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Ministra do México garante: ‘Rota turística do país é segura’

Gloria Guevara mostra número recorde do setor e diz que ação do narcotráfico está concentrada em uma região que representa 'menos de 5%' do território

Por Cecília Araújo
25 mar 2012, 09h04

“O combate ao narcotráfico não é um problema do México, é mundial, e requer uma solução igualmente global. Mas é claro que temos consciência de nosso dever.”

Gloria Guevara, ministra do Turismo

No início deste mês, o estado americano do Texas emitiu um alerta aconselhando os jovens a não visitarem determinadas áreas do México – ao menos 80 cidades localizadas em 14 dos 31 estados. O motivo: alguns lugares, inclusive destinos turísticos famosos como Cancún, podem ser “paraísos para narcotraficantes”. O comunicado, já feito nos dois últimos anos, coincide com o início de um recesso escolar conhecido como spring break – período em que até a filha mais velha de Obama, Malia, usou para tirar uma folga no país vizinho, que é o destino mais procurado. O governo do México se preocupou em desmentir rapidamente o risco apontado pelos EUA, e argumentou que seu território é muito extenso, “do tamanho da Europa Ocidental”, e que seria injusto taxá-lo inteiramente como um lugar perigoso.

É mais do que sabido, porém, que a fronteira entre o México e os Estados Unidos é um dos mais movimentados pontos de passagem de drogas do mundo. Nos últimos anos, a imprensa internacional noticiou incansavelmente uma escalada de violência decorrente de disputas entre os cartéis de drogas e as forças armadas do governo. Muitas cidades tiveram sua rotina alterada, com a presença maciça de soldados nas ruas e medidas extremas, como toque de recolher. Ainda assim, os turistas americanos continuam sendo, de longe, os principais visitantes do México. Aqueles que chegam por ar somam 5,7 milhões de pessoas – por terra, o volume quase dobra: mais de 10 milhões.

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Em um país onde o turismo representa 9% do Produto Interno Bruto (PIB), foi preciso investir em campanhas incisivas, criar roteiros mais diversificados e facilitar o processo de visto, a fim de manter as visitas ativas e atrair novos visitantes. Até agora, a estratégia parece estar dando certo. No ano passado, o México quebrou o recorde de visitantes, com mais de 190 milhões de turistas no total – 22,7 milhões deles internacionais, o número mais alto da história do país. E, devido ao alerta vindo dos EUA, a alternativa foi buscar novos visitantes potenciais. Em 2011, houve um crescimento especialmente de brasileiros (66%), russos (55%) e chineses (30%). O Mexico Tourism Board estima que 52 milhões de pessoas devem visitar o país este ano.

Glória Guevara é a Ministra do Turismo do México
Glória Guevara é a Ministra do Turismo do México (VEJA)

“Se você conversar com um brasileiro que esteve no México recentemente, ele vai falar muito bem da experiência. Medimos a satisfação dos turistas internacionais e constatamos que 98% deles já estão no país pela segunda vez ou têm planos de regressar em menos de seis meses”, destaca a Ministra do Turismo do México, Gloria Guevara, que já foi considerada uma das mulheres mais influentes do país pela revista CNN Expansion. Na semana passada, ela esteve no Brasil para participar de um fórum sobre tendências turísticas e firmar novas parcerias. A viagem coincidiu com a modificação do acordo automotivo bilateral entre os países, que estabelece cotas de exportação de veículos mexicanos ao mercado doméstico por três anos. Entre os eventos, Gloria concedeu uma entrevista ao site de VEJA na qual nega a influência do narcotráfico no turismo de seu país. Confira:

