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Ex-agente da CIA diz que revista da Al Qaeda em inglês é autêntica

Autoridades americanas acreditam que o “editor-chefe” da publicação seja um cidadão americano, que se mudou para o Iêmen

Por Mariana Pereira de Almeida
20 jul 2010, 08h28

Objetivo da publicação é atrair cidadãos ocidentais que se converteram em radicais islâmicos

Agentes da inteligência americana informaram, nesta segunda-feira, que Samir Khan, de 23 anos, pode ser um dos principais responsáveis pela revista Inspire, lançada pela Al Qaeda na internet há cerca de uma semana. Ele nasceu na Arábia Saudita, mas se mudou com a família para os Estados Unidos aos sete anos e ganhou a cidadania deste país. Em outubro de 2009, foi para o Iêmen, onde atua junto à facção da rede na Península Arábica e tem ligações com terroristas, como o americano-iemenita Anwar al-Awlaki. Este último é acusado de envolvimento em diversos atentados praticados no ocidente e é suspeito de estar por trás da nova revista.

A participação dos dois militantes, que viveram nos Estados Unidos, ajudaria a explicar a linguagem da revista, que provocou polêmica ao incitar o terrorismo no ocidente com textos em inglês. A publicação, que consiste em um arquivo de 67 páginas, traz títulos que beiram o irreal, como “Aprenda a fazer uma bomba na cozinha de sua mãe”. Outras seções mostram um diário sobre as expectativas da “jihad” (guerra santa, promovida pelos muçulmanos), perfis de terroristas e até uma foto de Osama Bin Laden sobre um fundo verde com os dizeres: “a maneira de salvar o planeta”.

O ex-agente da CIA Bruce Riedel, que trabalhou para a inteligência americana durante os últimos quatro governos, acredita que a revista tenha sido feita pela Al Qaeda com objetivo de atrair cidadãos ocidentais que se converteram em radicais islâmicos. “A Al Qaeda tem procurado pessoas que podem viajar facilmente pelo ocidente, como o americano-paquistanês Faisal Shahzad, que tentou explodir um carro-bomba em Nova York, em 1º de maio”, disse a VEJA.com o especialista, que também é pesquisador sobre luta contra o terrorismo pela organização sem fins lucrativos The Brookings Institution. “Estes são os militantes que a rede terrorista está procurando porque eles têm passaportes que os permitem se locomover facilmente no ocidente”, pontua.

Confira a entrevista completa e o arquivo com a versão integral da revista.

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O senhor acredita que a nova revista Inspire, escrita em inglês, foi realmente feita pela Al Qaeda?

Eu acho que a revista é realmente feita pela Al Qaeda. Eu falei com pessoas que trabalham para serviços de inteligência ocidentais e elas acreditam que seja autêntica.

A revista circula em papel ou apenas pela internet?

Acredito que seja uma revista para internet. O objetivo não é a venda em livrarias. Você pode imprimir uma cópia, se quiser. Mas, está disponível apenas de maneira eletrônica.

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Como o senhor descreveria a revista?

É muito parecida com outras “jihadistas”, que nós já vimos antes. Eu me refiro aos artigos e à qualidade do material. O que é diferente é que esta foi escrita em inglês pela primeira vez.

Qual é o objetivo dela?

Eu acho que o objetivo é, na verdade, atingir um público relativamente pequeno. A ideia não é competir com a The Economist. Ela é feita para atingir um público restrito de “jihadistas” em países como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália. Seriam militantes que se transformaram em radicais, mas provavelmente não têm fluência em árabe. Eles estão se tornando comprometidos com a jihad e querem ler mais sobre o assunto.

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Página que explica as “expectativas da jihad” (VEJA)

Trata-se de uma tentativa de alcançar e se comunicar com estas pessoas e tentar persuadi-las a cometer atos de violência em massa. Um público clássico para este tipo de revista são indivíduos como o soldado americano, Nidal Malik Hasan, que se voltou contra os colegas militares em Fort Hood [no Texas], no ano passado e matou 13 deles. Ou o nigeriano, que tentou se explodir no dia de Natal em um voo de Amsterdã para Detroit. Há ainda o americano-paquistanês Faisal Shahzad, que tentou explodir um carro-bomba na Times Square, em 1º de maio.

Então, o público é bem pequeno, mas o cálculo da Al Qaeda é que eles só têm de atingir com sucesso um ou dois indivíduos por meio deste tipo de propaganda. E o impacto pode ser enorme, como no caso de Fort Hood . Mas, mesmo se a missão for relativamente mal sucedida, ainda há o efeito de aterrorizar, que é obviamente um dos objetivos do terrorismo.

O senhor acha que é possível a Al Qaeda usar esse tipo de linguagem, por exemplo “como fazer uma bomba na cozinha de sua mãe”?

Acho que é a influência do americano-iemenita Awlaki [Anwar al-Awlaki, acusado de ter ligação com o tiroteio de Fort Hood e com a tentativa de explosão no voo, em 25 de dezembro. Há uma entrevista dele na Inspire ]. Aparentemente, ele está por trás desta publicação e eu acredito que tenha pensado em usar uma linguagem que tivesse apelo junto aos jovens americanos.

Terroristas como Bin Laden e Ayman al-Zawahiri geralmente são mais discretos em seus raros pronunciamentos. Não seria estranho eles escreverem para publicações deste tipo?

Al-Zawahiri, na verdade, se pronunciava muito. Bin Laden fala menos. Mas, de maneira alguma isso me surpreende.

A primeira versão da revista não pôde ser publicada porque continha vírus…

O fato do arquivo estar com problemas é uma indicação de que várias agências ocidentais de inteligência estavam tentando impedir que ele fosse disseminado. Mas, no fim, os agentes não tiveram sucesso.

O que deveria ser feito para acabar com este tipo de ameaça?

Os países ocidentais devem adotar uma política de luta contra as lideranças dos diferentes braços da Al Qaeda. Acho que o presidente Obama já delineou os principais elementos disso, incluindo a guerra no Afeganistão e os combates no Paquistão. Mas a estratégia também inclui uma “guerra de ideias” para acabar com o discurso terrorista da rede.

Isso significa avançar em políticas que, na verdade, melhoram a vida de pessoas no mundo islâmico e que separam o mundo islâmico do ocidente. Eu acho que o presidente também tem tentado falar sobre estes assuntos, particularmente sobre a questão israelense-palestina, para ver se é possível encontrar uma paz justa e duradoura entre estes dois povos.

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O terrorista Osama Bin Laden na revista da Al Qaeda
O terrorista Osama Bin Laden na revista da Al Qaeda (VEJA)
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