Extratos de movimentações financeiras, obtidas pelo governo americano, confirmam que a Rússia ofereceu recompensas para o Talibã matar soldados americanos, durante ação do exército dos Estados Unidos no Afeganistão. Os ataques foram realizados em meio às negociações de paz, para encerrar a guerra no país.
A inteligência americana interceptou dados eletrônicos mostrando grandes transferências de uma conta bancária controlada pela agência de inteligência militar da Rússia para uma conta vinculada ao Taliban, informou o jornal The New York Times.
Os investigadores também identificaram os nomes dos afegãos que teriam recebido o dinheiro, incluindo o de um homem que teria atuado como intermediário na distribuição de parte dos fundos e que agora estaria na Rússia.
A obtenção de provas é mais um elemento nesse episódio que traz complicações para o presidente Donald Trump. Desde que a história veio à tona, a Casa Branca tenta minimizar o episódio alegando que não havia provas suficientes para informar o presidente do ocorrido. Trump chegou a declarar pelo Twitter que tudo não passaria de uma “farsa” russa e que o jornal americano estava “espalhando fake news”.
Vários fatos, no entanto, contrariam essa versão. Nos últimos seis meses, diversos empresários foram presos no Afeganistão por serem suspeitos de fazer parte de um grupo de intermediários que operavam entre a agência de inteligência russa, conhecida como GRU, e o Talibã. Na casa de um dos presos foi encontrado um milhão e meio de dólares.
A notícia desgasta o presidente americano no momento em que ele tem de lidar casos recordes de Covid-19, desemprego em alta e avanço do democrata Joe Biden, seu adversário nas eleições de novembro, nas pesquisas eleitorais. Senadores democratas tentam tirar proveito da situação. Informados sobre o relatório de inteligência, nesta terça-feira, os parlamentares disseram ser impossível que Trump não soubesse o que estava acontecendo. O Times revelou que o presidente recebeu o relatório da inteligência no final de fevereiro.
Cumprir a promessa de campanha de retirar as tropas americanas do Afeganistão em definitivo poderia recuperar parte da popularidade perdida, mas as revelações têm potencial para impedir o presidente americano de faturar politicamente com o fim da guerra. Cerca de 2.700 soldados americanos perderam a vida desde que os Estados Unidos invadiram o país, em 2001. Mil ainda restam no país. O que poderia ser um trunfo, já se tornou um problema para Trump.