A procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova revelou que foram identificados 600 russos suspeitos de crimes de guerra e que o país já começou a processar 80 deles. A lista de suspeitos inclui “os principais militares, políticos e agentes de propaganda da Rússia“, disse Venediktova em entrevista coletiva em Haia.
Durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na semana passada, a procuradora já tinha informado que a Ucrânia estava investigando 13 mil soldados por crimes de guerra.
“Todas as evidências indicam que a elite militar e política russa recorreu incondicionalmente às brutais táticas de guerra da violência. Civis e instalações não-militares — incluindo hospitais, escolas e prédios residenciais — são alvos de uma forma generalizada e sistemática”, disse a autoridade ucraniana na ocasião.
O evento, que reuniu lideranças mundiais na Suíça, também foi marcado por protestos à invasão da Rússia, banida do encontro pela primeira vez desde o fim da União Soviética. A tradicional “Casa da Rússia”, uma das principais atrações da reunião anual, foi substituída pela “Casa dos Crimes de Guerra da Rússia”, instalação de artistas ucranianos em homenagem às vítimas do conflito.
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Nesta terça-feira, 31, Venediktova afirmou que Estônia, Letônia e Eslováquia decidiram se juntar a uma equipe de investigação internacional originalmente formada pela Ucrânia, Lituânia e Polônia para permitir a troca de informações sobre suspeitos de crimes de guerra e contra a humanidade.
“Devemos recolher e proteger as provas dos crimes que se tornarão evidências nos tribunais”, disse a procuradora, sugerindo que o apoio internacional é vital para a descobertas das irregularidades.
Autoridades dos seis países europeus estão trabalhando com o Tribunal Penal Internacional (TPI), que iniciou uma investigação própria no início de março. A instituição, sediada em Haia na Holanda, enviou uma equipe de 42 investigadores, especialistas forenses e pessoal de apoio para a Ucrânia.
O promotor do tribunal, Karim Khan, disse nesta terça-feira que o TPI está “trabalhando para abrir um escritório em Kiev”, capital ucraniana, para apoiar as investigações.
No início de maio, a Ucrânia iniciou julgamentos de soldados russos acusados de crimes de guerra. A primeira audiência resultou na condenação do russo Vadim Shishimarin à prisão perpétua pela morte de Oleksandr Shelipov, um civil de 62 anos, que estava desarmado. O soldado de 21 anos pediu perdão à viúva da vítima.
Na última quinta-feira 26, outros dois outros militares russos, Alexander Bobikin e Alexander Ivanov, foram presos por 12 anos por terem bombardeado uma cidade no leste da Ucrânia. Durante o julgamento, que foi transmitido ao vivo, ambos se declararam culpados do ataque.
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Os julgamentos têm enorme importância simbólica para Kiev, que afirma ter identificado mais de 10 mil casos de assassinatos e ataques de Moscou a civis ucranianos. A Rússia negou alvejar civis ou envolvimento em crimes de guerra durante o conflito, que o Kremlin define como uma “operação militar especial”.