Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Não acredito que houve risco de golpe, diz presidente do Republicanos

Em campanha para a presidência da Câmara, o deputado Marcos Pereira afirma que o 8 de Janeiro foi um ato de vandalismo e critica a tentativa de cassar o PL

Por Adriana Ferraz Atualizado em 16 fev 2024, 09h23 - Publicado em 16 fev 2024, 06h00

Prestes a iniciar o seu maior voo eleitoral — a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2025 —, Marcos Pereira (Republicanos-SP) tenta se distanciar do bolsonarismo e faz acenos ao governo Lula, de quem espera ajuda na disputa pela sucessão de Arthur Lira (PP-­AL). Embora tenha apoiado não só o mandato de Jair Bolsonaro, como a sua tentativa de reeleição, Pereira afirma que a relação com o ex-presidente “nunca deu liga” (“Falo aquilo que penso e isso, às vezes, desagrada a quem está no auge do poder”). Ele também critica os atos de 8 de janeiro, embora não ache que os distúrbios tenham sido uma tentativa de golpe — risco que, para ele, nunca existiu. “Com todo o respeito ao ex-­presidente Jair Bolsonaro e à sua patente, nunca acreditei que as Forças Armadas fossem apoiar um golpe para manter um capitão no poder”, afirma. Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e um dos líderes da influente bancada religiosa na Câmara, Pereira reconhece haver dificuldades na relação dos evangélicos com Lula, principalmente por causa das pautas de costumes, mas elogia programas como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida e diz que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é uma “surpresa positiva”. Sobre as trombadas do STF com o Congresso, defende que a relação entre os poderes não pode ser uma “queda de braço” . Confira entrevista a seguir:

Qual a sua avaliação sobre a investigação da PF, avalizada pelo Supremo, que atingiu o ex-presidente Bolsonaro e colocou também sob suspeita o PL, que teve até o presidente Valdemar Costa Neto preso? Sobre a ação da semana passada, a Polícia Federal tem independência para proceder às investigações. É óbvio que todas as investigações devem respeitar o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa, sob pena de cometer os erros que a Lava-Jato cometeu. Já a movimentação para tentar cassar o registro do PL não é a melhor opção. Trata-se de um absurdo.

Houve tentativa de golpe no Brasil? O que ocorreu em 8 de janeiro foi lamentável, mas foram atos de vandalismo, e não de terrorismo ou tentativa de golpe. Ali só tinha pessoas do povo, que estão sendo e devem ser investigadas e processadas. Não tinha nenhuma autoridade, nenhuma pessoa com liderança ou capacidade política e intelectual para liderar um golpe.

Mas as investigações apontam para uma efetiva tentativa de golpe, que tinha até uma minuta elaborada. Não tem como você fazer um golpe se não tiver a cúpula das Forças Armadas engajada. E é justamente pela falta desse engajamento que eu nunca acreditei. Com todo o respeito ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à sua patente, também nunca acreditei que as Forças Armadas fossem apoiar um golpe para manter um capitão no poder. Se eles fossem, eventualmente, dar um golpe, seria para colocar um general no comando do governo.

Continua após a publicidade

“Existe, sim, uma dificuldade de diálogo do governo com a massa evangélica. Mas o que pode ser feito? Devem procurar fazer menos pautas ideológicas. Isso pode nos aproximar”

Além da investigação sobre o golpe, outras operações recentes da PF autorizadas pelo STF suscitaram críticas ao comando do Congresso. O senhor acha que está ocorrendo algum exagero? O Parlamento se fortaleceu muito nos últimos anos, mas sempre é preciso reforçar isso. Recentemente, o Supremo afastou um deputado liminarmente (Daniel Silveira) e a Câmara o manteve no mandato. O mínimo a fazer nesses casos é avisar o presidente da Casa para não causar desconforto. A relação tem que ser construída com muito diálogo e tranquilidade. Não pode ser com queda de braço. Os poderes são independentes, mas são harmônicos. Se há desarmonia, há uma inconstitucionalidade.

O senhor é candidato à presidência da Câmara. Quais serão as suas bandeiras? Nós iremos atrás de todos os votos da esquerda, do centro e da direita, porque quem me conhece sabe que sou um democrata. Sou uma pessoa de palavra, que honra compromissos. Uma pessoa mais previsível, que pode ter uma pauta organizada e com maior antecedência. A independência da Câmara e o fortalecimento das prerrogativas parlamentares são temas que também iremos apresentar.

Continua após a publicidade

Na retomada do Congresso, o presidente Arthur Lira deu uma série de recados ao governo Lula, especialmente no que se refere ao controle do orçamento, que, segundo ele, deve ser dividido entre Legislativo e Executivo. Qual a sua posição sobre esse avanço do Parlamento sobre o orçamento, por meio de emendas cada vez mais altas? Se eleito, mudaria alguma coisa nesse aspecto? Não. O que o Congresso Nacional está fazendo é exercer suas prerrogativas constitucionais de análise e modificação por meio de emendas, garantindo assim a participação do Poder Legislativo na definição das políticas públicas e na alocação dos recursos financeiros do país, de maneira semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos da América e no Brasil, ambos sendo federações onde cada estado tem suas próprias peculiaridades. Os parlamentares têm conhecimento da realidade de seus estados e dos municípios que integram, estando em contato com as realidades regionais e as demandas políticas de suas populações. Nesse sentido, oferecem emendas que refletem uma variedade de interesses políticos e regionais.

