‘2º turno entre Romário e Paes? Ajoelho e rezo’, diz Indio da Costa
Candidato ao governo do Rio pelo PSD diz que uma 'quadrilha' se apossou do estado; com 7% das intenções de voto, ele se vê como uma nova via
Três vezes vereador, duas vezes deputado federal, candidato a vice de José Serra em 2010 e recentemente secretário do prefeito Marcelo Crivella, Indio da Costa (PSD), ainda deputado, está enredado no patamar de 7% das intenções de voto para o governo do estado, segundo o último levantamento do Instituto Datafolha. Sua maior aposta para tentar uma virada na reta final é martelar o tema da segurança. Em entrevista a VEJA, ele apontou artilharia pesada contra o ex-aliado e hoje adversário Eduardo Paes (DEM), a quem acusa de ser ligado à “quadrilha” que se apossou dos cofres fluminenses. No segundo turno do Rio, garante, não apoia ninguém. Se não vencer, afirma que, aos 48 anos, depois de 26 na política, vai para a iniciativa privada.
Esta é segunda das entrevistas de VEJA com os cinco candidatos ao governo do Rio mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto. Foram convidados Eduardo Paes (DEM), Romário Faria (Podemos), Anthony Garotinho (PRP), Tarcísio Motta (Psol) e Indio da Costa (PSD). A entrevista com Tarcísio foi publicada no último dia 17.
O seu programa de governo é muito focado em segurança, como o de seus adversários. Em que a sua proposta difere da dos outros? Eles falam de intervenção, de aproveitar o Exército e a ajuda do governo federal. Minha proposta é reestruturar as polícias e investir em inteligência e investigação. Se não investigar, não descobrir quem está cometendo o crime, você pode quintuplicar o número de policiais militares que não vai resolver o problema.
O senhor fala de ocupação mais funcional dentro das favelas. Traduza. Primeiro, vou reestruturar a polícia. A corregedoria deve ser forte, com instrumentos e investigação para identificar quem está usando a farda e o distintivo para cometer crimes e deixar o tráfico e a milícia à vontade. É óbvio o que estou dizendo, sim, mas as políticas de segurança no Rio sempre foram pirotécnicas e não saíram do lugar.
As UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) foram pirotecnia? Foi panfleto eleitoral. O Sérgio Cabral (ex-governador) percebeu o impacto social e político das UPPs e resolveu transformá-las em um programa político.
O senhor foi secretário no governo de Sérgio Cabral e de Eduardo Paes e hoje critica pesadamente ambos. Não é contraditório? Hoje, não. Critico desde 2015. Nunca imaginei que tinham montado uma quadrilha para roubar o estado. Até quem é bandido se surpreendeu com o tamanho da bandidagem.
Existe a possibilidade de o senhor apoiar Eduardo Paes no segundo turno? Zero. Seria apoiar a continuidade da quadrilha que tomou conta do Rio de Janeiro desde 2006. O Eduardo me convidou para ser vice dele, foi na minha casa, pediu para o Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados, do DEM) me procurar. Ele juntou todos os políticos que estavam ao redor do Cabral. Como eu poderia aceitar ser vice dele?
O senhor apoiaria alguém? O Romário não tem preparo para ser governador. Se tiver um segundo turno entre Romário e Eduardo, ajoelho e rezo. Também não apoiaria o Garotinho.
Em 2016, o senhor decidiu apoiar no segundo turno o prefeito Marcelo Crivella (PRB) mesmo tendo feito críticas contundentes contra ele durante a disputa. Era Marcelo Freixo ou Marcelo Crivella. O Freixo representando o modelo do PSOL, que é passar a mão na cabeça de bandido. E o Crivella, com uma promessa de gastar um dinheiro que não existia. Ele foi na minha casa, me pediu ajuda, ficou quatro horas ouvindo o que eu faria na prefeitura. Fui trabalhar para o Rio.
