Os bastidores do poder em ‘O Mordomo da Casa Branca’
Longa conta a história, baseada em fatos reais, do homem que serviu oito presidentes dos Estados Unidos
Eugene Allen serviu como mordomo na Casa Branca entre 1952 e 1986, durante os mandatos de oito presidentes: de Harry Truman a Ronald Reagan. Em 2009, Allen foi convidado por Barack Obama para sua posse. No ano anterior, a história do mordomo fora contada pelo jornalista americano Wil Haygood em um artigo no Washington Post. “Ele estava lá enquanto a história racial da América era refeita”, escreveu Haygood. Baseado na vida de Allen, o roteirista Danny Strong escreveu O Mordomo da Casa Branca (The Butler), filme dirigido por Lee Daniels (de Preciosa e Obsessão) que faz parte da mostra Panorama do Festival do Rio.
No longa, a luta dos negros por direitos civis é o pano de fundo da história do mordomo, que no filme se chama Cecil Gaines (Forest Whitaker) e tem um filho ativista, Louis (David Oyelowo). Os dois não se entendem: Louis participa de diversos movimentos, desde o pacifista Ônibus da Liberdade até o radical Panteras Negras, passando pelas marchas com Martin Luther King. Cecil não aceita e passa anos sem falar com ele. Pai de um casal de gêmeos de 17 anos, Liam e Clara, Lee Daniels conta que o roteiro falou a seu coração desde o início por ser, a seu ver, a história de um amor entre pai e filho.
“Eu fiz esse filme porque eu tenho um filho. Nós muitas vezes estamos passando por momentos difíceis, batendo de frente. E nesse filme o pai e o filho se acertam no fim. Mostrei o filme ao meu filho, porque ele significa tanto para mim. Então eu perguntei se ele gostou do filme e ele disse que sim. Ufa! Então perguntei se ele sabia o quão difícil tinha sido e o quão importante era. Ele se virou e disse: ‘Não. Importante para mim seria um Homem-Aranha negro’. E eu pensei comigo: ‘Que ingrato! Não importa o que se faça, nunca será suficiente’. Entende o que eu digo? É exatamente o que acontece com o pai e o filho do filme. Eu pensei que seria suficiente, mas não é, porque nada nunca será suficiente. O que é bom! Eu não consigo ver um Homem-Aranha negro, mas ele consegue”, diz o diretor.
O elenco estelar de O Mordomo da Casa Branca inclui nomes como Robin Willians, John Cusack e Alan Rickman, que interpretam, respectivamente, os presidentes Dwight D. Eisenhower, Richard Nixon e Ronald Reagan. Jane Fonda interpreta Nancy Reagan. Cuba Gooding Jr e o cantor Lenny Kravitz são outros dois mordomos, enquanto Mariah Carey faz uma ponta, no início do longa, como a mãe de Cecil. A bilionária apresentadora Oprah Winfrey, uma das mulheres mais influentes do mundo, é a mulher alcoólatra do mordomo. Lee Daniels teve de equilibrar todas essas histórias em 132 minutos.
Em certos momentos, o filme lembra Forrest Gump, de Robert Zemeckis, ao colocar Cecil Gaines no meio de acontecimentos decisivos da história americana e ao lado de tantas figuras reais – aparecem ainda John (James Marsden) e Jacqueline (Minka Kelly) Kennedy, Lyndon B. Johnson (Liev Schreiber) e Martin Luther King (Nelsan Ellis).
“Eu mantive meu olho no mordomo o tempo todo. Era tudo sobre o mordomo, suas experiências. E sua família. É uma história de amor entre pai e filho e o pano de fundo é a luta pelos direitos civis. E acho que ambos, pai e filho, estão certos em seus pontos de vista”, diz o diretor.
Embora o mordomo da vida real só tenha tido um filho, que realmente se envolveu com o ativismo político, o do filme tem um caçula, Charlie (Elijah Kelley), que vai lutar na Guerra do Vietnã. “Para mostrar os diferentes pontos de vista dos afro-americanos, eu precisava criar um segundo filho. Alguém tinha que lutar pelo país e alguém tinha que lutar no país”, explica Daniels.
O Mordomo da Casa Branca tem sessões às 16h30 e às 21h30 no dia 6 de outubro, no Leblon 2, e entra em circuito no dia 1º de novembro.