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Qual a importância dos turistas brasileiros para o México? Mais de 200 nações nos visitam a cada ano, e 126 nos visitaram em maior quantidade em 2011, em relação a 2010. O Brasil foi o país que mais cresceu como visitante do México: o aumento foi de mais de 66%. No total, foram quase 197.000 brasileiros que viajaram ao país entre janeiro de 2010 e 2011 – um número muito significativo. Um dos principais fatores que ajudou nesse crescimento foi a facilitação dos vistos, que podem agora ser conseguidos de forma bem mais rápida pela internet. Mas acreditamos que o número possa aumentar ainda mais, porque a situação econômica do Brasil anda muito bem. Os brasileiros possuem melhores condições para viajar do que antes, e esse mercado é muito estratégico para nós. Nesta vinda ao Brasil, eu me encontrei com representantes das empresas mais importantes do setor para discutir e firmar acordos com companhias de turismo e transporte. O objetivo é incrementar cada vez mais o fluxo de brasileiros até o México – e o contrário também. Segundo o Ministério de Turismo do Brasil, 65.000 turistas mexicanos visitam o Brasil – e há uma chance de aumentar essa cifra. Muitos de nossos empresários estão investindo no país, não apenas Carlos Slim, mas donos de hotéis e pousadas. É um país muito interessante para o capital mexicano.

Os casos de violência relacionados aos cartéis de drogas, e que ganham grande destaque na imprensa internacional, afetam esses números? O México é um país muito grande, tem 2.500 municípios! Em apenas 80 deles está focalizada a estratégia do governo para combater o tráfico – o que representa menos de 5% do país. Esses 80 municípios (citados pelo governo do Texas) estão localizados em 14 diferentes estados. Jalisco, por exemplo, tem um povoado com problemas relacionados ao narcotráfico, mas que está muito distante dos destinos turísticos. A rota turística no México está totalmente fora de perigo. Posso dizer que nossas campanhas de promoção do país vão a todo vapor, mas, além disso, os maiores promotores do turismo no México são os nossos visitantes. Se você conversar com um brasileiro que esteve no México recentemente, ele vai falar muito bem da experiência. Medimos a satisfação dos turistas internacionais e constatamos que 98% deles já estão no país pela segunda vez ou têm planos de regressar em menos de seis meses. Recebemos 22,7 milhões de turistas estrangeiros em 2011, e eles são muitos para estarem equivocados. O México é e continuará sendo uma das dez potências do turismo no mundo.

Como o governo recebe o alerta do estado do Texas? Recentemente, a Organização Mundial de Turismo se viu obrigada a recomendar um padrão para os alertas de viagens, porque até então não havia. Eles costumavam ser muito generalistas, sem especificar cidades, às vezes sequer países. Por exemplo, no fim de 2010, os EUA anunciaram um alerta de viagens à Europa. Era preciso algo mais específico, pontual e em contexto. Então, o Departamento dos Estados Unidos foi claro ao anunciar um alerta este ano em que ressalta que milhões de americanos viajam ao México sem problema e exclui todos os nossos destinos turísticos da advertência. As regiões afetadas são aquelas localizadas na fronteira, em áreas muito específicas. Em contrapartida, o estado do Texas, infelizmente, fez um alerta que consideramos irresponsável e com conotação política, já que estamos em um ano eleitoral e o governador do Texas é republicano. Eles conhecem os números do México e mesmo assim não respeitam as conclusões do próprio Departamento de Estado. Para nós, esta é a decisão oficial, e o que os estados divulgam sozinhos não deve ser levado em conta. Infelizmente, muitos americanos não estão muito familiarizados com nossa geografia. Quando falam em México, costumam generalizar. Por isso, a necessidade de alertas mais claros e precisos. Em Quintana Roo, que é o estado onde se localiza Cancún e Rivera Maya, por exemplo, não existe alerta algum.

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Quanto às áreas de alerta, medidas extremas de segurança, como toque de recolher, são as mais acertadas? A estratégia de segurança do governo é um processo que leva tempo, e o presidente Felipe Calderón está determinado em avançar nesse tema. Já vimos muitos avanços, embora seja uma questão complicada. É como se os mexicanos vivessem em uma casa e tivessem como vizinho o maior consumidor do mundo em diversas coisas, inclusive drogas. O que ocorre é que a população mexicana quer vender ao seu vizinho a todo custo, passando produtos pelas portas e janelas. O mais importante é que o vizinho tente ao menos diminuir o consumo de produtos ilegais, para que essa movimentação paralela cesse. O combate ao narcotráfico não é um problema do México, é mundial, e requer uma solução igualmente global. Mas é claro que temos consciência de nosso dever. E Calderón assumiu um compromisso pelo qual muitas gerações ainda vão agradecê-lo.

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