso sexual, três por roubo e dois por tentativa de homicídio.
A precariedade dos serviços públicos, contudo, continua idêntica. Foi agravada em 13 de novembro, quando um tufão atingiu o município, arrancando árvores, derrubando postes e destelhando casas ─ 1.229 pessoas foram afetadas e houve um prejuízo de 270 000 reais só com a infraestrutura pública. Em novembro, Anapu recebeu 397 975 reais do Fundo de Participação dos Municípios, repasse federal determinado pela Constituição. Só a folha de pagamento dos servidores consumiu 159 302 reais.
De acordo com Sandra Xavier, 38, chefe de gabinete da prefeitura e braço-direito do prefeito Francisco de Assis Souza, o Chiquinho do PT, a divisão do Pará resolveria a escassez de recursos. “A região metropolitana consome muito dos recursos estaduais e federais”, diz. “Queremos Carajás simplesmente porque precisamos de desenvolvimento e cansamos de ser esquecidos”. Indignada com a falta de dinheiro, Sandra não se deu conta que a criação de Carajás e Tapajós exigirá a construção de novas assembleias legislativas, palácios, quarteis e tribunais, além da criação de milhares de cargos comissionados ─ infraestrutura que custará caro aos cofres públicos.
A poucos quilômetros dali, em uma palafita que repousa isolada nas margens do Rio Xingu, o seringueiro Iolando Morais Pimentel, 48, que costuma cumprimentar jacarés de cinco metros de comprimento que aparecem na porta da casa todo fim de tarde, sabe do risco que corre. “Eu voto no ‘não’ para a quantidade de políticos corruptos não aumentar”, diz. Ângela Maria, 34, moradora do bairro de palafitas em Altamira, continua em dúvida. Questionada pela reportagem em como votará, ela retrucou com outra pergunta: “Mas por que querem separar? É porque a verba vai ser grande?” Antes de pensar em dividir, o Brasil deveria pensar em informar.