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Dissidente cubano diz que a única solução para a ilha é uma troca política

Antonio Villarreal chegou a Espanha com outros seis "presos de consciência" , libertados pelo governo de Raúl Castro

Por Mariana Pereira de Almeida
29 jul 2010, 17h57

“Quando as minhas feridas estiverem cicatrizadas, alguém estará pagando por tê-las feito”, afirma Villarreal

O dissidente Antonio Villarreal é um dos 20 presos políticos cubanos que estão em Madri. Ele integrou o primeiro grupo a chegar ao país, em 13 de julho, após um acordo entre o governo cubano e a Igreja Católica com mediação da Espanha para libertar 52 pessoas, presas em 2003 durante a onda de repressão conhecida como “primavera negra”. Presidente de uma ONG que lutava pelos direitos humanos, ele amargou mais de sete anos nas prisões cubanas. “As condições não eram adequadas, ficávamos com presos comuns, todo o tempo fechados numa cela”, disse.

Na Espanha, Villarreal sente dificuldades de adaptação e recebe tratamento psiquiátrico para superar os traumas. Quanto ao governo cubano, é taxativo: “Nenhum de nós é otimista em relação a esperar uma melhora do atual regime.” Villarreal falou a VEJA.com pelo telefone, da recepção do albergue onde está hospedado. Foi interrompido algumas vezes por gritos dos colegas que estavam reunidos ao lado, discutindo o futuro do grupo, durante a conversa a seguir:

O senhor estava no primeiro grupo de dissidentes levado a Madri. Como foi a sensação de deixar a prisão e chegar em outro país?

Foi tudo uma surpresa. Sabíamos que íamos a Madri e mais nada. Encontramos nossas famílias somente no aeroporto.

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Quem foi com o senhor?

Minha esposa, minha filha de 13 anos, meu filho de 25 com sua esposa e uma filhinha de 5 meses.

Como foi o encontro com sua família no aeroporto?

Você pode imaginar… Uma surpresa, uma emoção.

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Como era a vida na prisão, em Cuba?

Muito difícil. Ficávamos metidos em um uniforme cinza. Tínhamos visitas a cada cinco meses, depois a cada dois. As condições não eram próprias, ficávamos com presos comuns, o tempo todo fechados numa cela.

Do que o senhor era acusado?

Acusavam-me de estar a serviço de uma potência estrangeira porque eu era presidente de uma organização de direitos humanos.

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O que o senhor deseja fazer agora?

Estamos recebendo orientações para decidir nosso futuro. Não sabemos exatamente para onde vamos. Se me permitissem, eu iria para os Estados Unidos. Tenho um filho de 38 anos, que vive na Flórida há mais de 14.

O senhor não pretende um dia voltar a Cuba?

Eu gostaria, mas infelizmente estaria na mesma condição de antes.

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O que o senhor diria dos governos de Fidel e Raúl Castro?

Eu diria que a situação é muito difícil. Não há critérios. Viola-se totalmente a declaração de direitos humanos.

O que deveria ser feito para melhorar a situação no país?

Tem de haver uma troca de regime político, é a única solução. Nenhum dos que está aqui comigo é otimista no sentido de esperar uma melhora no atual regime.

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Como está a sua saúde?

Eu estou em tratamento psiquiátrico e sinto dores no corpo. Não durmo bem. A mudança é muito brusca. As condições que nos deram aqui também não ajudam. Nós estamos em um quarto com três camas e um banheiro coletivo. Eu não esperava por isso. Eu esperava uma individualidade, uma casa, um lugar, uma possibilidade de trabalho. Assim não.

O que o senhor diria sobre a sua experiência de preso político?

Quando as minhas feridas estiverem cicatrizadas, alguém estará pagando por tê-las feito. Isso me saiu da alma.

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