O Hudson Braga, ex-secretário de Obras do Cabral, afirmou em delação que o senhor recebeu 30 milhões de reais para apoiar a candidatura do atual governador Luiz Fernando Pezão. Paulo Fernando Magalhães Pinto (empresário-assessor de Cabral) também o citou, afirmando que o senhor teria recebido dinheiro de caixa dois. Como recebeu essas acusações? É mentira. Nunca ganhei dinheiro de Cabral, Pezão, Hudson, Paulo Fernando. Sou relator da Ficha Limpa — essa turma estava toda de um lado e eu, do outro. Se fosse para eu me vender, tinha me vendido lá em 2010. Imagina o tamanho da pressão dos representantes dessa turma no Congresso Nacional. Eles estão presos, eu estou solto. Eu estou dando entrevista para vocês e eles, para a polícia federal.
O senhor disse que foi ameaçado por ter sido o relator do projeto da Lei da Ficha Limpa. Quem o ameaçou? Quando eu entrei na sala do presidente da Câmara, que na época era o Michel Temer, estavam lá Eduardo Cunha, João Pizzolatti, Sandro Mabel, Henrique Eduardo Alves. Disseram que não deixariam o projeto ser aprovado de jeito nenhum e que a partir daquele momento eu teria muita dificuldade de lidar com meus pares no Congresso.
Como o senhor pretende conquistar maioria na Assembleia Legislativa do Rio sem alianças? Com a sociedade, como eu fiz com a lei da Ficha Limpa. Eu não participo de nenhuma quadrilha, não preciso perguntar nada para o (Jorge) Picciani (presidente da Assembleia Legislativa que cumpre prisão domiciliar) ou Cabral antes de tomar uma decisão. Aliás, isso me impressionou quando eu era secretário do Eduardo (Paes). Para demitir um funcionário na Vila Olímpica, ele foi consultar o Picciani. Ele me contou isso. Os projetos de lei que eu vou mandar para a Alerj são de interesse público, portanto do interesse da população que elegeu os deputados.
E funciona assim? Olha, eu tive cinco mandatos, conheço muito bem o Legislativo. E também estive na outra ponta, fui secretário. O sistema nunca vai mudar se a população continuar elegendo pessoas como o Eduardo Paes. Quem representa o modelo da quadrilha é o candidato da quadrilha.
O senhor acredita que o fenômeno Bolsonaro pode arrefecer? Não. Acho consistente por representar o voto da revolta, além de ter uma proposta completamente diferente do que está aí. Eu fui ao Geraldo Alckmin e falei para não fazer a aliança que ele fez. A resposta que ouvi é que a televisão é fundamental. O PSD está com ele, eu estou na dúvida entre ele e Bolsonaro, que é do Rio e vai ter a sensibilidade de ajudar a situação do estado. (Em debate no SBT na quarta 19, Indio anunciou o apoio a Bolsonaro).
O que o senhor pensa do Regime de Recuperação Fiscal do estado? Precisa ser revisto. Um presidente fraco e um governador fraco fizeram esse acordo, os dois do mesmo partido. O presidente, interessado em atender o governador para não sair da própria cadeira escorraçado, deu um alívio nos pagamentos com o governo federal e outro na segurança pública, ao fazer a intervenção.
Se for eleito, como vai ser a sua indicação para o Tribunal de Contas do Estado (TCE)? Certamente, técnica. O governador precisa ser fiscalizado.
Mas o seu vice, Zaqueu Teixeira, foi um dos deputados que votaram a favor da nomeação para o TCE do colega Domingos Brazão, que foi preso por corrupção. Ele também votou pela revogação da prisão de Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, também presos por corrupção. Não é contraditório tê-lo como companheiro de chapa? Não, eu o escolhi porque ele é da Baixada Fluminense. Você não vai equacionar a crise do estado se não resolver segurança e emprego na Baixada e em São Gonçalo. Durante um período, quem votava contra o Cabral era colocado de lado. A facção do Cabral dominou o estado.
Mas a votação no caso do trio foi em 2017. Cabral já estava preso. Eu não teria votado igual. Não escolhi ele por causa dessa votação. Ele é um cara honesto, prendeu o Elias Maluco, o assassino do (jornalista) Tim Lopes. Foi chefe de polícia, entende muito de investigação. E não estará na Assembleia.