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Analistas: eleitor tardio e cenário nacional explicam surpresas estaduais

Cientistas políticos avaliam que discrepâncias entre pesquisas e urnas nos estados também sofreram influência da amostragem dos levantamentos

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 out 2018, 22h59 - Publicado em 8 out 2018, 20h09
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  • O primeiro turno da eleição de 2018 teve alguns desfechos não apontados pelos maiores institutos de pesquisas eleitorais, Datafolha e Ibope, sobretudo nas disputas a governos estaduais e ao Senado. Nestes casos, candidatos que não apareciam entre os favoritos acabaram sendo os mais votados e, ao contrário, postulantes que pareciam com mandatos garantidos a partir de 2019 foram derrotados.

    Para analistas políticos, as discrepâncias entre as pesquisas e as urnas se devem à pura e simples definição de última hora do eleitor, influenciado por informações recebidas a todo instante via redes sociais e WhatsApp, à eleição presidencial e a limitações nas amostragens das pesquisas.

    “Existe uma definição do voto nos últimos momentos da eleição, uma peculiaridade da eleição brasileira que reflete problemas estruturais, como a falta de um sistema partidário minimamente consolidado, muito regionalizado e fragmentado, com muitos partidos, que não têm uma imagem nacional. Partidos não servem como atalho para o eleitor se decidir”, diz o cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria.

    Entre os resultados não detectados pelos levantamentos, destacam-se as lideranças de Romeu Zema (Novo), na votação ao governo de Minas Gerais, e a de Wilson Witzel (PSC) no Rio de Janeiro. Com trajetórias ascendentes nas pesquisas, eles apareciam em terceiro lugar na véspera do pleito, mas foram, com folga, os mais votados, com 42,7% e 41,2% dos votos válidos de mineiros e fluminenses.

    Witzel aparecia com 17% dos votos válidos no Datafolha e 12% no Ibope. Seu resultado ficou, respectivamente, 22,2 pontos porcentuais e 27,2 pontos porcentuais acima dos limites máximos das margens de erro dos institutos. No caso de Zema, que tinha 24% no Datafolha e 23% no Ibope, sua votação foi 16,7 pontos porcentuais e 17,7 pontos porcentuais superior.

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    Tanto Romeu Zema quanto Wilson Witzel têm em comum apoios do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, que teve 46% dos votos válidos no primeiro turno. O candidato do Novo pregou voto em Bolsonaro durante o debate da TV Globo, último antes da votação, e Witzel fez campanha no Rio ao lado de Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável, eleito senador.

    Além de Romeu Zema e Wilson Witzel, outros que surpreenderam nas urnas beneficiados pelo embalo de Jair Bolsonaro são os senadores eleitos Major Olímpio (PSL), em São Paulo, e Luiz Carlos Heinze (PP), no Rio Grande do Sul. Os 25,8% de votos em Olímpio ficaram 7,8 pontos porcentuais acima do limite máximo da margem de erro do Datafolha e 9,8 pontos acima da do Ibope. Já Heinze aparecia em quarto lugar antes da eleição e foi o senador mais votado pelos gaúchos, com 21,9% dos votos – 7,9 pontos acima do limite máximo da margem de erro do Ibope.

    “Para o Executivo federal, não houve mudança nas posições nas pesquisas, mas a disputa nacional, é óbvio, impactou os estados, sobretudo aqueles que tinham candidaturas bem afinadas com Bolsonaro, seja para o Senado, como é o caso do Major Olímpio, seja ao governo estadual, como é o caso do Witzel”, afirma o cientista político Rui Tavares Maluf.

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    Por outro lado, apesar da aliança com Bolsonaro, o senador Magno Malta (PR-ES), que aparecia em segundo lugar na disputa no Ibope, com 24% das intenções de voto válido, não foi reeleito. Malta teve 17% dos votos dos capixabas, quatro pontos porcentuais a menos que o limite mínimo da margem de erro.

    Outras diferenças entre os números das pesquisas e os das urnas envolveram as candidaturas dos petistas Dilma Rousseff ao Senado por Minas Gerais e a de Eduardo Suplicy a senador por São Paulo. A ex-presidente e o vereador paulistano lideravam os levantamentos, mas ficaram sem as cadeiras no Senado.

    Tavares Maluf entende que uma possível explicação às divergências nos levantamentos eleitorais deste ano é que “as amostras das pesquisas eram muito modestas para uma eleição que, desde o início, estava evidente que apresentava um grau de novidade”. Para Rafael Cortez, “nem sempre a amostra consegue ser representativa”.

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    Voto útil e ‘esvaziamento’ de presidenciáveis

    Os analistas observam também, especialmente na eleição presidencial, que diferenças entre os números apontados pelas pesquisas eleitorais e os apurados nas urnas se devem ao voto útil do eleitorado. É o caso, por exemplo, dos presidenciáveis Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede), que apareciam com 8% e 4% das intenções de votos válidos na véspera da eleição e tiveram, respectivamente, 4,7% e 1% dos votos.

    Por outro lado, os dois candidatos que disputarão o segundo turno, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), tiveram votações pouco acima dos limites máximos da margem de erro das pesquisas. Bolsonaro tinha 41% no Ibope, 40% no Datafolha e recebeu 46% dos votos válidos; Haddad aparecia com 25% nos dois levantamentos e teve 29,2% dos votos.

    “Quando você pega a eleição para o Executivo federal, a própria perda de votos de candidatos como Marina e Alckmin significa a tremenda intensificação do movimento de voto útil, uma onda poderosíssima que se espalhou pelas eleições estaduais”, diz Rui Tavares Maluf.

    Rafael Cortez observa o voto útil “muito forte”, uma “peculiaridade”, em suas palavras, do pleito de 2018. “O voto útil esteve muito presente ao longo da campanha. Uma série de eleitores esperou os resultados das pesquisas para definir seu comportamento eleitoral”, afirma.

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