A notícia de que o tenente-coronel Mauro Cid está disposto a admitir a venda de joias recebidas pelo governo brasileiro, revelada por VEJA, elevou o nível de pressão sobre Jair Bolsonaro, sobre quem cairia a acusação de ser o mandante da operação.
Horas após a revelação, um dos advogados do ex-presidente entrou em contato com a defesa de Cid. Depois disso, tudo mudou. Defensor de Cid, o criminalista Cezar Bitencourt modulou o discurso, evitou acusar Bolsonaro diretamente e passou a minimizar a confissão, restringindo-a apenas à venda de um relógio Rolex, cujas evidências já estão colhidas pela Polícia Federal.
A família de Cid também mudou o tom, de acordo com pessoas que conversaram recentemente com o general Mauro Lourena Cid, pai do militar e também investigado no caso.
Dias antes de a ideia de confissão vir à tona, o general demonstrava desespero em livrar o filho da cadeia e dizia que o ex-ajudante de ordens era injustiçado por só ele estar “mofando” na prisão. “Ninguém defende o Mauro”, reclamava.
O general também minimizava a atuação de Cid enquanto ajudante de ordens de Bolsonaro. Segundo ele, o tenente-coronel era apenas um assistente sem nenhum poder decisório cuja função principal era repassar os recados ao ex-presidente.
“Tratam como se ele fizesse tudo. Ele atendia o telefone e passava. Alguém ligava para o Bolsonaro? Não. Ligava para o Cid e ele passava. Imagina a caixa de mensagens ao fim do dia”, afirmou o general a um interlocutor.
Entre a família, a confissão vem sendo tratada como a última cartada para tirar o ex-ajudante de ordens da prisão. Cid cumpre uma prisão preventiva que já se arrasta por quase quatro meses, o que eleva a tensão sobre a situação.
Apesar de manter os apelos pela soltura do militar, a família também passou a evitar qualquer menção a Bolsonaro. Além disso, aderiu ao discurso da defesa do ex-presidente, fazendo ponderações de que, apesar “pegar mal” a ação de Bolsonaro, a venda de joias era avalizada pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, vinculado à Presidência.
Até mesmo a entrega do dinheiro da venda do relógio em espécie a Bolsonaro, antes confirmada, passou a ser omitida. “Ninguém quer confrontar Bolsonaro”, disse a VEJA uma pessoa próxima a Cid.