Governo dos EUA censura estudo sobre nova gripe aviária
Painel do Departamento de Saúde pediu que revistas Nature e Science não publiquem detalhes científicos sobre versão mais mortal do vírus H5N1
O Painel Científico Consultivo para Biossegurança Nacional (National Science Advisory Board for Biosecurity), um órgão do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, solicitou nesta terça-feira que duas das mais renomadas revistas científicas do mundo não publicassem inteiramente um estudo inédito sobre uma nova versão do vírus da gripe aviária.
O pedido para deixarem dados relevantes de fora dos artigos científicos foi interpretado pela Science e Nature como uma censura aos estudos, pagos pelo próprio governo dos EUA. A nova forma do vírus H5N1 foi criada por duas equipes de cientistas e seria mais mortal que a anterior, podendo se espalhar facilmente pelo globo e causar uma pandemia. O vírus da gripe aviária já é extremamente mortal para pessoas expostas a aves contaminadas, mas até agora não tinha sofrido uma mutação que o tornasse capaz de ser transmitido facilmente entre humanos.
As duas revistas científicas emitiram comunicados nos quais dizem que estão analisando o tema junto com o governo americano. Os artigos da Science e Nature reportam o trabalho das equipes dos cientistas Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin-Madison, e Ron Fouchier, do Centro Médico Erasmus, de Roterdã, na Holanda. O painel do governo americano pediu que fossem editados trechos com elementos chave dos estudos. Para as revistas, isso significaria restringir o acesso público a informações de interesse da saúde pública.
“É essencial para a saúde pública que os detalhes completos de qualquer análise científica dos vírus da gripe estejam disponíveis aos pesquisadores”, disse o editor-chefe da Nature, Philip Campbell. Bruce Alberts, editor-chefe da Science, afirmou que o painel consultivo pediu à revista que “deletasse” dos artigos dos cientistas detalhes sobre o método científico e as mutações obtidas do H5N1.
De acordo com Universidade de Wisconsin-Madison e o Centro Médico Erasmus, os cientistas envolvidos na publicação decidiram acatar parte da recomendação do governo americano, mas ressaltaram preocupações com a liberdade acadêmica e de imprensa, que estariam “ameaçadas” segundo as instituições.