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Apesar das falhas, energia nuclear não pode ser descartada

Um ano depois do acidente em Fukushima, o discurso antinuclear continua forte. Mas é possível abrir mão das usinas nucleares?

Por Mariana Pastore
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h43 - Publicado em 11 mar 2012, 12h48

O acidente nuclear em Fukushima mudou o panorama da política energética de alguns países. Motivados em grande parte por uma agenda política, Alemanha, Bélgica e Suíça decidiram fechar seus reatores nos próximos dez anos. O candidato socialista à Presidência da República na França prometeu fechar 24 unidades até 2025. Taiwan, Chile, Israel e Venezuela decidiram não continuar com seus programas nucleares.

A China, país que hoje mais investe na energia nuclear, está reexaminando seu plano de construir 26 reatores até 2020. Suas usinas serão construídas pela Westinghouse e Toshiba em conjunto com duas empresas chinesas. “Há temores de que a qualidade das usinas na China seja inferior devido à pouca experiência da mão de obra chinesa nesta área”, diz o físico nuclear José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.

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Abandono precoce – Hoje, a maior parte da energia elétrica do mundo vem de combustíveis fósseis – gás natural, carvão e petróleo. “No entanto, esses recursos são finitos e sua utilização na produção de energia aumenta a emissão de gases que, de acordo com a maior parte da comunidade científica que pesquisa mudanças climáticas, aceleram o aquecimento global”, diz Goldemberg.

Fontes de energia alternativas, como biomassa, queima de bagaço de cana, energia eólica e energia solar, possuem a vantagem de utilizar fontes renováveis, mas ainda são muito caras, inviabilizando a substituição total da energia fóssil. A energia nuclear, apesar de potencialmente perigosa, ainda é uma das mais baratas.

Os acontecimentos de Fukushima geraram uma forte dúvida sobre a aceitação da solução por conta dos perigos mais uma vez demonstrados pelo acidente no ano passado. Mesmo assim, pode ser cedo para abandonar o uso de energia nuclear. Na opinião do economista Eduardo Carvalho, ex-presidente da Unica (União da Indústria Canavieira), “é possível incrementar a segurança das usinas nucleares, investindo em novos desenhos de unidades que previnam as causas dos acidentes que tivemos.”

Houve apenas três acidentes na história da energia nuclear. O primeiro, em 1979, em Three Mile Island, nos EUA, foi um acidente de grau leve, rapidamente contido. O mais sério foi em Chernobyl, na URSS, em 1986, resultado do uso de engenharia antiquada e de um erro de operação. O acidente de Fukushima, no ano passado, poderia ter sido muito mais sério, uma vez que quatro reatores nucleares estavam no caminho do tsunami. “Cada desastre levou à criação de novos desenhos nas usinas nucleares. Depois de Fukushima, todas as usinas do mundo devem ter reestudado seus sistemas de segurança, e certamente as novas plantas estão levando em conta esses acontecimentos”, afirma Carvalho.

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O principal problema de Fukushima foi ficar sem energia para bombear a água que resfria os reatores depois do tsunami. O sistema de segurança não foi suficientemente robusto para desempenhar o seu papel. Antes de Fukushima, a suposição era de que, se houvesse dois ou três reatores em um único local, apenas um teria um problema em um determinado momento. Agora as empresas estão comprando equipamentos de emergência suficientes para lidar com falhas simultâneas em todos os reatores do mesmo espaço.

Resíduos nucleares – Os resíduos nucleares são um problema solucionável, contanto que haja a tecnologia e a política corretas. Materiais radioativos podem ser armazenados sem contaminar suprimentos de terra e água por dezenas de milhares de anos, caso sejam enterrados na formação geológica apropriada, como rocha de granito estável.

Os planos de armazenamento não funcionam quando são mal conduzidos. O exemplo mais notório é o repositório de resíduos nucleares de Yucca Mountain, um complexo de contenção no deserto de Nevada que teria custado mais de 50 bilhões de dólares, mas foi abandonado em meio a controvérsias em 2009. O local foi escolhido na década de 1980 não porque era geologicamente ideal para conter os resíduos nucleares, mas porque representantes de Nevada em Washington eram relativamente fracos e foram driblados por outros estados.

Brasil – Para Eduardo Carvalho, ainda não há como descartar a curto e médio prazo a contribuição de energia nuclear até que sejam desenvolvidas outras tecnologias de produção em massa de energia elétrica. “O risco que a operação de usinas nucleares têm é mínimo e desaparece pelas vantagens e necessidades que nós temos de geração de energia”, diz ele. “Sem energia, é impossível conceber a sociedade moderna no mundo todo. Pensar em fontes de energias alternativas talvez seja o esforço mais importante que a sociedade deva fazer.”

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O Brasil tem, atualmente, duas usinas nucleares em funcionamento, Angra I, da Westinghouse, e Angra II, da Siemens. Angra III ainda está em construção, mas boa parte do equipamento foi comprado há 20 anos. “A usina provavelmente será concluída, mas não será moderna. No Plano Nacional de Energia de 2030, são previstas mais quatro usinas. Mas, até agora, pouco foi feito para concretizá-las”, diz José Goldemberg. Segundo o físico, energia hidroelétrica, usinas eólicas e cogeração de eletricidade de bagaço nas usinas de cana são opções melhores para gerar a eletricidade que o país necessita.

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