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Seria o fim da TV?

Em entrevista, Robert Kyncl, alto-executivo do YouTube, explica a opção de criar o Red, versão de assinaturas pagas do site, e discute se o surgimento de inovações digitais, a exemplo do Netflix, representa o início de um “game over” para os canais tradicionais.

Por Filipe Vilicic Atualizado em 24 Maio 2016, 16h09 - Publicado em 14 nov 2015, 14h11

Na última década, o tcheco Robert Kyncl se firmou como um dos executivos mais poderosos da indústria do entretenimento. Já foi listado como um dos profissionais mais revolucionários da setor por publicações renomadas como as americanas Vanity Fair e Billboard. Antes de ingressar no YouTube no cargo de Chief Business Officer – responsável por todos os negócios da marca -, foi vice-presidente de conteúdo do Netflix, onde liderou a transição de uma empresa de entrega de DVDs para o maior serviço de streaming online de filmes e séries de TV, hoje com populares produções originais, a exemplo de House of Cards e Narcos. No Google, dono do YouTube, reformulou o site de vídeos, tirou-o do prejuízo, com o faturamento com anúncios, e, no mês passado, lançou o Red, versão paga da página que pode concorrer com o Netflix – a assinatura sai por cerca de 10 dólares, mas ainda não está disponível no Brasil. Nesse espaço, o assinante tem acesso a novas funcionalidades, como a possibilidade de salvar e ver vídeos off-line, e a conteúdo original e exclusivo.

Kyncl veio ao Brasil na primeira semana deste mês para participar da versão nacional do maior evento mundial do Youtube, o Brandcast, ou ainda Fan Fest (em inglês, festa dos fãs), que reuniu, em São Paulo, milhares de pessoas dispostas a passar horas em filas para ver youtubers brasileiros – a alcunha dada às celebridades que nascem no site. O Brasil está entre os cinco maiores mercados globais do site, sendo que 70% da população assiste a vídeos online – destes, 95% entra no YouTube. No país, em torno de 48 milhões de pessoas dizem ter trocado o hábito de ver TV pelo acesso ao site. Na entrevista a seguir, Kyncl defende a decisão de criar uma versão paga do serviço até hoje gratuito e discute se a chegada de inovações como o YouTube e o Netflix representa o fim da televisão tal qual conhecemos.

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Por ser pago, o Red não contradiz a ideia central do YouTube, uma plataforma gratuita e, portanto, aberta? São múltiplas as razões para criar o Red. O público, os criadores do YouTube, os anunciantes, todos estavam pedindo por novas ferramentas dentro do site. Como a possibilidade de ouvir um vídeo enquanto se faz outra tarefa, em um aplicativo ou programa de PC. Ou a opção de ver vídeos off-line, quando se tem empecilhos de conectividade. O Red traz essas opções. Um segundo motivo é que se trata de uma nova fonte de faturamento. Não só para o Google, dono do YouTube, mas também para nossos parceiros, os youtubers. Por fim, se observarmos a indústria da mídia, é evidente que o lucro vem da soma de assinaturas pagas com publicidade. Sempre foi assim e seguimos essa linha.

Alguns publicitários têm reclamado da mudança, alegando que será ruim por prejudicar a abrangência dos anúncios, já que na versão paga eles não existem. Não teríamos feito se não tivéssemos certeza que será possível agradar a todos os envolvidos. O Red abre novas portas. Como exemplo, é possível pensar em outras formas de inserir publicidade dentro das produções. Vale frisar ainda que a versão paga do site não tem como impactar diretamente a audiência do gratuito. Se todas as famílias americanas pagassem pelo Red, ou seja, com uma soma de 100 milhões de assinaturas, isso não representaria 10% do total de nossa audiência do YouTube. Logo, dificilmente esse público maior será afetado.

Tradicionalmente, o YouTube, e também o Google, são plataformas, não produtores de conteúdo. Querem entrar também nesse ramo, como fez o Netflix? Estamos nessa a partir de agora, com vídeos originais. Selecionamos criadores que já são famosos no site e investimos neles para que façam projetos ambiciosos, e mais caros.

