No ‘SuperStar’, tudo é ao vivo. Menos a música
Cantores se apresentam acompanhados por 'playback'. Bandas gravam instrumentos na véspera, para evitar erros durante a apresentação
Fernanda Lima avisa que o show vai começar, e em milhares de tablets e celulares, o público passa a decidir o SuperStar. Tudo ao vivo. Ou quase tudo: o espectador nem percebe, mas no ‘The Voice’ de bandas, a música é previamente gravada. É playback? Sim. É desonesto? Pelo menos com os concorrentes, não. Todos passam pelo mesmo processo: os instrumentos são gravados em estúdio na véspera de cada episódio, e só os cantores de fato são jogados aos leões, submetidos à aprovação popular. Para quem assiste do sofá de casa, no entanto, a revelação de que os músicos estão fingindo tocar talvez tire parte da graça.
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O formato do SuperStar é cheio de armadilhas e pontos sujeitos a falhas – tanto que, na abertura, um problema no aplicativo deixou milhares de espectadores sem conseguir votar. Fora a música – logo ela! – tudo acontece em tempo real, com cacos e puxões de orelha de Fernanda Lima, piadas de André Marques, jogadas de cabelo de Fernanda Paes Leme e as papadas de mosca dos três jurados – Ivete Sangalo, Dinho Ouro Preto e, em especial, Fábio Jr.
Um músico que participou da primeira fase conta que, inicialmente, sentiu-se frustrado por não tocar de verdade. Mas logo entendeu o motivo. “Tem gente profissional, mas também tem muitos amadores. A chance de alguém ficar nervoso e errar na hora H é enorme, e isso seria péssimo para o programa. Como gravamos tudo junto, não fica parecendo playback”, afirma.
Esse é o segredo: os instrumentos – bateria, guitarras, teclados, baixo, sopros e o todo o resto – são gravados juntos, para dar a sensação de show, como em um “disco ao vivo”. Um estúdio de ponta, montado na área de reality shows do Projac, permite gravações de altíssimo nível, mas não interessa ao ‘Superstar’ parecer perfeito demais. Só o bastante para, como se viu até agora, nenhum músico cometer deslizes, apesar de toda a tensão envolvida.
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Os jurados são só elogios para a parte musical. “Meu, esse baixo…”, disse Dinho, a uma banda de reggae. “Valeu, batera!”, já disse Ivete a um baterista que mexeu com o coração da baiana. As críticas acabam, sempre, centradas nos cantores, que são os únicos sujeitos a erro, deslizes e nervosismo em cada apresentação.
Mesmo para os mais observadores é difícil perceber que a música é um playback. Além do tipo de gravação, as câmeras nunca mostram de frente o início de cada música. Assim que Fernanda Lima dá o OK para os dois minutos de show, o espectador passa a ver o palco de cima e a parte interna do telão, com o “3, 2, 1…”. É o tempo necessário para os músicos começarem a fingir.
Não se pode dizer que esse detalhe desmereça o SuperStar. O programa passa longe da encenação tosca que já foi usada em programas de auditório – Cassino do Chacrinha, Faustão, Globo de Ouro, festas de grandes eventos e “shows enganação”, como Britney Spears e Justin Bieber. Mas é certo que, no momento da votação, o público não está avaliando a competência de grupos musicais – afinal, como repete o mágico da enigmática cena do Club Silencio, de Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive), do diretor David Lynch, ‘no hay banda’.
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Audições
Na primeira fase, até 50 bandas concorrentes podem se apresentar atrás do telão e, sem saber a porcentagem adquirida, apenas acompanham no painel as fotos daqueles que votam. Quando atingem 70% de votos a favor, o telão sobe, as bandas se revelam e são classificadas para a próxima fase. No final desta etapa, ficam 24 bandas.