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As articulações de Eduardo Cunha no retorno aos bastidores de Brasília

Principal nome por trás do impeachment de Dilma Rousseff recupera relevância política e faz movimentos que podem até beneficiar o governo do PT

Por Maiá Menezes Atualizado em 24 abr 2023, 10h20 - Publicado em 21 abr 2023, 06h00

Um velho conhecido está de volta aos bastidores do Congresso Nacional. Eduardo Cunha, o ex-superpoderoso presidente da Câmara dos Deputados e força motriz do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, tem circulado com desenvoltura em reuniões, jantares e rodas de conversa dos poderosos em Brasília. Demonstra, nos encontros, a atávica habilidade de costurar acordos nos quais busca se credenciar como interlocutor de grupos políticos que negociam apoio ao governo federal.

O retorno de uma das figuras mais controversas da história recente do país, que teve o mandato cassado e foi condenado a quinze anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro — desses, passou quatro atrás das grades —, soa inusitado a quem não pertence ao pantanoso universo do cerrado brasiliense. Em se tratando de Cunha, porém, a surpresa não existe. “Ele está em processo de retomada na cena política, tem habilidade de sobra para isso”, diz um de seus aliados mais próximos.

A cartada mais recente da velha raposa, como costumava ser tratado por amigos, é a articulação para que diversos personagens do União Brasil migrem para o Republicanos. Embora não tenha relação formal com nenhuma das legendas, Cunha, do PTB, se movimenta para aumentar o poder de influência do partido ligado à Igreja Universal. Evangélico fervoroso, ele mantém laços pessoais e ideológicos com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira.

O racha no União começou quando a atual direção passou a disputar espaço com Wagner Carneiro, que comandava o diretório do Rio de Janeiro. Conhecido como Waguinho, ele é uma das principais lideranças da Baixada Fluminense e emplacou a mulher, Daniela, no Ministério do Turismo, ao apoiar a candidatura de Lula, no ano passado, em uma região fortemente bolsonarista. Tida como uma nomeação pessoal do próprio petista, a mulher do prefeito não fatiou a pasta a seus pares, atalho para a ira. Em represália, de um dia para o outro, Waguinho perdeu a senha para acessar os recursos do fundo partidário.

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LAÇOS DE FAMÍLIA - Waguinho e a ministra Daniela: de saída do União Brasil
LAÇOS DE FAMÍLIA - Waguinho e a ministra Daniela: de saída do União Brasil (@waguinhobelfordroxo/Instagram)

Instaurada a cizânia, Cunha deu o bote: intermediou a ida do prefeito para o Republicanos e conseguiu que seis deputados federais entrassem com pedido de transferência ao TRE para seguirem o mesmo caminho — a Justiça Eleitoral precisa autorizar a mudança porque o mandato pertence ao partido. “Somos um grupo só, para onde um vai, todos vão”, diz um dos parlamentares envolvidos na manobra.

A aproximação entre o grupo rebelde e o ex-deputado se deu por meio de Danielle Cunha, filha de Eduardo, eleita deputada federal também pelo União do Rio de Janeiro. Em seu primeiro cargo público, é ela que tem servido de biombo nos corredores de Brasília para o pai, que tem usado o carro oficial da filha em seus deslocamentos pela capital. Sob orientação do pai, Danielle ganhou a confiança de Waguinho e de Domingos Brazão, outro peso pesado da política fluminense de saída do partido. A aproximação rendeu inclusive a nomeação de um ex-assessor de Cunha para um cargo no Ministério do Turismo.

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E, como onde está Cunha há sempre eletricidade, convém ficar de olho (tanto nele quanto nos seus aliados). Um dos bons amigos dele é Washington Quaquá, vice-presidente do PT, que não se cansa de causar constrangimento ao próprio partido ao fazer acenos a antigos desafetos. Na reunião que selou o apoio do Republicanos ao grupo dissidente do União Brasil, que soma quase 1 milhão de votos no Rio, lá estava Quaquá. O governo, aliás, tem buscado se aproximar do Republicanos em busca de reforço para sua frágil base de sustentação no Congresso. “Diferentemente do União, eles entregam o que prometem”, diz uma das pessoas que acompanham as negociações de perto, no Palácio do Planalto. “A questão é que essas bases escorrem pelas mãos, porque são movidas por interesses de grupos oportunistas”, diz o cientista político Antônio Carlos Mazzeo, da Unesp.

Enquanto Cunha ganha relevância, leve e faceiro, o União, que elegeu uma das maiores bancadas na Câmara e detém nove cadeiras no Senado, corre o risco de ver uma debandada geral. Os diretórios estaduais de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Bahia, Amapá e Rio Grande do Sul já demonstraram descontentamento com a postura agressiva da direção nacional, sobretudo em relação à sede de poder de Antônio Rueda, vice-presidente da legenda. Algumas deserções já são dadas como certas. Os senadores Sergio Moro (PR) e Soraya Thronicke (MS), que não precisam de autorização da Justiça para mudar de legenda, devem anunciar sua desfiliação em breve. “Aguardamos o desfecho, isso virou um caso de polícia”, desabafa Thronicke, sem destino certo. O Republicanos, com a ajuda incansável de Cunha, está de braços abertos.

Publicado em VEJA de 26 de abril de 2023, edição nº 2838

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