Suécia reabre caso de abuso sexual contra Julian Assange
Fundador do WikiLeaks já enfrenta processo nos Estados Unidos que pode levar a sua extradição
A Justiça da Suécia anunciou nesta segunda-feira, 13, a reabertura do caso de abuso sexual contra o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, preso no Reino Unido depois de passar sete anos refugiado na embaixada do Equador em Londres.
“Hoje decidi reabrir a investigação”, anunciou Eva-Marie Persson, procuradora adjunta, antes de afirmar que solicitará que Assange “seja entregue à Suécia mediante uma ordem de detenção europeia”.
Assange foi preso em 11 de abril pela polícia britânica na embaixada equatoriana, após o governo de Lenín Moreno suspender o asilo concedido ao jornalista. Os Estados Unidos já pediram a extradição do fundador do WikiLeaks.
“Como Assange está preso na Grã-Bretanha, estão reunidas as condições para sua entrega (à Suécia), o que não era o caso antes de 11 de abril”, afirmou Persson.
O jornalista australiano é investigado por violação e agressão sexual de duas mulheres, cujas identidades não foram reveladas. Os fatos teriam ocorrido durante uma visita de Assange a Estocolmo, em agosto de 2010.
O fundador da WikiLeaks sempre alegou que ambos os encontros tinham sido consensuais, negando as acusações e dizendo que faziam parte de uma campanha contra ele.
O advogado de Assange, Per E. Samuelsen, afirmou à TV sueca SVT que foi surpreendido pela decisão. “Não entendo os motivos da promotoria sueca para reabrir um caso de dez anos atrás”, afirmou.
A decisão foi tomada após pedido feito pelo advogado de uma das vítimas.
Novela judicial
O anúncio de Estocolmo é um novo capítulo da novela judicial que dura quase uma década. Mesmo antes de sua prisão em Londres, os apoiadores do jornalista denunciaram uma manobra para provocar sua extradição aos Estados Unidos para que responda pela divulgação de documentos secretos americanos pelo WikiLeaks.
O australiano é acusado de envolvimento no vazamento, em 2010, de mais de 90.000 documentos confidenciais relacionados a ações militares de Washington no Afeganistão e cerca de 400.000 documentos secretos sobre a guerra no Iraque.
Antes de ser investigado nos Estados Unidos, Assange já era alvo da Justiça da Suécia. Foi para evitar sua extradição ao país que o jornalista buscou refúgio em 2012 na embaixada do Equador em Londres, onde viveu por sete anos.
Na ausência do australiano e sem capacidade para avançar com a investigação, a Justiça sueca arquivou o caso em maio de 2017. Ainda assim, contudo, o jornalista permaneceu na sede diplomática por temer a investigação dos Estados Unidos.
A decisão da Justiça sueca de solicitar uma ordem de detenção europeia levantará a questão sobre qual solicitação de extradição deve ter precedência: a da Suécia ou dos Estados Unidos.
No início de maio, o jornalista foi condenado a 50 semanas de prisão por um tribunal londrino por ter violado em 2012 as condições da liberdade condicional impostas pela Justiça do Reino Unido sobre a ordem de extradição à Suécia.
Após o anúncio desta segunda, o Wikileaks afirmou que a reabertura do caso permitirá a Julian Assange “limpar seu nome”.
O jornalista islandês Kristinn Hrafnsson, porta-voz da plataforma que divulgou milhares de documentos confidenciais, afirmou em um comunicado que que houve “pressão política” na Suécia para a reabertura do caso.
(Com AFP)