Quando Lira foi reeleito, noticiou-se que ele o apoiaria em sua tentativa de sucedê-lo. Acredita que ele vai manter esse compromisso? Já conversaram sobre isso? O presidente Arthur ainda tem um ano de muito trabalho pela frente e eu, como seu vice-presidente, tenho a missão de ajudá-lo a cumprir a missão legislativa que ele assumiu ao ser eleito. Está muito cedo para discutir a eleição da Mesa Diretora, que só ocorrerá em 2025.

Por que o senhor defende limitar o acesso dos partidos ao Supremo? Há uma politização inegável do STF provocada pela política. Essa limitação é debatida na Câmara desde a época do presidente Rodrigo Maia, quando foi criado um grupo de juristas, coordenado pelo ministro Gilmar Mendes, sobre o tema. Apresentei projeto de lei sobre isso no ano passado. Não estou falando com demérito, mas qual é a representação do Novo no Parlamento? Qual era a representação da Rede na legislatura passada? A Rede tinha uma deputada e um senador, e tudo com que não concordava, muitas vezes por questões ideológicas, recorria ao Supremo. Defendo limitar esse acesso a partidos que cumprirem a cláusula de desempenho.

Continua após a publicidade

O senhor insiste que o Republicanos não é base da gestão Lula, apesar de comandar um ministério, o de Portos e Aeroportos. Como é possível integrar o governo sem ser governo? Silvio Costa Filho é um dos melhores quadros que o nosso partido tem. Ele e sua família têm uma relação pessoal com o presidente e jamais o partido poderia impedir que ele realizasse esse sonho, na sua jovem mas bem-­sucedida carreira política, de tornar-se ministro. Mas, antes disso, nós já tínhamos sido apontados como um partido que vota majoritariamente, em média 80%, 85%, favorável aos projetos do governo. Nada mudou.

A suspensão pelo governo da isenção fiscal sobre salários de líderes religiosos criou um mal-estar com os evangélicos? A isenção é sobre a contribuição patronal desses agentes, que são considerados autônomos para a Previdência. Quando o governo revoga essa orientação, ele dá margem para que os auditores da Receita a interpretem da forma que acharem que tem que ser. Em um primeiro momento, criou-se um desconforto, sim, mas a Frente Parlamentar Evangélica agiu rapidamente. O presidente, deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), veio a Brasília tratar exclusivamente desse assunto com o ministro Fernando Haddad e a Receita. Esclareceu-se que não há perseguição em relação aos templos e às igrejas e criou-se um grupo de trabalho. Eu quero crer que, ao final, isso seja restabelecido.

Por que a relação do segmento evangélico com o governo atual é tão difícil? A dificuldade da relação se dá pela pauta. É sabido que os evangélicos, na sua grande maioria, são conservadores nos costumes e liberais na economia. E a pauta de um governo de esquerda não se coaduna com isso. Mas o que pode ser feito? Devem, evidentemente, fazer menos pautas ideológicas. Isso pode nos aproximar.

Continua após a publicidade

De quais pautas o senhor está falando? Recentemente, eu li que o governo, ao se referir a uma política pública relacionada ao período menstrual, teria colocado que “pessoas menstruam” e não que “mulheres menstruam”. Enfim, são bobagens da tal da nova linguagem, mas que o governo usa para poder agradar a uma minoria e acaba, às vezes, desagradando à maioria. Eu entendo que quem menstrua são as mulheres. Nunca vi homem menstruar.

“Com todo o respeito ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à sua patente, eu nunca acreditei que as Forças Armadas fossem apoiar um golpe para manter um capitão no poder”

E qual a sua posição sobre outras pautas consideradas polêmicas, como aborto e união homoafetiva? Ambas devem permanecer como estão. Sobre a união homoafetiva, da forma como o Supremo decidiu, ela não atinge a questão religiosa. O que não pode, e o STF não fez, é obrigar que padre ou pastor celebre casamentos religiosos.

Continua após a publicidade

Qual a sua avaliação sobre o primeiro ano do terceiro governo Lula? Acho que na parte econômica o ministro Fernando Haddad tem sido uma grande surpresa positiva e tem dialogado bastante com o mercado, com o setor produtivo. Entendo que o governo acertou também quando reeditou o PAC, porque isso induz crescimento econômico, e quando retomou o projeto Minha Casa, Minha Vida.

O Republicanos se apresenta como “o verdadeiro partido conservador do Brasil”. Mas esse conservadorismo não foi cooptado pelo bolsonarismo? Conservadorismo está muito longe de radicalismo, não tem nada a ver com aquilo que aconteceu em 8 de janeiro no Brasil e, em 2021, no Capitólio, nos Estados Unidos. Isso é radicalismo.

O bolsonarismo é radical e extremista, então, na avaliação do senhor? Parte dele eu diria que sim. E eles não gostam quando eu digo isso.

Tarcísio de Freitas, que é do Republicanos, será candidato a presidente em 2026? O que ele me diz é que é candidato a governar bem São Paulo e disputar a reeleição. É isso que tem dito e é isso que a gente tem trabalhado. Os governadores de São Paulo em primeiro mandato que tentaram a Presidência não foram bem-sucedidos. O paulista, em geral, não vê isso com bons olhos.

Então qual seria o candidato a ocupar o espaço deixado por Bolsonaro? São esses nomes que já estão colocados aí e que podem viabilizar o campo da centro-direita: os governadores de Minas, Paraná e Goiás, a senadora Tereza Cristina. Mas isso está longe. Temos que passar pela eleição de 2024.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.