Em meio à escassez de combustível e uma duradoura crise econômica, agravada ainda mais pela pandemia de Covid-19, três em cada quatro venezuelanos vivem em situação de extrema pobreza, de acordo com um novo relatório apresentado nesta quarta-feira, 29. Segundo a Pesquisa Nacional de Condições de Vida 2021, coordenada pela Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), 94,5% da população venezuelana são pobres e 76,6% estão abaixo da linha da extrema pobreza, vivendo com menos de 1,2 dólar por dia.
A pobreza na Venezuela, palco de uma hiperinflação e em seu oitavo ano de recessão, cresceu 91,5% entre 2019 e 2020. A extrema pobreza, por sua vez, aumentou 67,7%.
Os números, no entanto, destoam dos divulgados pelo presidente Nicolás Maduro. Em prestação de contas à Assembleia Nacional, ele afirmou que 17% da população viviam na pobreza em 2020, e 4% na extrema pobreza.
De acordo com dados do Banco Central da Venezuela, o país fechou o ano de 2020 com uma inflação acumulada de 2.959,8%. Neste ano, entre janeiro e maio, ficou acima de 250%
Segundo a pesquisa, divulgada anualmente e baseada em entrevistas com 14.000 famílias entre fevereiro e abril, a paralização total provocada pela escassez de combustível não desapareceu nem mesmo com os envios de emergência feitos pelo Irã para Caracas. Além disso, os dados indicam que as medidas do governo contra a Covid-19 acabaram por agravar a recessão.
Embora tenha registrado poucos casos ativos em relação aos vizinhos, o país optou por medidas rígidas de controle, o que custou às crianças um ano e meio fora das salas de aula e afetou com força parte do setor produtivo. No país, vigora atualmente um sistema chamado “7+7”, com uma semana de restrições totais e outra de flexibilização.
Junto a isso, há também o fator da perda de mão de obra. Com a crise política, econômica e social chegando ao extremo durante a pandemia, houve uma intensificação da imigração de milhares de cidadãos. De acordo com a Organização das Nações Unidas, a Venezuela é o país do mundo que mais perdeu população nos últimos cinco anos.
“Copiar as medidas contra o vírus de países com contágios como os da América Latina, quando não os temos, reforçou a recessão”, diz o sociólogo Luis Pedro España, um dos pesquisadores do estudo.
No quesito desemprego, a pesquisa indica que já são 8,1 milhões de desempregados, equivalente a 30,3% da população. Entre 2014 e 2021, o emprego formal foi reduzido em 21,8%, o que significa 4,4 milhões de empregos a menos, 70% deles no setor público e 30% no setor privado.