Trata-se de uma competição direta com serviços de streaming como o Netflix e o HBO Go? Não. Adotamos estratégia distinta. Não queremos ser uma plataforma fechada, onde o conteúdo é simplesmente escolhido de cima para baixo, como sempre foi com canais de TV, e como é com o Netflix. O que temos de único é nossa base de criadores, os youtubers. Eles crescem, alcançam sucesso, ganham um bom dinheiro com isso e pensam grande. Queremos dar razões a eles para continuarem conosco, sem ter de migrar para a TV tradicional para dar passos largos. O Red é o ambiente para isso.

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O YouTube, entretanto, ainda é amplamente conhecido como uma coleção de vídeos amadores, onde se vai para assistir a cachorros andando de skate ou gatos tocando piano. Como redefinir essa imagem e fazer com que o público perceba que lá é um espaço de trabalho profissional? A percepção já está mudando. Dê uma olhada no site. Não tem como considerar os vídeos que costumam estar entre os mais vistos, como os clipes musicais de Taylor Swift, como não profissional. Há uma mescla dessas superproduções com o conteúdo amador. Por isso, considero que somos uma plataforma extremamente democrática, diferentemente dos canais de TV tradicionais. No YouTube, um garoto que filma em casa concorre com humoristas, a exemplo dos do Porta dos Fundos, de igual para igual. Se um amador faz sucesso, ele logo pode se profissionalizar, monetizar as criações e começar a viver disso. Trata-se de um cenário que evoluiu junto com o site. Nos últimos dez anos o YouTube passou a disponibilizar vídeos em alta-definição e, mais recentemente, em 4K. Isso naturalmente dá impulso para a ampliação de produções de qualidade.

O site, onde é possível achar cópias piratas de filmes e episódios completos de séries de TV, sofre com questões envolvendo direitos autorais. Agora que possuem assinaturas pagas, esse problema não deve aumentar? Temos transformado o problema em oportunidade. Sim, existem os vídeos piratas, mas eles costumam ser inseridos lá não para ganhar dinheiro, e sim por fãs que querem compartilhar o que gostam. Nossos algoritmos, porém, detectam quando algo que infrinja direitos autorais é publicado. O que fazemos é dar opções a quem detém os direitos. É possível derrubar o vídeo, sim. Mas também dá para se aproveitar dele como jogada de marketing, para divulgar a marca. Ou mesmo monetizá-lo com anúncios, e o dinheiro vai diretamente para o detentores dos direitos autorais. Como disse, o problema virou uma oportunidade, integrante de nosso modelo negócios.

Os criadores do YouTube, como os comediantes do Porta dos Fundos, ou os youtubers que avaliam games, a exemplo do popular Pedro Rezende, são os popstars do mundo moderno? Exatamente. É incrível que, se colocamos uma banda famosa como os ingleses do One Direction em um evento de youtubers, como já fizemos, o público prefere atentar a um dos criadores do site que passa pelo palco do que para os cantores. Fizemos encontros de youtubers em locais abertos, em dias em que chovia muito, achamos que ninguém compareceria, e no fim vieram 5 000 pessoas, deixando gente de fora. É um novo tipo de celebridade que surge. Uma que não se distancia dos fãs, como são com os atores de Hollywood. Pelo contrário, youtubers têm intimidade com a audiência.

É o início do fim para os canais de TV tradicionais? Não. Ou, melhor, ainda não. Haverá um balanço. A TV domina a sala das casas, sendo o aparelho central desse ambiente, e continuará assim por um tempo. Não participamos desse ramo da economia. Por outro lado, dominamos a internet e, principalmente, a experiência de ver vídeos no mundo móvel, formado por smartphones e tablets. Cada um terá seu espaço. Sendo que na TV as pessoas assistirão mais a produções de interesse geral, como fazem hoje. Enquanto no YouTube buscam por canais de nicho, pelo que toca seus gostos mais particulares.

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