Depois do fiasco de Copenhague, conferência sobre o clima em Cancún é marcada por pessimismo e baixa expectativa
Acordos sobre questões críticas de curto prazo - como o financiamento para países mais vulneráveis - parecem ainda mais distantes agora do que em 2009
Os países ricos insistem em cortes profundos nas emissões de países como China e Índia, enquanto as nações mais pobres pedem aos países ricos que façam mais para reduzir sua própria poluição
Com as feridas ainda abertas da caótica conferência do clima em Copenhague, na Dinamarca, em dezembro de 2009, os negociadores estão fazendo os últimos preparativos para a reunião do mês que vem, em Cancún, no México, com pouca esperança de progresso. Não existe nenhuma chance de concluir um tratado global para reduzir as emissões globais de gases que alteram o clima, poucos chefes de estado devem participar da reunião e não há nenhuma nova iniciativa importante na agenda. O encontro de Copenhague foi prejudicado por um excesso de expectativas. Cancún sofre com o oposto.
Delegados em Tianjin, na China, na última reunião formal antes da abertura da Conferência de Cancún, em 29 de novembro, tropeçaram nas mesmas questões que levaram ao fracasso da reunião de Copenhague. Mesmo o pequeno passo na direção de um acordo frágil que surgiu na conferência do ano passado, um pequeno documento conhecido como Acordo de Copenhague, foi reaberto, para desespero de funcionários que já o imaginavam definido.
Acordos sobre questões críticas de curto prazo – como o financiamento para países mais vulneráveis e o monitoramento e relatórios de emissões nas principais economias – parecem mais distantes do que no final da reunião de Copenhague. Na Dinamarca, os países ricos se comprometeram a elevar a ajuda aos países em desenvolvimento a 100 bilhões de dólares ao longo da próxima década para responder às mudanças climáticas, com 30 bilhões de financiamento até 2012.
Mas esse dinheiro mal começou a fluir, e muitos países em desenvolvimento pressionam para aumentar esse valor, uma possibilidade improvável. O conflito segue a linha dos problemas de Copenhague. Os países ricos insistem em cortes profundos nas emissões de países como China e Índia, enquanto as nações mais pobres pedem aos países ricos que façam mais para reduzir sua própria poluição e oferecer mais dinheiro para ajudar o resto do mundo a se adaptar.
Os negociadores dos países em desenvolvimento continuamente repreendem funcionários americanos pelo incapacidade dos Estados Unidos em promulgar qualquer tipo de legislação compreensiva sobre o clima e energia. O principal negociador do clima chinês, Xie Zhenhua, reclamou em Tianjin, na quarta-feira, que as nações desenvolvidas não estão à altura de seus próprios compromissos ao mesmo tempo que exigem mais dos países pobres.
Assim, depois de 16 anos de negociações anuais sobre o tratado do clima, os negociadores desse encontro, a 16ª Convenção sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, ou COP-16, esperam não algum progresso, mas simplesmente que não ocorra um retrocesso. O mais importante esse ano é garantir algum impulso a acordos de temas menos polêmicos, como a forma de preservar as florestas mundiais e de renovar os compromissos voluntários do Acordo de Copenhague.
O estado de ânimo não poderia ser mais diferente do que era um ano atrás, quando mais de cem chefes de estado foram a Copenhague, onde alguns esperavam a adoção de um tratado que comprometeria os países mais ricos a reduzir suas emissões e proporcionar aos países mais pobres ajuda financeira e técnica. No lugar disso, as reuniões desmoronaram espetacularmente sob o brilho dos holofotes e com alto nível de atrito entre as nações ricas e pobres. Nem drama parecido está no programa deste ano.