O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, responsabilizou imigrantes na Europa pelo que descreveu incorretamente como “um aumento nos índices de violência na Alemanha e por uma mudança de cultura”, acrescentando que os Estados Unidos enfrentam “ameaças semelhantes”.
“O povo alemão está se voltando contra sua liderança à medida que a imigração abala a já tênue coalizão de Berlim. O crime na Alemanha está muito mais alto. Grande erro cometido em toda a Europa ao permitir a entrada de milhões de pessoas que mudaram tão fortemente e violentamente sua cultura”, disse Trump em publicação no Twitter.
Entretanto, os índices de criminalidade caíram bastante na Alemanha, com o Ministério do Interior do país reportando 5,76 milhões de infrações criminais em 2017, o número mais baixo desde 1992, levando à menor taxa de criminalidade da Alemanha em mais de 30 anos.
Muitos culpam a política de portas abertas de Merkel pelo crescimento do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que atualmente é a maior sigla opositora no Parlamento.
Mais de 1,6 milhão de imigrantes, em sua maioria muçulmanos fugindo de guerras no Oriente Médio, chegaram à Alemanha desde 2014.
No entanto, Trump tem ele próprio enfrentado críticas com relação às suas políticas migratórias. Ativistas de direitos humanos e membros de seu próprio partido, o Republicano, não concordam com a separação de pais e filhos na fronteira entre Estados Unidos e México, uma política destinada a impedir a imigração ilegal.
Merkel se compromete a buscar solução
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se comprometeu nesta segunda-feira (18) a buscar soluções para a crise migratória em escala europeia e bilateral no Conselho Europeu de 28 de junho e a entrar em consenso com a União Social-Cristã (CSU) bávara, que integra o bloco conservador que exige restringir a entrada de refugiados.
“Estamos de acordo em continuar trabalhando conjuntamente para atingir o objetivo de melhorar a gestão da política migratória e de reduzir a chegada de refugiados”, afirmou Merkel, para garantir que não apoiará “soluções unilaterais” em detrimento de outros parceiros comunitários.
A chanceler se pronunciou sobre a questão após as diferenças manifestadas nos últimos dias por seu ministro do Interior, Horst Seehofer (CSU), que em um pronunciamento quase simultâneo ao de Merkel insistiu em ameaçar fechar as fronteiras se não houver uma “solução europeia para a crise migratória”.
O ministro –e presidente da CSU– afirmou que seu partido “apoia toda solução europeia, todo esforço” de Merkel para chegar a acordos neste âmbito. No entanto, advertiu que, se não houver consenso na cúpula de líderes da UE no final de junho, aplicará controles restritivos nas fronteiras, pois a questão migratória não está “sob controle”. “Ou se atinge uma solução europeia, seja uma solução comum ou acordos com alguns países essenciais, ou será preciso agir em nível nacional”, afirmou.
A chanceler expressou sua intenção de manter negociações com seus parceiros europeus para fechar acordos bilaterais e destacou que para isso precisa de um “governo operante e um forte mandato”, que afirma ter recebido hoje da cúpula do seu partido.
Merkel antecipou que em 1º de julho fará consultas com seu partido em função dos resultados obtidos na cúpula do Conselho Europeu para continuar negociando com a CSU.
A chanceler insistiu que a CDU e a CSU –partidos que há décadas formam um grupo parlamentar comum e cuja cooperação está sendo seriamente ameaçada por suas diferenças dos últimos dias– “têm o objetivo comum de controlar e gerir melhor a imigração” e reduzir a chegada de requerentes de asilo à Alemanha.
Acrescentou que a CDU apoia a iniciativa de Seehofer de apresentar um plano sobre gestão da imigração. Ao mesmo tempo, lembrou que ambos os partidos defenderam conjuntamente o pacote de medidas legais em matéria migratória quando negociaram um acordo de coalizão com os social-democratas, afirmando que a CDU quer continuar trabalhando com a CSU.
Angela Merkel recebe hoje à noite seu colega italiano Giuseppe Conte, cujo país fechou seus portos a navios de ONGs que resgatam migrantes no Mediterrâneo. Roma bloqueou a rota do Aquarius e seus 630 náufragos, causando tensões europeias até a recepção do barco pela Espanha.
A chanceler ainda deve se reunir com o presidente francês, Emmanuel Macron, e com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, na terça-feira (19). Uma reunião de líderes europeus antes da cúpula da União Europeia também está prevista.
Merkel enfrenta crescente insatisfação da opinião pública, exacerbada por notícias — particularmente o recente estupro e assassinato de uma adolescente por um solicitante de asilo que chegou em 2015. Nesta segunda, também foi aberto o julgamento de um jovem refugiado afegão acusado de esfaquear fatalmente sua ex-namorada de 15 anos em um supermercado.
(Com EFE e AFP)