O ditador da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, foi reeleito nas eleições realizadas neste domingo, 9, com 79,7% dos votos, de acordo com as pesquisas de boca de urna. Segundo a agência estatal Belta, a candidata da oposição unificada, Sviatlana Tsikhanouskaya, alcançaria 6,8% dos votos, resultado distante do que os analistas previam.
A decisão já era esperada, já que Lukashenko, de 65 anos, é considerado o “último ditador da Europa” e tem histórico de interferência em eleições. No poder desde 1994, buscava um sexto mandato presidencial em uma eleição que pela primeira vez não contou com a presença de observadores ocidentais.
A Bielorrússia nunca foi governada por alguém que não Lukashenko. O ditador repercutiu na mídia nos últimos anos pelo seu negacionismo da pandemia da Covid-19, recomendando vodka e sauna no combate à doença.
Embora Tsikhanouskaya tenha reunido dezenas de milhares de pessoas em seus comícios, Lukashenko alegou que uma mulher não poderia ser presidente da Bielorrússia e negou a opositora fosse sua “principal rival”. De acordo com as pesquisas, a terceira candidata, a ex-parlamentar Anna Kanopatskaya, teria recebido 2,3%; Andrei Dmitriev, co-presidente do Movimento “Diga a verdade!”, 1,1%, e Sergey Cherechen, líder social-democrata, 0,9%.
Bloqueio da internet e prisões
O dia das eleições foi marcado pelo bloqueio da internet em todo o país, que a oposição considerou um estratagema para impedir a mobilização popular e uma contagem paralela dos votos. Apesar disso, a participação dos eleitores foi grande, com diversas filas nos colégios eleitorais, incluindo na embaixada da Bielorrússia em Moscou.
Durante a campanha, a KGB prendeu dois dos principais candidatos da oposição e um terceiro teve de ir para o exílio, além de mais de 1.000 detidos, entre ativistas, observadores e repórteres. Além do impedimento da realização de comícios em Minsk na semana passada, dez colaboradores de Sviatlana Tsikhanouskaya, incluindo seu diretor de campanha, foram presos, alguns nas últimas horas.
Diante de apelos às redes sociais para irem às ruas quando chegar o fim a votação, Lukashenko alertou que não permitirá um “Maidan”, referindo-se à revolução na Ucrânia, enquanto Tsikhanouskaya exortou todos os cidadãos, “civis e de uniforme”, para não recorrer à violência.
Em 2001, na primeira reeleição de Lukashenko, a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), entidade internacional que fiscaliza eleições no continente, denunciou “falhas fundamentais” no processo eleitoral, entre elas censura da mídia — a Bielorrússia ocupa a 153ª posição de 180 países no ranking de liberdade de imprensa feito pela organização Repórteres sem Fronteiras.
Casos de intimidação a opositores e de bloqueios arbitrários de candidaturas já aconteciam em 2001, segundo a OSCE. Nas últimas eleições parlamentares, em 2019, fiscais da OSCE relataram urnas fraudadas e, em alguns casos, foram explicitamente impedidos de checá-las. Na ocasião, todos os 110 assentos da câmara baixa do Parlamento foram conquistados por apoiadores de Lukashenko.
(Com EFE e AFP)