Enquanto a charm dance, coreografia bem acabada do hip hop, vai embalando os diálogos da novela das 9 da Globo aqui no Brasil, do lado de lá do Atlântico o passo é outro: remete à disco dos anos 70, uma pitada de Frenéticas na pick up do DJ, mas sem Sonia Braga na pista, nada de meias lurex e, vá lá, um Michel Teló em evidência. Com coprodução da Globo, Dancin� Days ganhou nova versão, repaginada para os dias, figurinos e ritmos da Portugal atual, na tela da SIC, emissora parceira da rede brasileira no país. Há uma semana no ar, o título confirma a liderança do canal, tendo alcançado 14% de audiência na estreia.
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Para início de conversa, o responsável pela adaptação do texto, Pedro Lopes, cresceu vendo as novelas brasileiras exibidas lá, inclusive as de Gilberto Braga. Mas, nascido em 1977, não tinha memória para Dancin, produzida aqui em 1979 e logo exportada para Portugal. “Quando lemos o magnífico texto de Gilberto Braga, percebemos que o mundo, nas questões essenciais, não mudou assim tanto”, conta Lopes.
Figurino – Diretor executivo de produção da Globo Internacional, Guilherme Bokel relata que o “mais importante é trazer o texto de encontro aos hábitos, costumes e cores da sociedade portuguesa atualmente”. Profissionais brasileiros fizeram jus à condição de coprodutores em praticamente todo o processo, da concepção de cenários à preparação do elenco, mas não tomaram partido no figurino, item que ditou moda na Dancin� Days original. “Este é um elemento de produção muito particular”, diz Bokel. “A moda que agrada ao gosto português em nada se conecta com a dos brasileiros nos dias atuais. Por esta razão, consideramos que deveria ser uma responsabilidade deles.”
Gilberto Braga já disse uma vez que não faria um remake de Dancin �Days. Considera inviável reunir de novo a química e o talento do elenco original. Mas, uma vez acertada a decisão da Globo em refazer a novela em Portugal, foi generoso e lançou, segundo Bokel, uma só recomendação: “Que mantivéssemos a relação das duas protagonistas no âmbito natural emocional, sem maniqueísmos”.
Pedro Lopes também foi buscar a bênção do autor. Lopes conta que alterou basicamente a forma de contar a história. “Os processos narrativos aceleraram”. Os nomes são outro fator atingido pela adaptação. “Em Portugal, somos mais tradicionais, pelo que não fazia sentido manter nomes como Ubirajara ou Jofre. E mesmo entre os personagens principais tivemos de fazer modificações porque aqui os nomes dão de imediato uma referência do estrato social.” Assim, a Marisa, de Glória Pires, virou Mariana.
Divulgação/TV Globo
Enredo – No script, o motivo que leva Júlia Matos, aqui Sonia Braga e lá Joana Santos, à prisão é o mesmo. A diferença no remake é que o atropelamento não vem na sequência de um assalto, e sim de uma infelicidade na noite de ano novo, quando Júlia vem de uma festa a caminho de casa. E, neste caso não é Júlia quem está ao volante, mas a irmã, alcoolizada. O que a protagonista da vez não esperava, ao assumir para a polícia que ia ao volante, é que o homem acabasse por morrer, o que torna o caso um crime de atropelamento e fuga.
Embora a Dancin �Days original esteja disponível em DVD, era recomendável que nem autor nem elenco vissem a novela, para evitar influências da matriz. “Preferi ler os roteiros a ver as imagens porque ficaria condicionado pelo look muito datado dos anos 70”, diz Lopes. “Mas agora que a novela, em termos de escrita, já vai em velocidade de cruzeiro, comecei a ver a versão que saiu em DVD”, admite.
(Com Agência Estado)