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Venezuela: uma geração perdida

Prestes a reeleger Maduro, país alcança níveis dramáticos de pobreza e fome. As maiores vítimas são as crianças, que sonham com um prato de comida

Por Monica Weinberg Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 Maio 2018, 06h00 - Publicado em 19 Maio 2018, 06h00
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  • “EU SÓ QUERO IR PARA A ESCOLA” - Internado desde dezembro, José Luis Alcalema passa quase todo o tempo preso à cama, sem muito estímulo nem força para caminhar. Aos 12 anos, desnutrido, pesa 20 quilos — 2 ele perdeu no hospital, onde a refeição é minguada. Mas a curiosidade está intacta. “Os livros me salvam”, diz  (Cris Veit/.)

    Debruçada sobre o pequeno caixão do filho, a mãe sentiu um torpor no corpo, perdeu o controle dos movimentos e, amparada pelo marido, que trazia a mão apoiada no peito, como quem quer segurar os próprios pedaços, rompeu o silêncio com um grito: “Não vai, meu menino, não vai!”. O lamento de Elisa Nogueira, de 30 anos, fez eco na “sala da despedida” do Cemitério do Leste, em Caracas, a capital da Venezuela. Em meio ao luto, ela e o marido haviam tomado uma dura decisão: cremar o bebê. Preferiam o enterro, pela ideia de preservá-lo de algum modo, mas a cremação saía por um décimo do valor — e o restante do dinheiro serviria para a sobrevivência dos outros dois filhos, de 5 e 8 anos. Fizeram de tudo para evitar aquele desfecho. Quando o menino começou a ficar pálido, inerte no berço, correram a um, dois, três hospitais atrás de soro. Só no último conseguiram algum, mas a dose foi insuficiente. Às 11 horas de uma sexta-feira, aos 5 meses, morreu Mathias, desidratado e vencido por uma parada respiratória — saldo de uma desnutrição severa.

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    O drama de Mathias é digerido hoje na Venezuela como mais um: em 2017, a cada semana seis crianças morreram por falta de comida, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A fome, aliada à escassez de médicos e medicamentos, fez a taxa de mortalidade infantil voltar aos patamares dos anos 1950. Sim, no Brasil também há registros de crianças que sucumbem à desnutrição, mas eles não chegam nem perto dos números do país vizinho. A Cáritas, ONG ligada à Igreja Católica que produz o indicador desde 2016, concluiu que 65% das meninas e meninos venezuelanos entre zero e 5 anos apresentam sinais de má nutrição — no Brasil são 6%. Na Venezuela, 16% brigam com a desnutrição severa. No Brasil, 3%. Quem vive a rotina dos hospitais venezuelanos garante que o problema é ainda mais superlativo. “Os médicos têm medo de atribuir a causa dos óbitos à desnutrição para não ressaltar o horror da fome”, diz um médico do Hospital José Manuel de los Ríos. Com quase metade do peso adequado para seus 5 meses, Mathias morreu de “parada respiratória”.

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    Afundada na crise financeira e na falência da administração pública, que encontram na fome e na pobreza seu subproduto mais perverso, a Venezuela se prepara para a eleição presidencial neste domingo, 20. O clima poderia até ser de certo ânimo diante da possibilidade de alguma saída para o momento mais crítico pelo qual o país já passou — e olhe que a história venezuelana é recheada de tremores institucionais, déspotas e golpes. Mas o que se vê é uma população abatida, desesperançosa, cética do movimento que transcorrerá com roupagem republicana — voto popular e urna. Candidato à reeleição, Nicolás Maduro, que em 2013 assumiu a Presidência com a morte de Hugo Chávez, enfrentará dois nomes sem expressão — a oposição, em peso, preferiu se retirar do processo a dar legitimidade a um pleito feito para Maduro vencer. Já no aeroporto, a ruína democrática está estampada numa frase impressa por toda Caracas: “Aqui não se pode falar mal de Chávez”.

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