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Terapia do século XIX se mostra útil contra Parkinson

Efeitos benéficos de cadeira vibratória, porém, podem vir do efeito placebo

Por Da Redação
20 abr 2012, 22h03

O francês Jean-Martin Charcot é considerado um dos pais da neurologia moderna. No final do século XIX, ele desenvolveu uma cadeira vibratória para tratar a doença de Parkinson. A tecnologia alcançou bons resultados na época e conseguiu aliviar os sintomas de diversos pacientes. No entanto, Charcot morreu pouco depois, e não realizou estudos mais detalhados sobre como ela funcionava. Agora, um grupo de cientistas do Centro Médico da Universidade Rush, nos Estados Unidos, replicou o experimento e testou seus benefícios usando os parâmetros científicos atuais.

Opinião do especialista

Erich Fonoff Neurocirurgião da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP

“Charcot foi um dos fundadores da neurologia como disciplina da medicina. Ele estudava várias doenças, entre elas o Parkinson. Como ele era muito conhecido, os pacientes vinham de longe para se consultar com ele. Eles iam de carroça ou trem, meios de transporte que tinham uma vibração. O que o médico percebeu é que os pacientes chegavam melhor, e depois de alguns dias pioravam. Ele atribuía isso a algo que tinha acontecido na viagem”

“Os pesquisadores usaram uma cadeira vibratória, dessas usadas para massagem. Como os dois grupos de voluntários apresentaram melhoras, eles concluíram que a vibração não era significativa. No entanto, a pesquisa mostrou que as pessoas que sentaram na cadeira vibratória tiveram um benefício um pouco maior. Podemos traçar duas hipóteses a partir disso. Ou as melhoras foram efeito de placebo ou o grupo de pessoas estudadas não era suficientemente grande para provar um pequeno efeito da vibração. Se esse efeito existir, ele deve ser menor que o de um remédio.

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“O Parkinson é uma doença que afeta a sintonia dos circuitos neuronais. Uma das teorias que existe é que a falta de dopamina causa uma alteração nessa sintonia, e a informação não é carregada de modo efetivo entre os neurônios. Por isso acontecem os tremores. Quando você aplica uma vibração no corpo da pessoa, seus neurônios sensitivos capturam isso. É possível que, para cada paciente, exista uma frequência de vibração que melhore a sintonia entre seus neurônios. Isso é uma teoria, que também pode explicar porque os resultados dessa pesquisa não foram tão satisfatórios, já que foi aplicada a mesma frequência a todos os voluntários.”

A pesquisa, que foi publicada na edição deste mês do Journal of Parkinson’s Disease, mostrou que a cadeira de fato aliviava os sintomas da doença. No entanto, os cientistas descobriram que as melhoras não necessariamente vinham das vibrações do aparelho, mas podiam ser resultado do efeito placebo.

A tecnologia foi desenvolvida por Charcot depois de conversar com seus pacientes que sofriam de Parkinson, e ouvir que os sintomas desconfortáveis e dolorosos da doença passavam após longas viagens de trem ou carruagem. Foi aí que ele teve a ideia de construir uma cadeira que copiava o chacoalho constante dos veículos.

Para testar os benefícios da tecnologia, a equipe da universidade selecionou 23 pacientes com a doença, e os colocou aleatoriamente para sentar ou em cadeiras normais ou em cadeiras vibratórias que emulavam a invenção do século XIX. “Nós tentamos copiar o protocolo de Charcot com equipamentos modernos, para confirmar ou refutar sua observação histórica”, disse Christopher Goetz, coordenador do estudo. Durante cada sessão de 30 minutos na cadeira, os voluntários ouviram um CD com sons da natureza, para ajudá-los a relaxar. O tratamento, diário, durou um mês.

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Como resultado, os pacientes que sentaram na cadeira vibratória apresentaram uma grande melhoria em suas funções motoras. Já os pacientes que sentaram nas cadeiras normais mostraram um grau um pouco menor de melhora, mas ela ainda foi significativa. Os dois grupos sentiram benefícios em relação à depressão, ansiedade, fadiga e horas de sono, além de terem se mostrado satisfeitos com o tratamento.

A conclusão dos pesquisadores foi que as melhorias não foram causadas pela vibração em si, mas por algum outro fator presente no experimento, como o efeito placebo. “Nossos dados sugerem que tanto os estímulos sensoriais auditivos somados ao relaxamento numa cadeira, como a simples participação na pesquisa podem ter benefícios equivalentes à vibração na função motora dos voluntários”, disse Goetz.

Saiba mais

*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.

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