Nada mais natural que um superpoderoso empresário que tenha passado dois anos e meio encarcerado em uma cela de 12 metros quadrados sair da prisão muito diferente do que era quando entrou. Marcelo Odebrecht, que deixará nesta semana a carceragem da Polícia Federal em Curitiba para cumprir prisão domiciliar, é hoje um homem mais introspectivo e, sob alguns aspectos, mais sereno. Também não ostenta mais a empáfia que deixou transparecer, por exemplo, no dia 15 de junho de 2015, quando esbravejou à imprensa que estava “irritado” por ter sido colocado “na linha de fogo do embate político” — “nós, que geramos empregos!”, exclamou, indignado. Quatro dias depois, seria surpreendido pela Polícia Federal em sua casa e levado à carceragem de Curitiba. Permaneceu preso por 914 dias. Nesse período, ao menos uma característica Marcelo Odebrecht manteve intacta. O herdeiro condenado a dezenove anos e quatro meses de prisão, tornado delator, impedido por determinação da Justiça de comandar seu império e mesmo de pertencer aos quadros da Odebrecht por dez anos, não perdeu a ambição. Marcelo Odebrecht sai da cadeia determinado a mostrar que a prisão não o aniquilou.
Ele descobriu, por exemplo, que no documento de 85 páginas que estabelece as condições de seu acordo de delação não há impedimento para que atue como terceirizado da Odebrecht quando se encerrar o período da prisão domiciliar, em 2020. No regime aberto, portanto, teria a possibilidade de criar uma empresa que preste serviços, inclusive, àquela da qual foi afastado. Essa é apenas uma das hipóteses que constam da carteira de planos do empreiteiro para o futuro.
Marcelo Odebrecht tem outros objetivos de curto prazo. Na holding familiar, a Kieppe, ele é detentor de cerca de 5% das ações (o que lhe permite uma retirada mensal aproximada de 10 milhões de reais, incluindo rendimentos e dividendos). Para não ser deixado de escanteio no controle da Odebrecht, dado que está rompido com o pai, Emilio, começou a construir uma aliança com dois primos, Francisco Peltier de Queiroz Filho e Emilio Odebrecht Peltier de Queiroz, que, juntos, detêm cerca de 10% da Kieppe. A aliança seria uma maneira de ele manter algum poder decisório na holding familiar e, consequentemente, no conselho de administração da Odebrecht, atualmente presidido por seu pai.
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