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Trump critica pressa para condenar sauditas por assassinato de jornalista

Americano defende presunção de inocência; jornal turco afirma que Jamal Khashoggi foi torturado e decapitado por agentes de Riad

Por Da Redação
Atualizado em 30 jul 2020, 20h06 - Publicado em 17 out 2018, 12h54

Apesar dos múltiplos indícios que apontam o envolvimento da Arábia Saudita no desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, o governo americano parece dar o benefício da dúvida ao país aliado.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu nesta quarta-feira ,17, a aplicação do princípio de presunção de inocência e afirmou que o Reino está sendo julgado “culpado até que seja provado inocente”.

Em entrevista à agência de notícias Associated Press, o americano criticou ainda “a pressa para condenar os sauditas”. Trump também comparou as acusações à Arábia Saudita com as que foram feitas ao seu indicado à Suprema Corte, o juiz Brett Kavanaugh, ao longo do processo para a aprovação do Senado.

“Acabamos de passar por isso com o juiz Kavanaugh, e ele era inocente até onde eu sei”, declarou o presidente americano, em referências às acusações de abuso sexual feitas contra o magistrado após sua indicação ao cargo.

Crítico do governo de seu país, o jornalista saudita Jamal Khashoggi, de 59 anos, apresentou-se no consulado da Arábia em Istambul, na Turquia, no último dia 2 de outubro para buscar os papéis de seu casamento. Não há registros de sua saída do prédio e, desde então, ele é dado como desaparecido. O governo turco suspeita que tenha sido assassinato justamente por fazer oposição ao regime saudita.

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Riad afirma que Khashoggi deixou o consulado no mesmo dia de sua visita e nega qualquer envolvimento no desaparecimento.

Tortura e decapitação

A imprensa turca ligada ao governo, no entanto, divulgou novas informações que apontam para a Arábia Saudita.

O jornal Yeni Safak diz que teve acesso a gravações de áudio que mostram que Khashoggi foi torturado durante um interrogatório e que os agentes sauditas cortaram seus dedos, antes de “decapitar” a vítima.

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Já o portal Middle East Eye afirma, com base em uma fonte que também teve acesso ao áudio dos últimos momentos do jornalista, que o assassinato demorou sete minutos.

A gravação indica que um médico legista, que integrava a equipe de quinze sauditas enviados por Riad a Istambul, começou a cortar o corpo de Khashoggi quando ele ainda estava vivo.

Um dia depois do desaparecimento do jornalista, articulista do jornal The Washington Post e crítico do príncipe herdeiro saudita Mohamed Bin Salman, fontes do governo turco afirmaram que ele foi assassinado por uma equipe de quinze agentes enviados por Riad.

As autoridades turcas revistaram na segunda-feira 15 à noite o consulado. A residência do cônsul saudita em Istambul, Mohamad Al Otaibi, também deveria ter sido inspecionada na terça-feira 16, mas a operação foi adiada depois que as autoridades sauditas pediram mais tempo para que sua família deixe o edifício.

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Al Otaibi, que segundo a imprensa turca estava presente no consulado durante o crime, viajou de Istambul para Riad na terça-feira.

Membros do entorno do príncipe

Um dos homens identificados pelas autoridades turcas como agente enviado a Istambul faz parte do entorno do príncipe saudita Bin Salman, segundo o jornal The New York Times.

O diário afirma que Maher Abdulaziz Mutreb acompanhou o príncipe em uma viagem aos Estados Unidos em março, assim como a Madri e Paris um mês depois. O New York Times menciona mais três suspeitos vinculados, por testemunhas e outras fontes, aos serviços de segurança do príncipe.

Um quinto homem, um legista identificado como Salah Al Tubaigy, ocupou cargos de alta responsabilidade no ministério saudita do Interior e na área médica, completou o jornal, ao afirmar que “uma personalidade deste nível só pode ser comandada por uma autoridade saudita de alta patente”.

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O NYT afirma ainda ter confirmado que “ao menos nove dos quinze (suspeitos) trabalharam para os serviços sauditas de segurança, o Exército ou outros ministérios”.

Relações de amizade

Riad é o maior aliado de Washington no mundo árabe e islâmico. Os Estados Unidos contam com o país para manter seus interesses geopolíticos na região – com, por exemplo, conter o Irã – assim como para preservar seus negócios na exploração de petróleo.

Nos últimos dias, Donald Trump tomou para si a tarefa de “porta-voz” da Arábia Saudita para a imprensa americana e internacional. Na segunda-feira, depois de conversar por telefone com o rei Salman, ele afirmou que o desaparecimento de Khashoggi “poderia ser o resultado de assassinos fora de controle”. Em outras ocasiões explicou que as autoridades árabes desconhecem o que se passou no consulado com o jornalista.

A busca de uma solução aceitável para ambos os lados – e igualmente para a Turquia – evitará ruídos na aliança estratégica entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita, que se reflete sobretudo no Oriente Médio.

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Trump chegou a ameaçar Riad com um “castigo severo” no último sábado. A Arábia Saudita prometeu, no domingo, responder com retaliações. Tudo o que os dois lados esperam neste momento é baixar esse tom de animosidade.

A imprensa americana informou na segunda-feira que a Arábia Saudita cogitava reconhecer a morte do jornalista durante um interrogatório no consulado.

De acordo com a CNN, Riad preparava um relatório com a explicação de que a operação foi realizada “sem autorização nem transparência” e que “as pessoas envolvidas seriam consideradas responsáveis”.

Ao mesmo tempo, o Irã, grande rival regional da Arábia Saudita, permanece em silêncio até o momento. Na segunda-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Bahram Ghassemi, se limitou a declarar que Teerã acompanha de perto os acontecimentos.

(Com AFP e EFE)

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