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Yariv Mozer, diretor de documentário sobre Eichmann: “Matar era natural”

O israelense de 'A Confissão do Diabo' fala das fitas inéditas que revelam a natureza do carrasco nazista que inspirou a teoria da banalidade do mal

Por Amanda Péchy Atualizado em 26 ago 2022, 14h34 - Publicado em 26 ago 2022, 06h00
https://www.haaretz.com/israel-news/2022-05-23/ty-article-magazine/.highlight/eichmann-in-his-own-words-bring-in-the-idiots-and-throw-inside-hydrogen-cyanide/00000180-f6ca-d469-a5b4-f6fb96ff0000
MISSÃO - Mozer: “Devemos estar conscientes da escala que a maldade alcança” – (HAARETZ.COM/.)

Por que remexer a macabra história de Adolf Eichmann seis décadas após seu julgamento? A ideia do documentário surgiu quando me contaram algo fantástico: havia fitas desaparecidas em que o carrasco nazista falava abertamente sobre seu papel no Holocausto. Acabei as encontrando no arquivo do Estado alemão, em 2019, e logo soube que tinha um material de inestimável valor histórico nas mãos, que trabalhei em parceria com o KAN11, a MGM e o Sipurr.

Qual a razão para ele se expor depois de já ter escapado? Enquanto os grandes arquitetos do regime de Hitler eram julgados em Nuremberg, Eich­mann se escondeu na Argentina e, passados quinze anos, sentiu-se seguro para revelar sua identidade a colegas nazistas. Foi quando um jornalista holandês, da unidade de propaganda nazista, convenceu-o a conceder uma entrevista. Eichmann estava procurando o reconhecimento que não teve após a queda da Alemanha. Queria deixar, digamos assim, um legado.

Como essas fitas passaram tanto tempo em segredo? O tal jornalista holandês foi ameaçado por nazistas porque publicou um artigo com parte da entrevista. Eles acharam aquilo uma traição. Como um pedido de desculpas, ele deu então as gravações à família de Eichmann, nos anos 1990, que as vendeu. Passaram aí de mão em mão, até pararem no arquivo alemão. Tinham um dono e eu o convenci a cedê-las, dizendo que era judeu e as usaria com sabedoria.

O que as fitas contêm de mais horripilante? A certa altura, Eichmann afirma que a única coisa que lamentava era não ter completado seu trabalho. Queria ter matado 10,3 milhões de judeus. Parou em 6 milhões. Em outro momento, critica colegas julgados em Nuremberg por não assumirem a responsabilidade pelo que fizeram, um hipócrita, já que faria o mesmo quatro anos mais tarde. O tom blasé, de naturalidade, torna tudo pior.

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O depoimento de Eichmann em Jerusalém, onde foi enforcado, embasou a teoria da banalidade do mal de Hannah Arendt. Em que medida ele trata sua participação no genocídio de forma banal? No julgamento, ele sustenta que só fez o que fez porque cumpria ordens, como se isso suavizasse a barbaridade que pôs em marcha, gerenciando deportações em massa para os campos de concentração. Porém, na vida real, Eichmann agia como um devoto incondicional da ideologia nazista, para quem matar era natural.

Ser neto de sobreviventes do Holocausto o influenciou na decisão de produzir o documentário? Minha mãe e sua irmã não falavam sobre a história dos pais, e eu era muito jovem para ficar perguntando. Eu carregava essa lacuna vital. Talvez por isso tenha tido o desejo de produzir o filme. Faz parte da minha vida, da minha família. Foi uma missão que assumi.

A ascensão dos movimentos neonazistas o preocupa? Tenho medo, claro, mas também me preocupa as novas gerações não conhecerem bem um capítulo tão terrível. Precisamos estar conscientes da escala que o mal pode alcançar para nos prevenir dele.

Publicado em VEJA de 31 de agosto de 2022, edição nº 2804

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