‘Havia muito atrito no Led Zeppelin’, diz fotógrafo
Neal Preston se tornou o encarregado oficial de tirar fotos da banda em 1974, mas, segundo ele, o trabalho não tinha nada de divertido
Fazer turnê com uma das maiores bandas da história, voar de primeira classe e ver de perto a vida de ídolos da juventude da época. Tudo isso, segundo o americano Neal Preston, não compensava o estresse do seu trabalho. Ele foi, durante muitos anos, fotógrafo oficial das turnês da banda Led Zeppelin, experiência que retrata em vários livros, como Led Zeppelin: Sound and Fury, que saiu no Brasil nesta semana em formato e-book disponível apenas no iTunes.
“Eu tinha 23 anos quando comecei a fotografá-los, era muito novo e aquela era uma experiência que qualquer um adoraria ter. Mas eu encarava como um trabalho como qualquer outro, até porque era muito estressante. Todos tinham personalidades muito fortes e trabalhar com eles podia ser bem complicado”, disse Preston em entrevista ao site de VEJA. Ele, no entanto, garante que nunca teve nenhum problema específico com o grupo de Robert Plant e Jimmy Page. “Toda vez que converso com alguém sobre aquela época, querem saber das histórias malucas que devo saber. É claro que sei coisas que nunca vou contar. É claro que eu os via com garotas e drogas, mas não era uma festa para mim. No tempo em que estava com o grupo, eles só queriam relaxar e dormir um pouco”, diz.
Segundo Preston, foi difícil escolher as fotos que compõem o livro. “Levou tempo, porque tive de escolher algumas das melhores que já saíram, num formato meio ‘greatest hits’, e também imagens inéditas. Eu tenho muito material em casa, mas nem todo esse material atende aos meus padrões de qualidade, preciso sentir que uma foto importa o suficiente para ser publicada”, explica. Para o fotógrafo, o mais divertido era clicar Jimmy Page. “Ele é carismático e tem uma energia muito forte. A banda toda gravitava em torno dele. Era impressionante. Mas todos eram extremamente visuais, e sempre renderam boas fotos.”
Fora do trabalho com o Zeppelin, Preston ficou conhecido por fotografar bandas importantes como o Queen, que chegou a acompanhar ao Brasil nos anos 1980, além de Bruce Springsteen, Fleetwood Mac e Michael Jackson, entre outros. Na mesma época em que começou a fotografar grupos de rock, conheceu um jornalista novato de música, cinco anos mais novo que ele, que viria a se tornar o diretor Cameron Crowe. Os dois viraram melhores amigos e, anos mais tarde, Crowe dirigiu Quase Famosos, de 2000, em que narrava as próprias experiências como jornalista ao lado de bandas de rock — Preston fez a fotografia do filme, assim como de vários outros longas do diretor. “Não há nenhum personagem inspirado em mim, mas eu estava por ali quando ele teve aquelas experiências”, diz.
Hoje em dia, porém, Preston quase não clica bandas. “Recentemente, voltei a trabalhar com o Fleetwood Mac e (a vocalista) Stevie Nicks, mas não tenho tempo de clicar ‘bandas-bebês’. Tenho trabalhado mais com revistas e cinema”, diz. De acordo com ele, a fotografia digital atrapalhou um pouco o trabalho de fotógrafos profissionais. “Todo mundo tem uma câmera hoje em dia e se acha fotógrafo. Quando eu comecei, a gente mal sabia o que estava fazendo”, afirma, sem amargura. “Não estou aposentado. E, pode anotar aí, não devo me aposentar tão cedo.”