A Coreia do Sul tem mais de 5.200 casos de coronavírus, a maior concentração fora da China, e o número de mortos no país chega a 32 nesta quarta-feira, 4. Enquanto luta para conter a epidemia, o governo responsabilizou o líder religioso Lee Man-hee e sua igreja Shincheonji por contribuir para a disseminação do surto ao se recusar a fornecer uma lista completa de seus membros.
Lee fundou sua Igreja de Jesus de Shincheonji (“novo céu e nova terra”, em português), em 1984. Em seus sermões, ele prometia “o fim do mundo dominado pelo crime e da corrupção e uma nova era”.
De acordo com o jornal americano The New York Times, durante a última semana, centenas de membros da igreja cristã permaneceram incomunicáveis, dificultando os testes conduzidos por autoridades de saúde. Acredita-se que eles tenham se infectado e, depois, viajado pelo país sem serem detectados. A polícia usou o GPS de smartphones e dados de cartão de crédito para rastrear os membros da seita.
Com pelo menos 73% dos casos conectados à instituição, segundo a emissora britânica BBC, as principais cidades da Coreia do Sul, incluindo a capital, Seul, pediram aos promotores de Justiça que investigassem Lee por possíveis acusações criminais, incluindo “assassinatos por negligência dolosa”.
Na segunda-feira 2, Lee afirmou sentir remorso por tantos pacientes estarem ligados à sua igreja, mas negou que suas ações contribuíram para a epidemia. Completou que a Shincheonji cooperou com o governo da melhor maneira possível.
“Ofereço minha palavra de um profundo pedido de desculpas ao povo”, disse Lee em coletiva de imprensa, ajoelhando-se e curvando-se no chão. Foi um contraste em relação à mensagem da semana passada, quando ele atribuiu a epidemia ao “mal que ficou com ciúmes do rápido crescimento de Shincheonji”.
Corona-culto
Lee afirma ser a segunda vinda de Jesus Cristo e se identifica como “o pastor prometido”, figura bíblica que leva consigo 144.000 pessoas ao céu. A Shincheonji é uma das seitas religiosas que mais crescem na Coreia do Sul, com mais de 245.000 seguidores.
Críticos da igreja a deslegitimam como uma comunidade cristã séria. Segundo seu fundador, existe muita discriminação contra o grupo, e a ação de autoridades da saúde contra a Shincheonji e seus membros é parte de uma “caça às bruxas”.