A articulação política de Lula brilhou, mas não foi no Congresso
Com dificuldade para consolidar sua base parlamentar, presidente apostou numa relação de parceria com alguns ministros do Supremo
No primeiro ano de seu terceiro mandato, o presidente Lula não conseguiu formar uma base de apoio sólida e majoritária no Congresso. Apesar de ter distribuído ministérios a partidos de centro e até da direita, ele sempre teve de negociar caso a caso a aprovação de projetos considerados prioritários. Na última quinta-feira, deputados e senadores, em sessão conjunta, derrubaram os vetos presidenciais à desoneração da folha de pagamento e ao marco temporal para a demarcação de terras indígenas.
Criticados por líderes do Centrão, os articuladores políticos do governo costumam dizer que, apesar de algumas derrotas, propostas importantes avançaram, como o novo marco fiscal e a reforma tributária. Eles alegam que, entre vitórias e fracassos, o saldo foi positivo, mas reconhecem também que a tensão na relação com os parlamentares continuará no próximo ano. A formação da base é um trabalho em permanente construção — e custoso, ao demandar cada vez mais liberação de emendas e distribuição de cargos públicos.
Aliança alternativa
Até para compensar suas dificuldades no Legislativo, Lula apostou numa relação de parceria com alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para deter pautas da direita que tramitam no Congresso, conseguir decisões judiciais favoráveis aos cofres da União e manter o antecessor Jair Bolsonaro em estado permanente de pressão.
De olho nesse tipo de ajuda, o presidente tem ouvido magistrados ao escolher nomes para cargos relevantes de primeiro escalão. Os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, por exemplo, chancelaram as indicações de Flávio Dino para o Supremo e de Paulo Gonet para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR), aprovadas pelo Senado na noite da última quarta-feira.
Para o governo, o Supremo é uma trincheira aliada. Num afago ao tribunal, Lula convidou os ministros do STF para um jantar na próxima terça-feira. Será uma espécie de confraternização de fim de ano, mas o presidente está de olho mesmo é numa série de casos que serão arbitrados pela Corte. Entre eles, a derrubada de seus vetos à desoneração da folha de pagamento e ao marco temporal.