As ‘dores e delícias’ de Michelle Bolsonaro como dirigente do PL
Embora conte com apoio de aliados de peso, a ex-primeira-dama tem esbarrado em limitações de ordem burocrática dentro do partido
Há pouco mais de duas semanas empossada como presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro tem enfrentado dificuldades para fazer decolar seus primeiros planos dentro do partido.
Embora tenha à disposição a sinalização de uma robusta verba partidária e o apoio ativo de aliados de peso, como o próprio cacique Valdemar Costa Neto e o atual secretário de relações institucionais da sigla, o general Braga Netto, a ex-primeira-dama tem esbarrado em limitações de ordem burocrática.
Ainda sem equipe formada — mas em busca de assessores para a empreitada –, Michelle teve de postergar o que seria o grande lançamento de sua turnê de viagens pelo país, que terá o intuito de visitar diretórios regionais e discutir a pauta de direitos das mulheres. O evento de “estreia” estava sendo planejado para o dia 22 de março — número da legenda e, como veio a calhar, aniversário de 41 anos de Michelle –, mas teve de ser adiado por questões de logística. “Viajar custa dinheiro, precisa de planejamento, e não é algo que dá pra ser feito sem uma definição de equipe, por exemplo”, diz um interlocutor do PL, que avalia que as coisas devem “começar a andar”, a princípio, a partir de abril.
Outro plano que teve de ser recalculado foram as celebrações de 8 de março, Dia da Mulher. A data seria uma ótima vitrine para a projeção da nova líder do PL Mulher, mas, com a estrutura ainda mambembe — e com o receio de que o evento fosse ofuscado pelas solenidades tradicionalmente encabeçadas pelo governo federal –, dirigentes tiveram de deixar a ideia de lado.
Além de Michelle, a tropa de choque de parlamentares correligionárias também está animada para o lançamento da campanha de engajamento da mulher na política a ser empreendida, com o giro pelo país. Nesta semana, a ex-primeira-dama esteve com a deputada Bia Kicis, presidente do PL no Distrito Federal, para discutir detalhes de como serão as viagens.
O otimismo com Michelle é tamanho, que Jair Bolsonaro, há mais de dois meses nos Estados Unidos, não está fazendo falta. “Ele sempre será nosso capitão e deu a sua contribuição. Agora é a vez de Michelle, que recebeu esse chamado, de fazer a diferença para a política e para as mulheres”, diz uma parlamentar próxima à ex-primeira-dama.
Michelle viu escalar sua popularidade ao lado do marido nos últimos anos, principalmente junto ao valioso eleitorado evangélico, o que não passou despercebido pela cúpula da legenda, com quem tem se reunido com frequência. Levantando as bandeiras de preservação da família, dos direitos das mulheres e das pessoas com deficiência, teve como primeira “ação” à frente do PL Mulher a gravação de uma inserção contra o assédio durante o Carnaval. Embora ainda não se discuta formalmente uma eventual candidatura presidencial em 2026, as cartas estão na mesa. Por ora, estuda-se que Michelle pleiteie uma vaga ao Senado pelo Distrito Federal — o que envolveria uma disputa com outras postulantes, como a própria colega Bia Kicis –, ou por São Paulo.