Tentativas de amenizar fracassos na Ucrânia não convence mais os russos
Grupos pró-geurra criticam o Kremlin e os líderes militares à medida que as falhas se espalham pela mídia estatal do país

O governador de Kherson indicado indicado pela Rússia, Kirill Stremousov, disse nesta quarta-feira, 5, que a retiradas das tropas da região foi um “reagrupamento tático para dar um golpe de retaliação”, em tentativa de amenizar a derrota sofrida pela contra-ofensiva da Ucrânia.
“Amigos, eu sei que vocês estão esperando que eu comente sobre a situação. Mas eu realmente não sei o que te dizer. A retirada é catastrófica”, escreveu o correspondente de guerra, Roman Saponkov, em seu canal Telegram.
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A extensão do recuo russo ainda é incerta, mas em discurso à nação na terça-feira 4, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que seu exército está fazendo movimentos rápidos e poderosos no sul do país e nomeou oito cidades na região que foram recuperadas recentemente.
Em entrevista coletiva nesta quarta, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, tentou acalmar os ânimos ao dizer que todos os territórios estarão para sempre com a Rússia. No entanto, blogueiros e jornalistas pró-guerra do país vêm endossando as críticas ao governo pelo fracasso no conflito.
De acordo com eles, a falta de rotatividade e a exaustão do Exército pelas constantes falhas no sul da Ucrânia estão deteriorando a moral dos soldados russas, que não estão se mostrando capazes de manter os territórios conquistados.
No dia em que o presidente Vladimir Putin anunciou uma mobilização parcial para reavivar o confronto, os contratos dos soldados que já estavam em solo ucraniano também foram automaticamente renovados de maneira indefinida, negando uma rota de saída a todos aqueles que estão na guerra desde seu início, em 24 de fevereiro.
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“Recebemos centenas de pedidos todos os dias de soldados que querem encontrar uma maneira de cancelar seus contratos. A maioria dos soldados não fazia ideia de que estava indo para a Ucrânia quando a guerra começou. Eles esperavam sair assim que seus contratos expirassem. Agora isso simplesmente não é mais possível”, disse um advogado militar ao jornal britânico The Guardian.
A derrota na cidade de Lyman no final de semana já havia levantado críticas sobre várias lideranças militares do Exército russo. O líder checheno e forte aliado de Putin, Ramzan Kadyrov, chegou a dizer que a Rússia deveria tomar medidas mais drásticas, que incluem o uso de armas nucleares táticas.
As Forças Armadas até tentaram minimizar a retirada de Lyman como uma vitória que causou grandes baixas às tropas ucranianas, mas os últimos fracassos militares começam a se espalhar pela mídia russa.
“Avançamos metro a metro quando [os ucranianos] avançam aldeia por aldeia”, disse a principal apresentadora de televisão estatal do país, Olga Skabeyeva, a um funcionário administrativo de Luhansk, uma das quatro áreas anexadas pela Rússia.
Nem o anúncio de que 200.000 dos 300.000 reservistas já haviam sido convocados e estavam em 80 campos de treinamento aliviou os ânimos, principalmente depois que surgiram vídeos que mostram as condições precárias vividas nestes complexos militares.
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Em uma das filmagens, um grupo de soldados em Omsk são vistos pedindo às autoridades para garantirem o pagamento prometido pelo governo por participar da guerra.
“Estamos prontos para ir. Mas, por favor, ajude-nos, ajude nossas famílias”, disse um deles.
De acordo com um dos principais advogados de direitos humanos da Rússia, Pavel Chikov, pelo menos seis recrutas morreram desde o início da mobilização, tendo um deles se suicidado.