Jornais equatorianos se unem contra Rafael Correa
Manchetes repudiam condenação de jornalistas por críticas ao presidente
“Nefasto precedente contra a liberdade de expressão” (Hoy)
“Rejeição Nacional e Internacional da sentença contra o El Universo” (El Comercio)
“Repúdio à condenação do El Universo” (La Hora)
Um dia depois de quatro jornalistas do jornal El Universo terem sido condenados à prisão por chamar Rafael Correa de “ditador”, toda a imprensa equatoriana se uniu para criticar o golpe do presidente contra a liberdade de imprensa. Os diários El Comercio, La Hora Nacional e Hoy estamparam em suas manchetes desta sexta-feira a revolta com a sentença judicial
O juiz Juan Paredes determinou na quarta-feira que os diretores do El Universo – os irmãos Carlos, César e Nicolás Peréz – e seu ex-editor de opinião Emilio Palacio deveriam cumprir três anos de detenção e ainda pagar uma indenização de 40 milhões de dólares (62,76 milhões de reais) a Correa, por um artigo escrito no dia 6 de fevereiro.
“Nefasto precedente contra a liberdade de expressão”, opina o Hoy. “Rejeição Nacional e Internacional da sentença contra o El Universo“, diz o portal do El Comercio. “Repúdio à condenação do El Universo“, reitera o La Hora, que exibe também fotos das manifestações de opositores de Correa.
Resistência – Na quinta-feira, mesmo após a sentença, o El Universo se recusou a recuar. Um dos condenados, o diretor Carlos Pérez, declarou que o julgamento pretendia assustá-los, mas acrescentou: “Nós continuaremos fazendo nosso trabalho de informar com objetividade e independência, como temos feito por 90 anos. Essa questão não é só um problema do El Universo e seus executivos; é um atentado contra as liberdades mais importantes, que são de informar e opinar”.
No mesmo dia, centenas de pessoas se concentraram nos arredores do periódico em Guayaquil com cartazes que tinham mensagens como “Queremos viver em liberdade, sem mordaça”, “Não nos calarão” e “Livres, não escravos”. Alguns dos manifestantes mostravam a capa do El Universo, que estava praticamente toda em branco.
Repúdio internacional – No exterior, a sentença contra o El Universo foi rejeitada por organizações de imprensa e de Direitos Humanos. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) advertiu que o uso de processos pode se transformar em “um meio de censura indireta” por seu efeito “amedrontador” sobre os jornalistas.
Na mesma linha, o presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Gonzalo Marroquín, que esteve esta semana no Equador, considerou um “duro golpe na liberdade de informação”. De Paris, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) afirma que esse “assédio judicial põe em evidência uma estratégia das autoridades equatorianas que procura aplacar a mídia no país, atualmente muito criticada pelo presidente Correa”.
Histórico – Na coluna publicada em 6 de fevereiro pelo El Universo, o jornal de maior tiragem do país, Emilio Palacio afirmou que durante um levantamento policial em 30 de setembro de 2010, Correa ordenou “fogo à vontade e sem aviso prévio contra um hospital cheio de civis e pessoas inocentes”. O presidente ficou preso grande parte desse dia no hospital policial e foi resgatado após uma operação executada por forças leais em meio a um intenso tiroteio. O artigo chamava o populista de ditador.
Na única audiência sobre o caso, realizada na terça-feira, os diretores do ofereceram ao presidente publicar um texto que ele considerasse pertinente como retificação. No entanto, ele rejeitou a oferta, considerando-a tardia, apesar de no passado ter dito que retiraria a queixa se o diário corrigisse a coluna que motivou a interposição do processo, em março.
(Com agência EFE)