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Robert Mugabe, ditador do Zimbábue por 37 anos, morre aos 95

Vitorioso na Guerra da Rodésia, Mugabe governou o país desde então até ser destituído por um golpe em 2017. Ele morreu em Singapura, de causa não divulgada

Por Da Redação Atualizado em 6 set 2019, 07h37 - Publicado em 6 set 2019, 03h09
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  • O ex-ditador do Zimbábue Robert Mugabe morreu aos 95 anos, anunciou em sua conta no Twitter nesta sexta-feira, 6, o atual líder do país, Emmerson Mnangagwa.

    O ex-mandatário, que governou o país africano com mão de ferro entre 1980 e 2017 e afundou sua economia, renunciou em novembro 2017, sob pressão do Exército e após acusações de envolvimento em esquemas de corrupção.

    “Mugabe foi um ícone da libertação, um pan-africanista que dedicou sua vida à emancipação e capacitação de seu povo. Sua contribuição para a história de nossa nação e continente nunca será esquecida, que sua alma descanse na paz eterna”, declarou Mnangagwa.

    O ex-ditador morreu em um hospital de Singapura, onde passava temporadas por razões médicas, de acordo com o governo da África do Sul. Até o momento não foram divulgados detalhes sobre as circunstâncias da morte.

    Robert Mugabe é considerado por muitos um herói da independência do Zimbábue, pois liderou um movimento de resistência durante a Guerra da Rodésia, que durou de 1964 até 1979, e tirou do poder um governo de minoria branca.

    Com a vitória na guerra, Mugabe assumiu o poder como primeiro-ministro e mudou o nome do país de Rodésia para Zimbábue. Mais tarde, seu cargo mudaria para presidente, mas seguiu no governo do país de forma ditatorial até 2017, quando foi destituído por um golpe militar em meio a uma grande crise humanitária e econômica, marcada pela hiperinflação.

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    ‘Reconciliação’

    Quando assumiu o comando do país em 1980, que deixara de ser a Rodésia, uma colônia britânica que era governada pela minoria branca, seu discurso sobre a reconciliação e a unidade rendeu vários elogios no cenário internacional. “Ontem vocês eram meus inimigos, hoje são meus amigos”, disse o ex-comandante de guerrilha.

    Mugabe ofereceu ministérios importantes a brancos e inclusive autorizou que o líder da minoria, Ian Smith, permanecesse no país.

    O revolucionário Mugabe, repleto de diplomas, era visto como um governante modelo. Em 10 anos, o país avançou a passos de gigante: construção de escolas, de centros médicos e de novas casas para a maioria negra. Mas o brilho inicial não demorou a desvanecer.

    Pária

    Em 1982 enviou o Exército à província de Matabeleland (sudoeste), terra dos Ndebele. A repressão, brutal, provocou quase 20.000 mortes.

    Na década de 2000, os abusos contra a oposição, fraudes eleitorais e especialmente sua violenta reforma agrária transformaram Mugabe em um pária internacional.

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    Destinada em grande medida a aplacar os irritados veteranos de guerra que ameaçaram desestabilizar seu governo, a política de reforma agrária destruiu o setor agrícola crucial, provocou a fuga dos investidores estrangeiros e contribuiu para afundar o país na miséria.

    “Mugabe não era humano (…) Alguém poderia admirar suas habilidades e seu intelecto, mas ele era uma pessoa horrível e pouco confiável”, declarou o ex-ministro britânico das Relações Exteriores Peter Carrington à biógrafa do ex-presidente, Heidi Holland.

    Nas últimas décadas de seu mandato, Mugabe assumiu o papel de antagonista do Ocidente. Com uma retórica virulenta, ele responsabilizou em seus discursos as sanções ocidentais pela aguda crise econômica de seu país, embora as medidas afetassem ele e seus colaboradores e não toda a economia.

    “Se as pessoas dizem que você é um ditador (…) você sabe que elas estão dizendo isso simplesmente para manchar e prejudicar seu status, então você não deve prestar muita atenção”, afirmou em 2013 em um documentário.

    O tema da sucessão foi um tabu por várias décadas, mas depois que Mugabe completou 90 anos a elite no poder iniciou uma luta implacável.

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    Seu governo também foi atingido por diversos escândalos de corrupção. Mesmo após sua renúncia, Mugabe ainda era investigado pelo desaparecimento de 15 bilhões de dólares (55 bilhões de reais) durante sua administração, devido à corrupção e ao contrabando de diamantes.

    Grace, sua segunda esposa, uma ex-secretária 41 anos mais nova que Mugabe e que aspirava sucedê-lo, mas que foi suspensa pelo partido Zanu-PF, afirmava que o marido acordava antes do amanhecer para fazer exercícios.

    Mas nos últimos anos Mugabe sofreu algumas quedas em público. Em uma ocasião pronunciou o discurso errado para a sessão inicial do Parlamento.

    Desde sua renúncia, o idoso com saúde frágil fez poucas aparições públicas. De acordo com a imprensa do Zimbábue, Mugabe fez diversas viagens médicas a Singapura, cidade-Estado que visitou muitas vezes nos últimos anos.

    Um católico marxista

    Mugabe, nascido em 21 de fevereiro de 1924 em uma família católica na missão de Kutama, ao noroeste de Harare, foi descrito como um menino solitário e estudioso, que sempre estava com um livro na mão, mesmo quando cuidava do gado.

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    Depois que seu pai abandonou a família quando ele tinha 10 anos, permaneceu concentrado nos estudos e obteve a formação de professor.

    Inicialmente se identificou com o marxismo e durante o período de estudante na Universidade de Fort Hare, na África do Sul, conviveu com muitos dos futuros líderes sul-africanos.

    Depois de dar aulas em Gana, onde foi muito influenciado pelo presidente e fundador do país, Kwame Nkrumah, decidiu retornar à Rodésia, onde foi detido em 1964 por suas atividades políticas. Passou 10 anos na prisão.

    Seu filho de quatro anos, de seu primeiro casamento com a ganesa Sally Hayfron, morreu quando estava na prisão. O líder da Rodésia, Ian Smith, impediu que ele comparecesse ao funeral.

    Após décadas no poder, a oposição a Mugabe começou a ganhar força. “Sua verdadeira obsessão nunca foi a riqueza pessoal, e sim o poder”, declarou o biógrafo Martin Meredith.

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    “Ano após ano Mugabe permaneceu no comando por meio da violência e da repressão, atacando os opositores políticos, transgredindo os tribunais, pisoteando nos direitos de propriedade, suprimindo a imprensa independente e manipulando as eleições”, explicou.

    (Com AFP)

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